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Mostrando postagens de 2007
Baudelaire Jaldes Reis de Meneses I Através de uma baforada de ópio ou no doce verde do haxixe, Em um quarto escuro de Hotel, no século XIX, em Paris, Sentiu um fugidio instante de felicidade. Mas o vinho, o ácido Favorito dos realistas, fez Baudelaire abandonar os lençóis da cama E retornar à multidão. A revolução é uma festa de pão, rosas e cravos. Outrossim, o querubim pode ser um anjo demoníaco disposto a preparar Uma peça no poeta. O querubim prefere os paraísos artificiais, Pois nestes sequer habita a utopia, somente a satisfação. II Nunca mais, nunca mais, nunca mais, Baudelaire Abandonará o seu corvo noite adentro. Nada lhe orla a sombra Doravante, perfume, rubi, diamante, somente a sua nula Magreza nua de heroísmo. Sequer o vinho, antigo companheiro de jornadas, Irriga-lhe o sangue. Por outro lado, o pó branco das papoulas Sabe aureolar a fugacidade. O brilho das ampolas Ilumina a beleza das passagens de Paris. Sem revolução, o lirismo refugia-se junto ao ócio. III Flores ador
A Greve Francesa Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação de História e Serviço Social (UFPB). e-mail: jaldesm@uol.com.br Paris, maio/1968, Paris, novembro/2007, tão perto, tão longe. No movimento do século passado, tínhamos a circunstância da irrupção de surpresa de um protesto juvenil, nascido nas Universidades, que se espalhou como um barril de pólvora para muito próximo de uma classe operária fabril compacta, massiva e sindicalizada. Mais ainda: a aliança entre operários e estudantes estava acompanhada de um audacioso projeto de emancipação social e humana – a imaginação histórica estava funcionando a pleno vapor –, no qual os intelectuais tiveram um papel de destaque, sem comparação em nenhum movimento político recente, na Europa ocidental. Não devemos fantasiar 1968, até porque tínhamos a outra face da moeda, afinal vitoriosa. Do ponto de vista político, rememorando as melhores tradições bonapartistas francesas, tivemos a atuação do General de Gaulle, que
Adeildo Vieira Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e Serviço Social (UFPB). e-mail: jaldesm@uol.com.br coluna: http://www.wscom.com.br/ Antes de comentar o show de Adeildo Vieira (Chega Junto), duas palavras sobre o ambiente, o Teatro Santa Rosa superlotado, no auditório e nos camarotes (terça-feira, 06/11), para assistir ao vivo músicos paraibanos. A primeira palavra. Como é belo o Teatro Santa Rosa, um salão inteiro recoberto de pinho de Riga e aquele palco italiano mágicos, de tantas histórias. O Teatro parece uma nave, todas as vistas convergem para o fundo do palco, arquitetura pensada pelos italianos no começo da modernidade, com o fito de exibir a ópera. Reparem que não se trata mais da estrutura da “agora” grega nem o círculo de inspiração medieval do “Globe Theatre” shakespeariano, onde havia um envolvimento do espectador de tipo mais direto, corporal, mas de algo diverso. Na era burguesa, como gostavam de escrever todos os grandes inte
Tropicalismo Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e Serviço Social (UFPB). e-mail: jaldesm@uol.com.br . coluna: http://www.wscom.com.br/ Neste mês de outubro que chega ao término, uma das efemérides comemoradas, junto com a paixão e morte de Che Guevara e a revolução russa, são os quarenta anos do tropicalismo. Entre o outono e a primavera do recuado ano de 1967, no auditório da Rua da Consolação (SP), quando do terceiro festival da canção da Record, eram classificadas, sob aplausos e vaias, duas canções repletas de inovação em arranjo, instrumentação e atitude, hoje clássicos do cancioneiro brasileiro: “Domingo no Parque” (Gilberto Gil e “Os Mutantes”, segundo lugar) e “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso e os Beat Boys, quarto). O primeiro lugar coube a uma canção que, se bem que musicalmente densa, seguia os cânones da MPB da época: a bela toada modal Ponteio (Edu Lobo e Capinam, Marilia Medalha e Momento 4). Guitarras elétricas ou uma suposta t
Mário Quintana Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e Serviço Social (UFPB). e-mail: jaldesm@uol.com.br coluna: http://www.wscom.com.br/ No turbilhão de leituras sobre política, filosofia e história no qual me assoberbo no cotidiano, uma pequena nota escondida publicada numa das páginas da revista “EntreLivros” (outubro) me despertou a curiosidade: o resultado de uma enquete realizada na internet pela editoria da revista com a seguinte e audaciosa pergunta: - qual foi o grande poeta brasileiro do século XX? Numa lista de cinco grandes poetas, a eleição coube ao gaúcho de Alegrete Mário Quintana, seguido, em um resultado equilibrado, de Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira (empatados), e João Cabral de Melo Neto. Caso a lista fosse entre críticos especializados em literatura, conjeturo que jamais Quintana venceria uma enquete, até diria que a disputa recairia sobre Drummond e João Cabral, talvez Bandeira (certamente Vin

Tropa de Elite, Benjamin, Tarantino

A questão surgiu de um debate em sala de aula. Estou “armazenando” aqui no blog, visando desenvolvimento posterior, senão esqueço, quase inevitavelmente. Discutia com alunos um texto manjado, embora bastante legal, de Walter Benjamin (A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica), e surgiu a seguinte digressão, por mim lançada à reflexão dos alunos: tomemos o conceito de “valor sacral” em Benjamin. Para o crítico alemão, a obra de arte no passado tinha um valor sacral, vindo da “aura” imanente a ela, significando a propriedade advinda de seu caráter individual e irreprodutível. Dessa maneira, a “aura” era o último refúgio da religião em arte; nos tempos modernos em diante, porém, com as técnicas de reprodução (a Mona Lisa pode ser estampada em qualquer camisa), a arte foi se dessacralizando. Deixemos o otimismo de Benjamin de lado. O fato é que, de maneira diversa do passado, persistem elementos de culto, hoje, na fruição artística. Há, por exemplo, um “culto sacral” da violência
Tropa de Elite Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e Serviço Social (UFPB). e-mail: jaldesm@uol.com.br . Blog: http://jaldes-campodeensaio.blogspot.com/ O SUCESSO do filme Tropa de Elite começou como contravenção: a distribuição e venda no mercado negro de milhões de cópias piratas, cada uma delas sintoma de uma doença mais grave: o aumento exponencial da ilegalidade no Brasil, a nossa definitiva emersão em um capitalismo de tipo mafioso, nos melhores moldes russos, mexicanos e colombianos. Encontramo-nos no limiar da consolidação de uma estrutura de longo prazo: na vigência de deterioração de um Estado Democrático de Direito, passa a valer a cruel realidade de um Estado pré-Hobbesiano, carregado de “zonas liberadas” a soldo de tiranetes locais. Triste sina: atravessamos o umbral civilizatório da coerção legítima, do contrato social que instituiu aquilo que Max Weber (autor clássico da sociologia alemã) intitulava de “monopólio
Travessuras, de Carlos Anísio Jaldes Reis de Meneses. Professor do Departamento de História da UFPB. e-mail: jaldesm@uol.com.br blog: http://jaldes-campodeensaio.blogspot.com/ Compositor de trilhas sonoras para teatro e balé, maestro, arranjador, produtor, musicólogo, professor, e agora, descobrimos, um cantor de voz grave, Carlos Anísio acaba de lançar um disco – Travessuras – com dez canções infantis de sua pena musical. Abre-se a lona de um circo repleto de simbolismos. Parafraseando a singela apresentação de Eleonora Montenegro, na parte interna do CD, a partir do aproveitamento de motivos principalmente circenses, Anísio convida-nos a uma viagem, pelas mãos de um personagem, o “Palhaço Chulé” e seus amigos, todos dotados de mimetismo, uma propriedade que ao mesmo tempo individualiza e naturaliza, o “Urso Guloso”, o “Índio Curumim”, o “Elefante”, entre outros. Ao contrário do camaleão, cujo processo de mimetismo é orgânico, o dos humanos precisa dispor ao seu alcance da experiência

Mário Quintana

Ao ler a revista EntreLivros de outubro (estampada com uma caricatura de Machado de Assis na capa), me despertou curiosidade uma enquete virtual, organizada durante o mês de setembro pela editoria da revista, com a seguinte pergunta: qual o grande poeta brasileiro do século XX? A reposta não deu outra: o gaúcho Mário Quintana. Em segundo lugar, pode-se dizer em empate técnico, veio o favorito da crítica, Carlos Drummond de Andrade, seguido de João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes. Minha lista pessoal seria mais ou menos a mesma, inclusive incluiria Vinicius, um poeta genial, especialmente em seus sonetos mais conhecidos. Apenas excluiria Mário Quintana. Não levo enquetes a sério, mas funcionam como sintoma: ponho-me a pensar o que faz Quintana ser o favorito na preferência do público leitor de poesia, mesmo circunstancialmente. Também não vou ficar tirando onda, no Olimpio, dando uma de ridículo, falando que o público não entende de poesia. Nada disso. A César

Cê "Ao Vivo"

Recebi pelo correio "Cê ao vivo", de Caetano Veloso. Todas as canções são conhecidas, repetindo a tática mercantil de Caetano em lançar um disco ao vivo no ano subseqüente à aparição do que deu base ao show. Alguns "ao vivo" ficaram melhores do que os de gravação em estúdio. Caso de típico de "Noites do Norte, ao vivo", para mim um dos melhores momentos de Caetano, e também um CD quase didático, pois resume as idéias estéticas, bastante ricas e inovadoras (ainda escrevo, em breve, um artigo sobre este belo disco) do compositor baiano sobre o que chama, ele, de "evolução da música brasileira" - uma idéia produtiva, interessante, porém sujeita a ventos e tempestades. Cê (o gravado em estúdio, e não este, ao vivo) é um dos meus discos favoritos de Caetano, compositor pelo qual nutro uma afeição pessoal e emotiva muito grande (detesto tietagem e procuro preservar o espírito crítico, sempre que possível), mas fui descobrindo a afeição aos poucos. Expl
Fidelidade Partidária: O Brasil entre a estabilidade econômica e a crise institucional permanente (I) Perguntam-me sobre a decisão de ontem (04/10) do Supremo Tribunal Federal, que reiterou o princípio já votado em março pelo TSE: o cargo eletivo no sistema partidário brasileiro, é do partido e não propriedade do parlamentar, à primeira vista, assentando alguma regra de estabilidade na bagunça. Melhor como vai ficar do que como estava. Entretanto, nem tanto ao mar nem tanto a terra. Como de costume na tradição brasileira à conciliação nas camadas superiores, a decisão dos ministros do Supremo, aprovou um princípio (a fidelidade); porém, ato contínuo, concedeu uma espécie de anistia branca, decidindo que só haverá possibilidade de processo dos partidos prejudicados pelo troca-troca partidário nos casos ocorridos depois de 27 de março, data da consulta ao TSE, e mesmo assim após de um demorado processo de provas e contra provas. Em resumo, ninguém terá o mandato cassado. Sequer fa

Enigma

Nasci no mesmo dia em que Getúlio Vargas, general gaúcho, amarrou o seu cavalo no obelisco de uma praça pública do Rio de Janeiro. Qual o significado disso?

Boaventura de Sousa Santos

Fizemos, eu e Cida, a entrevista seguinte com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, há precisamente um ano. Em seguida, a entrevista foi publicada na revista acadêmica “Serviço Social e Sociedade” (São Paulo: Cortez, 89, março/2007, p. 177-189). A entrevista não requer preâmbulos longos, tanto porque Boaventura talvez seja, depois de José Saramago, o intelectual português mais conhecido no Brasil como já a acompanha uma apresentação. Embora sucinta, a entrevista é bastante rica, creio. No momento, chamo a atenção do leitor para o conceito de “fascismo social” esposado na entrevista, quando há um debate em torno do sucesso do filme “Tropa de Elite” (um sucesso estranho, clandestino, com base na reprodução de milhões de cópias piratas, cada uma delas, índice do aumento exponencial da ilegalidade no Brasil), louvando as ações de violência de um batalhão especial da polícia do Rio de Janeiro. Na deterioração de um Estado Democrático de Direito, a cruel realidade de um Estado pré-hobbesia
Jaiel de Assis Tenho um grande carinho por muitas figuras humanas, pessoas as quais perdi contacto, muitas das quais retornei pela internet. Uma delas, Jaiel de Assis, uma pessoa importante na música paraibana dos idos dos anos 70, junto com Pedro Osmar, Ivan Santos, Paulo Ro, Aranha, Zé Ramalho, etc. Jaiel tem uma origem meio ambígua entre o Roger e Jaguaribe, mas, enfim, um cara importante e meio esquecido (ou não?) na esquecida trajetória da música popular na Paraíba. Recordo principalmente (por que recordo disso?, tenho memória de cão, da comemoração de um ano novo, creio em 1978 - quase trinta anos e parece que foi ontem -, tinha 18 anos, na qual Jaiel apontava um novo futuro pra o Brasil, a sociedade brasileira, o mundo. Me impressionou). Eu já exercitava umas teses pela esquerda nessa época em Jaguaribe, participando e às vezes desconfiando do vanguardismo do Jaguaribe Carne, que vi nascer na origem mais remota, mas também polemizava, meio como um advogado do diabo. Acompanhava

Guy Debord:

"O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens". In: DEBORD, Guy. A sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, p. 14.
Eleonora e a nave Belo, o Teatro Santa Rosa, aquele salão inteiramente recoberto de pinho de riga, aquele largo palco italiano de tantas histórias. Tive esses pensamentos, reconheço, nada originais, no espetáculo de lançamento do novo disco da cantora e compositora Eleonora Falcone. Eleonora estava em casa, ela se adapta ao palco (“Eleonora e a nave”: a sonoridade de um verso). Nem todas as cantoras conseguem dominar o palco de um teatro. Por outro lado, fiquei, de alguma maneira, macambúzio, por uma intuição que comentei com Cida e alguns amigos: creio que as pessoas estão se “desacostumando” com a forma do espetáculo musical em teatro; com cenário, conceito e atenção concentrada na audição. Hoje, predomina em música, a audição no ginásio, em bar, em praça pública, tudo isso em geral ligado a muita bebida e dança. O bar, o ginásio, a praça pública, desconcentram. Trata-se de uma perda estética, uma regressão da audição. O processo já começou há muitos anos com a impaciência geral para

Hai-kai e kai-quase (IV)

A grande questão, no fundo, é a seguinte: o que realmente importa não é, precisamente, a forma fixa, mas o que fazemos dela, um pouco parafraseando Sartre. Ou seja: a questão fundamental não é o que o hai-kai é, mas o que fazemos dele. Tenho uma cisma com dois extremos: tanto o que se adequou pacificamente à forma fixa como o que desconhece a rica tradição da poética, a maneira pela qual as formas poéticas foram aparecendo e se impondo como tradição. Nos dias atuais, percebo que começam a aparecer, entre novos poetas e alguns já rodados, um conjunto de maneiras, algumas ricas e outras nem tanto, de lidar com a tradição e a inovação. São dois os extremos: quem se satisfaz com a tradição e quem a desconhece. Há um fundo comum entre as duas situações: a exaustão do discurso da vanguarda, que gerou uma saudável liberalização, mas ao mesmo tempo uma circunstância de convivência, em espaços alternados, tanto de formalismo como de vale tudo. A propósito de um dos que se satisfaz com a tradiçã