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Mostrando postagens de 2011

2011: a política das ruas

Jaldes Reis de Meneses A revista semanal americana de maior tiragem, a Time – formadora da opinião do homem médio dos Estados Unidos –, lançou nas primeiras décadas do século passado uma escolha que em seguida fez fortuna na imprensa mundial: as indefectíveis listas jornalísticas das “personalidades do ano”, cujo primeiro lugar em geral é ocupado por chefes de Estado, líderes religiosos, artistas ou até personagens mundanos da sociedade do espetáculo. Em 2011, relevando certo “espírito de tempo” (o elogio do conformismo, da não-participação), a escolha foi diferente. Havia um precedente. Somente por duas vezes, em vez de um personagem individual, um solidário indivíduo de carne e osso, a escolha da Time recaiu sobre um personagem coletivo. Em 1954, o escolhido foram as massas participantes da revolução húngara dos conselhos, dizimados pelas tropas do Pacto de Varsóvia. E, novamente, agora, neste formidável ano de 2011, chegou a hora do The Proteste

A política da dose de uísque

Jaldes Reis de Meneses Quanto mais uma sociedade realizar reformas mais ela se aproxima da revolução. A frase é de Alexis de Tocqueville, nas palavras finais de “O antigo regime e a revolução” (1856), obra clássica do pensamento moderno. Como se deduz facilmente, um dos sentidos da frase de Tocqueville é uma contradita ao pensamento convencional de que a as concessões, o atendimento das reivindicações, necessariamente conduz ao apaziguamento dos conflitos. O segundo sentido é mais sofisticado: as reformas abrem o caminho das revoluções por que o seu resultado possibilita o aparecimento de novas forças sociais com vocação de hegemonia política. Trato neste artigo do primeiro sentido de Tocqueville. O resultado da reforma nem sempre é concertar a paz. Política é primariamente (prestem a atenção na carga simbólica deste advérbio), como o sabiam pensadores distintos como Nietzsche ou Gramsci, uma relação de forças, uma espécie de queda de braço, muitas vezes trágica, entre dois contendores

Europa

Jaldes Reis de Meneses Para entender melhor o que está acontecendo na Europa é preciso se afastar um pouco das tertúlias do dia a dia e conhecer a história. Quando, hoje, os chefes de Estado da França e da Alemanha, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, apesar das diferenças internas, finalmente apertam as mãos e estabelecem uma única proposta (união fiscal, imposto sobre operações financeiras, auxílio em dinheiro para estancar a crise de liquidez dos bancos, etc.) aos demais parceiros da União Européia, eles repetem o mesmo incerto e surpreendente gesto que fizeram Robert Schuman e Konrad Adenauer, sob as bênçãos dos Estados Unidos e desconfianças da Inglaterra, entabularam um processo de negociacoes que culminou, no remoto ano de 1951, na criação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço, através dos protocolos do Tratado de Paris, base da futura União Européia. Desde então, França e Alemanha, esqueceram a história do século XIX, o acordo de Versalhes (1918), as disputas territoriais da

Nordeste Político

Jaldes Reis de Meneses Artigo publicado originalmente na revista Nordeste (setembro/2011). Desde a aparição do primeiro exemplar, em 2006, a revista Nordeste tem acompanhado (nos tempos do antigo Repórter Esso dir-se-ia tem sido “testemunha ocular da história”) um dos momentos fundamentais de viragem da vida política do nordeste brasileiro e será, com certeza, daqui por diante, uma fonte inestimável ao trabalho dos historiadores no futuro. Encerramos um ciclo político e começamos outro: pela via do sufrágio eletrônico universal, o conteúdo da composição do voto nos grandes centros urbanos foi se aproximando e engolfando o mundo rural. Uniformizamos mais nossas escolhas e preferências, as oscilações de opinião pública e os movimentos de sociedade civil começaram a sobrepujar em definitivo as estruturas atávicas do patrimonialismo, este persistente rebento originário do regime familiar da economia política patriarcal narrada por Gilberto Freyre em Casa Grande&senzala. Ensina-nos ind

Amy/Werther (segunda versão)

Jaldes Reis de Meneses Aconteceu naquela noite: O coração de Werther retornou E enlaçou o outro coração crepuscular. Werther faz questão de retornar Quando chamado, seja aos céus e à lua, À paisagem bucólica de um pasto Campestre alemão ou um pub londrino. A névoa da madrugada é igual. Em todo lugar a névoa abraça. Passam os tempos, passam as horas, Tudo é igual, Amy se vai, mais uma Amy se foi. Werther acorda Do pesadelo de coração fechado – Pois as horas não transcorrem normais Quando morremos: as horas despassam A morte e mais alguma coisa de nada. Deixa-se o mundo sem carrego. Flutuamos Ao ressurgir e abandonar o vinho, Embora as vinhas continuem Sem sentido Florindo: Não há mais remorso, nem ódio, Inexistem ciúmes de amor romântico Em paisagens secas e lunares. Cantar à morte somente resiste Ao brilho encantado da luz do dia Acaso uma voz rouca entoar O último soul da madrugada Ao sabor de uma taça de vinho. Penso que Amy e Werther se foram, Ma

Política e Estado

Jaldes Reis de Meneses Nota inicial: Pretendo de vez em quando (talvez de mês e mês) aproveitar esta janela no WSCOM para dissertar, de maneira simples e com o mínimo de jargão possível, sobre alguns temas, conceitos e autores fundamentais do mundo em que vivemos. Quero escrever simples, mas com fundamento nas melhores idéias e autores. Talvez depois de alguns anos saia desses artigos um livro simples, composto de ensaios livres. Continuarei, é claro, nas demais semanas, a escrever sobre a conjuntura nacional e internacional, e algumas vezes sobre cultura. Como não poderia deixar de ser em meu caso, começo pela relação entre Política e Estado. O poeta Manuel Bandeira tem um verso que diz assim: não quero mais saber da poesia que não tenha a ver com libertação. Se alguém quiser saber qual o principal valor envolvido na atividade política, o poeta cantou o mote: a liberdade. Por isso, já sabiam os gregos – que foram os inventores do conceito de política, não da política propriamente dita

Na semana do Cineport, recordo Agostinho da Silva

Jaldes Reis de Meneses Começa esta semana em João Pessoa, ao que me parece em edição de tamanho menor, o IV Cineport (Festival de Países de Língua Portuguesa). Trata de um dos principais eventos do calendário cultural da cidade, um momento de cosmopolitismo lusitano em nossa província, às vezes desabituada, de tanto olhar para dentro das próprias vísceras, a pensar as coisas do mundo. Precisamos aprender as lições portuguesas, que sempre olharam para fora da Europa, deram as vistas para a África, a América e a Ásia, criando novas misturas e civilizações, dos trópicos à China. Há uma imagem gasta sobre os portugueses, mas tão verdadeira que virou senso comum: a atração dos portugueses pelo mar oceano, que na literatura acompanha a escrita, de Camões a Fernando Pessoa, até, pode-se dizer mais recentemente, um José Saramago, que na bela novela “Jangada de Pedra” radicalizou a tendência lusitana de buscar o mundo afora. Na novela de Saramago, quem dá adeus ao continente europeu, ao invés

O “Evento” do 11 de Setembro

Jaldes Reis de Meneses Rememora-se no mundo inteiro os acontecimentos do 11 setembro – o indiscutível feito histórico em que membros do grupo fundamentalista árabe Al-Qaeda, na posse de aviões civis de carreira, explodiram em ataque suicida as duas Torres do Word Trade Center (símbolo do capital financeiro) e do Pentágono (poder militar), antes lembrando que fracassou o ataque ao símbolo maior do poder político, o avião destinado à Casa Branca, não cumpriu o destino e espatifou-se numa fazenda, graças à ação heróica, de efeitos bastante reais, da própria tripulação do vôo 93 da United Airlines. Jamais o território americano no século XX, recém findo, tinha sido objeto de um ataque de guerra. De pronto, para surpresa de muitos, revelou-se que poderio norte-americano estava não estava de imediato a postos para o contra-ataque. A imediata reação não houve, mas sim uma nítida desorientação de comando, cujo emblema nítido chegou-nos através da imagem do presidente George W. Bush

Werther\Amy

poe Jaldes Reis de Meneses Cantar a morte não resiste À luz do dia. No entanto, depois De um blues na madrugada, enquanto Tomo mais uma taça de vinho, Mais uma, amigo, mais uma taça de vinho, Penso que Werther e Amy se foram Mas não perderam muito, senão A tormenta dos filhos crescidos. Ir cedo tem suas vantagens: A fotografia amarela, sem dúvida, Porém o coração se fecha Aos vintes e tantos anos. Se o coração nada mais recebe, Nada se perde, nada mais de peso Acrescenta-se. Talvez o coração De Werther abrace – sempre pode Acontecer algo diferente –, a lua, A paisagem bucólica de um pasto Campestre alemão – ou um Pub londrino Na névoa da madrugada, sempre Tudo é igual, passa o tempo e Tudo é igual. Amy se foi, Amy se vai. Werther acorda Do pesadelo de coração fechado – Pois as horas não transcorrem normais Quando morremos. As horas despassam, Da morte, mas alguma coisa de nada Deixa-se no mundo sem carrego. Flutuamos Ao ressurgir e abandonar o vi

As greves da afluência

Jaldes Reis de Meneses Enquanto nas ruas da Espanha (Madrid), da Grécia (Atenas) ou da Inglaterra (Londres), as massas demonstram a sua insatisfação com a crise econômica do capitalismo internacional, postulo que as greves de profissionais da educação (piso salarial nacional) e segurança (PEC 300), ocorridos recentemente em quase todos os Estados brasileiros, ao contrário, ainda são o que denomino de “greve da afluência”. Está em causa, em lugar de uma atitude defensiva com os efeitos da crise, como na Europa, uma atitude ofensiva dos nossos trabalhadores dos serviços públicos em reivindicar maior participação nos recursos do fundo público, em franco crescimento nos anos passados da “Era Lula”. A propósito, cabem três comentários adicionais. Em primeiro lugar, os dois móveis principais do compromisso de classe do governo passado foram os precisamente os pontos críticos da estratificação social, aqueles que o brilhante economista italiano, recém-falec

Keynes e a crise

Jaldes Reis de Meneses A semana (08\08)começou com uma segunda-feira de pânico nos mercados internacionais das bolsas de valores, que deve perdurar nos próximos dias, enquanto na Inglaterra massas enfurecidas ateavam fogo em automóveis e prédios com uma fúria e ódio haitianos. A revolução está distante de bater à porta, mas perigosas revoltas espasmódicas se avolumam nas periferias pobres das grandes metrópolis, mimetizando os levantes luditas (operários que destruíam as máquinas no período da revolução indústria) do século XIX, ou mesmo os saques pré-capitalistas da seca no sertão nordestino. Configura-se uma nova paisagem urbana nos países da Europa: no passado recente já tivemos explosões em Los Angeles e Paris, mas agora parece se criar uma onda. Onde estão as instituições do Estado de Bem-Estar, na Europa e mesmo nos Estados Unidos, que já não fornecem o colchão indispensável ao controle da questão social? Quando mencionamos crise econômica e welfare state , logo a memó

EUA: A trégua será provisória

Jaldes Reis de Meneses A crise norte-americana da elevação do teto da dívida, que engalfinhou durante todo o mês de junho o governo Barack Obama e a oposição do Partido Republicano, antes de simplesmente econômica, é muito mais séria. A crise é política e de hegemonia. Por isso, o acordo entabulado no apagar das luzes do domingo, votado de última hora ontem (segunda-feira, 01/08) na Câmara dos Representantes, a ser votado no Senado hoje (terça-feira, 02/08), apenas adia um duelo cujo palco principal deverá ser as eleições presidenciais de 2012. Houve um empate técnico. O principal emblema da crise de hegemonia é que o acordo atual não satisfez os contendores – principalmente os pólos das alas à direita e à esquerda dos partidos republicano e democrático. Ninguém saiu vencedor, embora o método de chantagem dos republicanos tenha arrancado um êxito parcial (não taxar os ricos, cortes no orçamento público). Tanto que os votos contrários, insatisfeitos, ao inverso d

O massacre de Oslo: guerra intercivilização

Jaldes Reis de Meneses Em 1993, em elíptico artigo escrito para a revista Foreign Affairs, o cientista político americano Samuel Huntington (Harvard University), falecido há poucos anos (2008), mais uma vez, proclamava um golpe de mestre. Digo mais uma vez, porque Huntington já havia sido premonitório ao menos em duas outras ocasiões de sua carreira acadêmica. Em 1965, em estada no Brasil, contrariando os otimistas panglossianos de plantão, ele diria que o golpe militar teria uma longa vida e que estavam enganadas as idílicas teorias do desenvolvimento – não apenas as da CEPAL, mas inclusive as desposadas pelo mainstream das universidades americanas – que consorciavam um determinismo ingênuo entre economia capitalista e democracia. Para Huntington, sociedades como o Brasil e o México eram “pretorianas” (a alusão histórica era à guarda pessoal do imperador romano antigo), ou seja, avessas à democracia liberal, estavam condenadas a seguir uma via autoritária de desenvolvime

EUA: do que é feito uma crise?

Jaldes Reis de Meneses Este artigo se propõe a defender em rápidas linhas um argumento polêmico, com um enfoque diferente da maioria dos artigos publicados na imprensa escrita ou na internet quando o tema é a crise internacional. Qual a diferença? Os artigos em geral explicam a crise com base nos dados estatísticos e econômicos, daí chegam, por dedução, à fácil conclusão, até ocular, de que o ciclo econômico capitalista, desde finais de 2008, com o evento da quebra dos títulos imobiliários americanos, entrou em uma perigosa fase de sobras cujo desfecho, qualquer que seja, reorganizará em profundidade o modo de operação do sistema no mundo. Embora seja verdadeiro, no entanto, o pecado dessa argumentação é o unidimencionalismo: ao mesmo tempo em que se põe a indispensável visada nos aglomerados macroeconômicos, é preciso tentar compreender as mutações no universo da política e o que se passa na cabeça da população americana, desta vez, em vez da periferia, junto com a Europa, o epicentr

Fetiche e sintoma

O sintoma é a exceção que perturba a superfície da falsa aparência, o ponto em que a Outra Cena reprimida irrompe, enquanto o fetiche é a personificação da mentira que nos permite sustentar a verdade insustentável. Zizek, Slavoj. Primeiro como tragédia, depois como farsa. SP, Boitempo, 2011, p. 62.

Em defesa de Chico Cesar

Jaldes Reis de Meneses A Paraíba tem a vocação das ruínas: se compraz no exercício sado-masoquista de tentar demolir as pessoas que tiveram a ousadia de fazer o caminho da aventura, os que tiveram a coragem de enfiar as roupas na mala, os que pegaram o ita do norte rumo ao êxito, vencendo preconceitos e se afirmando na linguagem universal da arte. Alguns morreram sem ter o reconhecimento em vida, como na letra do samba de Nelson Cavaquinho, a exemplo de Augusto dos Anjos. É triste afirmar, mas praticamente todos os nossos grandes artistas foram ou o são discriminados em vida: foi assim como José Lins do Rego, ainda é assim com Ariano Suassuna – só muito recentemente reconciliado com a Paraíba – e Elba Ramalho. Aparentemente, parece que preferimos vê-los de longe, no pedestal, mas os queremos afastados do convívio cotidiano. Sequer se trata de acatar, integralmente, na polêmica, as eventuais posições estéticas de Chico Cesar. Contudo, é golpe baixo mentiroso afirmar (li artigos que

As mortes de Realengo

Jaldes Reis de Meneses Antes de abordar diretamente a tragédia de Realengo no Rio de Janeiro, cuido de tratar de nós mesmos, os que assistiram terrificados. O senso comum psiquiátrico prefere classificar o ato inumano do jovem genocida Wellington Menezes de Oliveira como obra de um psicopata, um esquizoide, um anormal, ou seja, mais uma perversão da natureza do que um produto determinado (portanto, por mais oculto, o ato seria passível de explicável) das relações sociais, uma irrupção inesperada, tão incontrolável como um terremoto no Japão. Contra a irrupção de um terremoto só podemos oferecer os paliativos da racionalidade da engenharia e do planejamento (ensaiar insistentemente os planos de evacuação, como nos deu a lição o disciplinadíssimo povo do Japão), assim como contra a irrupção de uma maldade que se revelou absoluta, desamparados, buscamos realizar o que Freud chamou de trabalho de luto a partir de um bálsamo terapêutico sistematizado desde a civilização grega: r

O “espírito” de 1964

Jaldes Reis de Meneses Toda história da cultura é também uma história da barbárie (Walter Benjamin) Como abordar o golpe militar de 31 de março (ou primeiro de abril) de 1964, 47 anos passados? Em sua bela biografia de Napoleão, publicada logo após o fim da Restauração francesa (a sequência de 15 anos de último retorno da dinastia dos Bourbons, na qual ficou evidente a quimera do projeto conservador de retorno do antigo regime), Stendhal faz uma observação decisiva a quem pretenda escrever a história de seu próprio tempo: o escriba vai se meter em exumar os companheiros de geração, as promessas que se dissiparam e os fracassos que ficaram feito cicatrizes, mas principalmente as viragens. O romancista anota que os homens que foram no passado os antigos radicais jacobinos são os mesmos moderados que conduziam naqueles dias os negócios de Estado. Arguto, Stendhal percebe um remoto sentimento de cumplicidade, de ele mesmo ele mesmo participa. No sentido stendhalniano, a geração que resis

Brasil e Estados Unidos (notas à margem provocadas pela visita de Obama ao Brasil)

Jaldes Reis de Meneses Pode-se afirmar que a longe relação dos Brasil com os Estados Unidos começa mesmo antes de nossa independência política, na simpatia que os inconfidentes mineiros demostraram em relação ao processo de independência norte-americano, visto com um exemplo a ser seguido. Do lado dos Estados Unidos, a recíproca era verdadeira: a insurreição de Minas Gerais repercutiu no congresso americano. Ainda mais: do ponto de vista do pensamento intelectual brasileiro, vale ressaltar que há uma linhagem, que tem seu ponto de começo mais elaborado em Joaquim Nabuco, mas extrapola, depois, por exemplo, para Sérgio Buarque. Embora pensadores distintos, os dois preconizaram em algum momento da carreira o chamado americanismo como uma via de atualização da modernidade no Brasil, como ultrapassagem do rito patrimonialista e ibérico. Mesmo no caso de Gilberto Freyre, cuja obra se exime da crítica frontal ao patrimonialismo, há muita simpatia para com os Estados Unidos, especialmente o

O primeiro minuto

Escrevi o pequeno texto abaixo na semana subsequente ao carnaval, mas ainda não havia me animado, por puro desleixo, a postá-lo. Pode ter alguma utilidade no balanço dos primeiros dias do governo de Ricardo Coutinho . Jaldes Reis de Meneses Avaliar o resultado de um jogo de futebol ou de uma maratona no primeiro minuto é uma tarefa das mais temerárias. Todavia, como a atividade política consciente requer o tempo inteiro balanço e previsão, sempre se pode dizer alguma coisa de útil do desempenho do governo Ricardo Coutinho. Deve-se perceber que o governador foi eleito cercado de enorme expectativa, a partir de uma aliança plural (indo do DEM ao MST)– que juntou adversários e surpreendeu aliados –, mas com um claro objetivo político: renovar a política paraibana. O resultado eleitoral teve duas consequências, ainda mal avaliadas: 1) Definitivamente, encerrou o ciclo de polaridade entre os grupos de Maranhão e Cunha Lima. Acabou-se esse tempo. Doravante, a polaridade haverá de

Oito de março, o dia triunfal de Fernando Pessoa

Jaldes Reis de Meneses No começo do ano de 1935, próximo da data de desaparecer precocemente, encantar-se e virar estrela, com apenas um livro publicado (Mensagem), o poeta lusitano Fernando Pessoa escreveu uma famosa carta ao crítico literário Adolfo Casais Monteiro, na qual relata os acontecimentos do dia 08 de março, numa longínqua tarde de 1914, o “dia triunfal” de sua vida. O “dia triunfal” deu-se à maneira de um “estalo de Vieira”: em um dia aparentemente banal, de repente a partir de um transe inspirado do poeta, vieram à vida no território livre da linguagem, alojados na pisque, os três heterônimos mais célebres de sua imensa coleção de 72 heterônimos de Pessoa: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Comemora-se no mundo inteiro e é feriado nacional na Irlanda, o dia 16 de junho – o Bloomsday – alusivo às horas de Odisséia do personagem de James Joyce em Ulisses, Leopold Bloom , pelas ruas de Dublin. Porém, ao contrário de Joyce, até hoje, o “dia triunfal” de Fernan

Reforma política, qual reforma política?

Jaldes Reis de Meneses De Dilma Rousseff (presidente) a Aécio Neves (hipotético candidato de oposição), de Itamar Franco a José Sarney (senadores e ex-presidentes), de Inácio Arruda (PCdoB) a Ronaldo Caiado (DEM) e Humberto Costa (PT) – políticos de projetos estratégicos distintos –, parece haver um surpreendente consenso: é preciso realizar uma reforma política no Brasil. A reforma política não é um jogo de soma zero. Logo o aparente consenso se dissipa quando surgem as perguntas de conteúdo: de qual reforma política está se tratando? Aprovadas medidas como o voto distrital (puro ou misto), lista aberta ou fechada e financiamento público de campanha, entre outras cotadas, quais serão afinal os ganhadores e os perdedores? Política, antes de tudo, é relação de forças, ensinavam os realistas, desde Maquiavel, Hegel e Gramsci, em polêmica aberta contra as quimeras do pensamento contratualista. Noutros termos: antecede o momento das regras, do consenso ético-político, o momento