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Mostrando postagens de 2015

Feliz 2016, Dilma Rousseff

Jaldes Meneses Uma das sentenças mais conhecidas de Marx é aquela na qual ele escreve que o capitalismo é uma contradição em processo. Só lemos notícias ruins sobre o desempenho da economia brasileira em 2015 e previsões assustadoras para 2016 - a realidade da crise virou senso comum -, mas começo por uma boa e me aventuro a cogitar outra possibilidade. Meio a fórceps, a combinação perversa de recessão econômica e desvalorização do real ajustou o câmbio, tornando a balança comercial brasileira positiva neste ano (19,3 bi de dólares) e em perspectiva de ser maior em 2016. Trata-se de uma boa notícia até certo ponto, mas o Brasil não é um pequeno país asiático de plataforma exportadora. Para sair da crise, embora o mercado internacional (também em crise, lembre-se) seja muito importante, necessariamente a ênfase deve ser no mercado interno. Um parêntesis. Neste ínterim, não resisto em citar a colaboração involuntária ao Brasil, vindo de onde menos se espera, o

Antonio Cicero: a lira dos setenta anos

Jaldes Meneses Temos o privilégio de sermos contemporâneos de uma geração de artistas brasileiros, a exemplo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Maria Bethânia que atravessaram o umbral dos 70 anos ativos na felicidade de conservar o elixir dos mais finos perfumes. No dia 6 de outubro, o poeta, letrista e filósofo Antonio Cicero completou 70 anos.          Devem perguntar os que  não  conhecem - quem é Antonio Cicero? Tenho a  impressão  de que Cicero se trata de um caso bem brasileiro de fusão, inusitada e travessa, da mais fina erudição e música popular, nesta terra em que sambistas pobres do morro, da estripe de Cartola, Elton Medeiros e Guilherme de Brito cuidaram com especial elegância da maltratada língua portuguesa. Ao contrário de muitos países, aqui, desde cedo, houve contactos e influências entre o erudito e o popular – entre Sinhô e Villa-Lobos. De sorte que uma pessoa como Cicero, evidentemente mais conhecida como letrista da cantora Marina Lima, sua

Uber em João Pessoa

Jaldes Meneses No caminho cotidiano de retorno à casa do trabalho na Universidade, escuto no rádio do carro que a Câmara Municipal de João Pessoa deverá pautar, na próxima semana, a polêmica internacional, que já passou por Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, de admitir, proibir ou regulamentar o serviço de “Carona Paga” conhecido internacionalmente como “Uber”.  Carona paga, Economia de compartilhamento, Tecnologias emergentes, gritam os defensores do Uber. Qual o significado desses simpáticos ardis de linguagem? Menos ciência dura e mais psicologia social, não passam de eufemismos de disfarce da crueza da concorrência capitalista, uma parte fundamental de uma  operação planejada de dumping visando amealhar  o controle dos tradicionais serviços de Táxi. Mesmo que o Uber não tenha feito a aparição em nossa cidade - certamente por motivo de o tamanho de nosso mercado ainda não comportar serviços de Táxi de Luxo –, não tardará o dia de algum novidadeiro atracar em nossas par

O inferno somos nós

Jaldes Meneses “Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homem-massa ou homens-coletivos. O problema é o seguinte: qual o tipo histórico de conformismo, de homem-massa do qual fazemos parte? (…) Criticar a própria concepção de mundo, portanto, significa torná-la unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais evoluído.”   ANTONIO GRAMSCI, Cadernos do Cárcere 11 (1932-1933 ) Mistura nova de Babel de afetos de amizade e tribuna política, as redes sociais, exatamente por isso, podem ter, entre mil e uma utilidades, a serventia de funcionar como uma espécie de rico laboratório a quem se dispor a realizar um estudo sério do discurso como crítica à ideologia. Existe atualmente uma corrente da crítica social neomarxista bastante festejada do conceito de ideologia na qual, pelo lado da esquerda acadêmica, o superstar absoluto é o bufão esloveno Slavoj Zizek. No caso específico de Zizek, a salada servida mistura mais Hegel e Lacan e menos

Keynes e as crises

                                                                                                       Jaldes Meneses         Provinciano que sou, estou muito, muito longe dos centros de  decisão da economia capitalista mundial. Ainda mais sendo de esquerda - a esquerda não costuma entender de dinheiro nem de mercados financeiros, sei de experiência própria quando escuto verbalizado por muitos a recitação dos versículos de um tal de "mundo do capital" abstraído da totalidade concreta (concreta!) do modo de produção capitalista. No entanto, mesmo assim, na periferia do sistema, acertei o palpite de que o FED (Banco Central) americano não subiria os juros. Li comentaristas e mais comentaristas emitindo opiniões em contrário: para eles, os americanos são - esses sim - autênticos provincianos e não enxergam um palmo além do próprio nariz. Poderia ter sido assim até o dia em que o presidente Franklin Delano Roosevelt, de caso pensando anteriormente (Roosevelt jogou a isca e

A economia política das commodities (Raúl Prebisch, você venceu!)

Jaldes Meneses Existem duas maneiras complementares de estudar economia política.  Na primeira embocadura, mais clássica, numa tradição que vai de Adam Smith à crítica de Marx, a economia política, como Engels a define em “AntiDüring”, seria “a ciência das leis que regem a produção e o intercâmbio dos meios materiais da vida na sociedade humana.  Em outro diapasão, e economia política também deve ser considerada, em enfoque mais delimitado, à maneira dos autores contemporâneos, como Robert Gilpin em “A economia política das relações internacionais” como um campo de estudos das relações institucionais entre “Estado” e “Mercado” em plano mundial, cujos resultados históricos são uma específica inserção econômica internacional entre centro e periferia acompanhados de uma estratégia política, militar e diplomática, bem como de uma política macroeconômica.  A segunda vertente, propositadamente eclética, combina aportes teóricos dispares como Marx, Weber e Fernand Braudel,

O terceiro mandato de Dilma

Jaldes Meneses Na coluna da semana passada, por mim chamada de “Do jeito que está não fica mais" previ quatro possibilidades de futuro ao governo Dilma Rousseff: 1) renúncia; 2) impeachment ; 3) novo ministério expressivo de um acordo com o PMDB e a burguesia brasileira; 4)novo ministério representativo de um acordo de esquerda, por consequência de abandono da política econômica neoliberal de Joaquim Levy. Embora estejamos em pleno curso de desenvolvimento da crise política, os acontecimentos da semana - os pronunciamentos públicos da presidente de não constar da palavra renúncia no seu dicionário e a mutualidade exclusiva entre a terceira e quarta alternativas - reduziram as quatro possibilidades a duas: do mirante do observatório da crise, hoje, apenas o impeachment  e o novo governo do PMDB e da burguesia brasileira persistem cogitados. Podemos estar na iminência da posse do terceiro mandato de Dilma Rousseff, cujos fiadores não são mais exatamente os eleitores de três d