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Colômbia: 100 anos de solidão política

Jaldes Meneses Hoje amanhecemos todos com um sorriso nos lábios. A esquerda ganha pela primeira uma eleição nacional na Colômbia e de vez a América Latina mergulha em uma nova “onda rosa” (a primeira começou com a vitória de Hugo Chavéz na Venezuela em 1988 e terminou com a queda de Dilma no Brasil em 2016). Em condições normais de temperatura e pressão, a nova e reluzente bola da vez será a vitória de Lula sobre Bolsonaro, em outubro vindouro. A vitória na Colômbia ajuda no clima de otimismo brasileiro. Quem contempla a Colômbia defronta-se com uma história complexa. Um enigma a ser decifrado. Acaso a Colômbia fosse um recanto longínquo, nós, brasileiros, poderíamos nos abster de decifrar o enigma. Há um padrão de violência social e política na Colômbia, que até foi inibido nesta eleição – o reconhecimento do novo governo pela presidente Iván Duque e o candidato neofascista, até certo ponto são pontos fora da curva –, e de formação de forças paramilitares permanentes, que começou a s

Gramsci: A Filosofia Política do Conceito de Relações de Força (trechos)

Jaldes Meneses  Prof. Titular do Departamento de História da UFPB O mais inspirado em Lenin de todos os conceitos filosóficos e políticos originais de Gramsci, é o conceito historicista absoluto (ou realista) de relações de forças. Em Gramsci, o uso (e não o abuso) do conceito de relações de força excedeu o uso estritamente político. Chegou, em démarche altissonante polêmica, ao território da história e filosofia. Durante muito tempo a verdadeira axialidade política e filosófica das relações de forças foi subestimada na gigantesca fortuna crítica de interpretes do filósofo revolucionário italiano.  Que maluquice é essa? A tradição filosófica e política de Marx, Engels, Lenin e uma galeria imensa de autores tem alguma coisa a ver com o velho, plural e conservador historicismo alemão, que relativizou e diluiu a história nas diferenças culturais das civilizações? Até certo ponto, Marx e Engels, já no texto fundador da teoria materialista da história – A Ideologia Alemã -, com licença do t

O museu das grandes novidades

Jaldes Meneses Professor Titular do Departamento de História (UFPB) Em um conto clássico e muito conhecido, A sereníssima república, Machado de Assis conta a história de uma fabular república, no conto habitada por aranhas, lugar onde a lei e a interpretação das leis, entre as quais as eleitorais, vão mudando de acordo com as conveniências. O Bruxo do Cosme Velho estava empenhado em crítica as artimanhas de um Brasil que muda suas regras a cada eleição para que nada mude em termos de poder político. O grande mestre, a seu modo de contradizer paradoxos, em termos de realismo alegórico, punha o dedo na ferida do eterno centrão municipal de nossas vastas solidões interioranas. Certa feita, em um debate nos anos de chumbo da ditadura na Faculdade de História da USP, uma bem-intencionada jovem estudante perguntou a Nelson Werneck Sodré: - General, qual o grande acontecimento da história do Brasil? O velho historiador de pronto respondeu: - O grande acontecimento da história do Brasil ainda

Viagem Redonda hasta cuándo? O regime político da autocracia burguesa e as “teorias do autoritarismo”

Jaldes Meneses Para Florestan existe uma forte  associação racional  entre o desenvolvimento capitalista dependente e subdesenvolvido brasileiro e a configuração de regimes políticos de natureza autocrática. O que se realizou na periferia, ao contrário da visão preconizada pela vertente da revolução democrático-burguesa de feição clássica, “é uma forte dissociação  pragmática  entre desenvolvimento capitalista e democracia (...) [e] uma forte associação  racional  entre desenvolvimento capitalista e autocracia. Assim, o que ‘é bom’ para intensificar ou acelerar o desenvolvimento capitalista entre em conflito, nas orientações de valor menos que nos comportamentos concretos das classes possuidoras e burguesas, com qualquer evolução democrática da ordem social” (Fernandes, 1987, p. 292). O processo de revolução burguesa, antes de tudo, é um processo eminentemente político, mas de fundas raízes sócio-antropológicas. Por isso, a categoria política fundamental da interpretação do Brasil cont