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Mostrando postagens de junho, 2013

A sucessão abriu

Jaldes Meneses As pesquisas eleitorais sempre têm impacto psicológico, mas a pesquisa do DataFolha de hoje (sábado, 29/07), embora nos números já fossem esperados, pareceu uma hecatombe: a candidata favorita até ontem às eleições presidenciais do próximo ano, caiu vertiginosamente em poucos dias, exatamente o tempo das manifestações de rua, na avaliação de governo (de 57 para 30 % de boa avaliação). Isso quer dizer que abriu a sucessão presidencial e Dilma não é mais – embora possa ela se recuperar, é claro – a favorita. Definitivamente, as ruas abriram a sucessão presidencial. Se Dilma perdeu, quem ganhou? Quem sabe?, embora sinta o cheiro que a ganhadora circunstancial seja Marina Silva. Seria mais fácil saber se tivesse saído o “partido das ruas”, mas este não foi criado. Encontrei a pouco na livraria do Shopping um amigo dos tempos de movimento estudantil, hoje juiz federal (prefiro não revelar o nome) que me fez uma confissão surpreendente. Ele votaria num partido do tipo P

O protesto agoniza

Jaldes Meneses Perguntava-se nas bolsas de apostas até quando e aonde iriam as mobilizações que eletrizaram o Brasil desde o dia 13. Arisco o palpite que esses movimentos viveram o apogeu ontem, devem sobreviver na próxima semana e até um pouco mais, mas já com impulso social agonizante. Isso não quer dizer que não aconteça um segundo ciclo de mobilizações, adiante, pois parece que a praça e a avenida retornaram para valer e ficar na política brasileira. Apenas começou, no começo do inverno, a primavera brasileira. Relativo ao até aonde foram as mobilizações, o movimento já produziu estragos indeléveis e duráveis na governança do bloco lulista no poder, que governa o Brasil há 10 anos. Em primeiro lugar, o esforço propagandístico em torno da copa e dos jogos olímpicos – fundamentais à imagem internacional do país como nação emergente – foi destroçado. Em vez de lustrar as reputações dos donos do poder, os jogos viraram momentos de exposição e desmoralização de alta vol

A lógica do protesto

                                                                                                                        Jaldes Meneses               Há dias que valem anos. Mais de um milhão de pessoas já foram às ruas de norte a sul, e nada disso acontece impunemente. Em duas semanas, a sociedade nas ruas mudou a correlação de forças políticas no Brasil, basta ver o conteúdo das reivindicações, com uma nítida inflexão à esquerda. Ainda mais: ou Dilma faz uma inflexão também à esquerda, ou irá ao buraco com Collor, Sarney, Renan e outros cadáveres políticos que lhe dão sustentação. Diz-se que os protestos que estão virando o Brasil de cabeça para baixo não têm objetivos claros. Engano ou preconceito. O protesto tem juízo. A síntese da pauta das maiores manifestações brasileiras desde o “fora Collor” (19992) é simples e de comunicação imediata: quer-se tarifa zero nos transportes coletivos, é-se contra os gastos e as negociatas na Copa do Mundo (29 bilhões de reais) e nas Olimpí

As classes de Chauí

Jaldes Meneses Circula no Youtube um vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=H1nZeCncZps)  no qual a filósofa petista Marilena Chauí desanca, entre apoplética e histérica, a chamada “classe média brasileira”, taxada por ela de “reacionária”, “preconceituosa” e “direitista”. A cena de ópera bufa ocorreu durante o debate de lançamento em São Paulo do livro “Lula e Dilma: 10 anos de governos pós-liberais no Brasil” (Ed. Boitempo, organização de Emir Sader), uma publicação de legítima propaganda petista com alguns artigos sofríveis e outros muitos bons.  O inusitado é que logo após a encenação de Chauí (para todas as credenciais, uma professora de classe média), que grita para delírio da platéia a palavra de ordem “EU ODEIO A CLASSE MÉDIA”, um macunaímico Lula, dispõe do microfone e desautoriza o argumento de Chauí, falando que “eu passei a vida inteira querendo ser de classe média e me vem essa mulher [exatamente assim que ela foi tratada] e acaba com a classe média...” Lula tratou logo

Júlio Rafael

Jaldes Reis de Meneses             Recebo com pesar a notícia da morte cerebral em São Paulo de Júlio Rafael. Foi-se embora um amigo. Escrever, combinar catarse e análise, sempre é bom para aliviar a emoção. Vi Júlio pela primeira vez em 1987 numa reunião do “Comitê contra os cinco anos de Sarney” na OAB, recém-chegado da mesma São Paulo em que morreu, quase como um enviado especial do diretório nacional do PT à Paraíba, a terra natal da qual se ausentou por muitos anos. Desde então, sempre nos cruzamos em vitoriosas ou malogradas jornadas políticas.             Na época, o PT da Paraíba, repleto de sindicalistas e estudantes, muitas vezes sectários e despreparados, se ressentia de quadros políticos que tivessem uma visão mais realista da correlação de forças, uma compreensão mais abrangente e universal do país e da Paraíba que superasse o corporativismo – a visão de que o partido era um aglomerado de categorias profissionais e seu programa uma colagem de reivindicações econô