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Mostrando postagens de agosto, 2008

Vitória da Conquista (work in progress)

Jaldes Reis de Meneses A assepsia de um cigarro Ao apagar da chama fria, Embaixo dos lençóis chiados Enevoentos e menstruados Da Chapada dos Guimarães, Dos Veadeiros, da Diamantina. Tudo igual profundo, de menos É dar lição de geografia, De arbusto e de paisagem. Nomeio sertão, mas poderia Chamar descampado, caule Fino de ossos, cobra raquítica Rastejando o sangue frio Na pele de jararaca, salamandra. Por isso, reacendo o cigarro E penso em minha morte Para deixar de morrer. O sertão é minha oração. Depois do tempo de mocidade É que se divisa a vereda, Até então é possível dissimular O sexo, empreender guerras. Sucedido, o sertão é de quem Caminha acossado por um tropel De milícia, Antonio das Mortes Metafísico matador de cangaceiro E de seus dantos frutos globosos. Em pleno coito do buriti Quis interromper a viagem. Enganei-me ao encostar De sede à sombra da palmeira. Como encontrar uma donzela Perdida no sertão baiano? Qual a lista telefônica, O poema épico, o amor De Riobaldo e Diad

No Silêncio

Jaldes Reis de Meneses No silêncio experimento a batida do coração Em um quarto escuro, Por mais impermeável que seja a cabine acústica Ele continua a bater, um ritmo grave e outro agudo. Nunca apodrecem seus frutos: João Gilberto, John Cage.

Muda e João Cabral

Uma de minhas diversões neste mês de agosto em estado de muda, ou ao menos de drástica redução do ritmo de postagem no blog, tem sido uma leitura mais sistemática de João Cabral de Melo Neto, que li com muita atenção - é verdade, aos 15 anos. Depois, de maneira mais esporática. Isso de 15 anos nada tem a ver com charme. Querem uma prova? Vão a uma edição do Correio das Artes do remoto ano de 1978(acho que esta é a data correta, não sei bem), e leiam um poema relativamente longo, de duas páginas, chamado O rio e seus aflu/entes, meio um clone de "O cão sem plumas" de que não me envergonho. O poema continua de pé e é muito bem feito, apesar de cacoetes cabralinos bem asssimilados. Hoje, creio ter me livrado da influência cabralina, uma praga de época. Acho que Antonio Cicero matou a cobra e mostrou o pau quando demonstrou em Finalidades sem fim (um belo livro de ensaios) que as opinões poéticas de João Cabral devem ser tomadas com o devido cuidado, funcionam mais no entedimen

Maísa

Começou luminoso o mês de agosto... Publico a seguir, em semana de muda, um poema menor de Manuel Bandeira, que gosto muito, Maísa, como também adoro as antigas canções dramáticas - dizia-se, em algum ponto do século XX, de "fossa" - saídas de boca não-pacífica da musa de Bandeira, uma beleza marcante, estranha, tipo boca-elvis de olhos verdes, possível ser dramático e lunar. MAÍSA Um dia pensei um poema para Maísa “Maísa não é isso Maísa não é aquilo Como é então que Maísa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza? Muito simplesmente Maísa não é isso mas Maísa tem aquilo Maísa não é aquilo mas Maísa tem isto Os olhos de Maísa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos A boca de Maísa é isso e aquilo Quem fala mais em Maísa a boca ou os olhos? Os olhos e a boca de Maísa se entendem os olhos dizem uma coisa e a boca de Maísa se condói e se contrai se contorce como a ostra viva em que pingou uma gota de limão A boca de Maísa escanteia e os olhois