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Mostrando postagens de fevereiro, 2015

Swiss Leaks "E" Petrolão

Jaldes Meneses Neste exato momento, no mundo e no Brasil, dois acontecimentos parelhos envolvendo sujeitos endinheirados do "andar de cima" - a expressão que os economistas da escola acadêmica do "capitalismo histórico" ou "sistema-mundo", Giovanni Arrighi e Immanuel Wallerstein, criaram e o jornalista Élio Gaspari popularizou entre nós -, por assim dizer, eletrizam a opinião pública esclarecida.  No primeiro, na Europa, um ex-funcionário franco-italiano do HSBC - uma casa bancária que nasceu suja, dos capitais amealhados pelos comerciantes ingleses na venda de droga aos chineses, motivo da "guerra do Ópio" (1839-1842) -, de nome Hervé Falciani, revelou uma lista de 100 mil correntistas vips (entre os quais 8.667 brasileiros) de contas secretas na agência Suíça do banco. As contas contém, na maioria, certamente, dinheiro vindo das falcatruas da evasão de divisas, sonegação fiscal e de lavagem de dinheiro do crime organizado. Esta é,

Em 15 segundos, a vastidão rosiana de um impasse

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Por um desses acasos do destino, tive a ventura ou o sortilégio de uma formação intelectual juvenil torta (por conter muito de autodidatismo) e atípica, mais num partido comunista - o PCdoB, no qual militei por 15 anos - que nos bancos formais da universidade, onde mais flanei no movimento estudantil que propriamente nas carteiras de madeira das salas de aulas. Gorki chamaria de uma formação na universidade da vida. Mudei muito intelectualmente desde a época, por assim dizer, das “primeiras letras”, depois tive a oportunidade complementar, e de alguma maneira superar, muito da formação ainda dogmática oferecida ao militante comunista entre o final dos anos 70 e toda a década de 80.  Devo logo afirmar que nunca cuspi no prato que comi. Ou seja, não me tornei um desses ex-militantes da causa comunista que renegam o passado com a mesma fúria religiosa antes devotada à velha organização. No fundo de suas almas, esses camaradas continuam o

Dilma: O tempo passou na janela

Eu bem que mostrei a ela/ o tempo passou na janela/ só Carolina não viu Chico Buarque, Carolina Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Uma das situações mais escarnecedoras da política é o daquele militante que sente a terra fugir aos pés e por isso só lhe restam os argumentos gerais de uma ideologia e a fantasia de um passado idílico em defesa de seus argumentos. Resolvi escrever este artigo pensando no diálogo com esse tipo de militante, certamente no espírito machadiano da galhofa e da melancolia, contudo admirado por que sei que esses são os melhores. Gostaria de ter um exército de milhões de militantes assim, da mesma maneira que entregaria aos quintos dos infernos os cínicos, os que mudam de ideia com a velocidade de um post no twitter. Esses não constroem uma causa. A boa militância (estou fazendo um elogio) exige a fidelidade de uma religião. Mas é preciso tomar cuidado em não exagerar. Um projeto político não pode viver apenas do apelo à causa. Há tamb

Depois do Syriza e do Podemos

Jaldes Meneses Um dos assuntos políticos que deverei privilegiar neste ano de 2015 será o balanço das experiências novas de partidos/movimentos como o Syriza grego e o Podemos espanhol. Janeiro de 2015 começou com jeito de 1968, quem sabe um desses anos que nunca terminam? O Syriza, uma coligação da esquerda radical - quem diria poucos anos atrás? - acabou de obter uma extraordinária vitória eleitoral, elegendo 149 deputados no parlamento e Aléxis Tsípras, principal liderança do partido, primeiro-ministro. Na mesma semana, o Podemos espanhol reuniu mais de 100 mil manifestantes na Praça Cibeles, em Madrid, despontando como favorito nas eleições de dezembro, talvez elegendo Pablo Iglesias, uma dessas inusitadas lideranças jovens que parecem surgir de repente, embora venham de longe, no galope da surpresa histórica.  Após muitas décadas de sobranceira calmaria niilista e pós-moderna - Marcuse chamou a calmaria de “sociedade unidimensional” e Fukuyama decretou a eterna melancoli

A política em Marx

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Permitam-me os leitores abordar na coluna de hoje um assunto perene em vez de um dos temas da agitada conjuntura política. Dos grandes autores clássicos da política empenhados na crítica ao contrato social burguês – cito, por exemplo, Rousseau –, Marx foi de longe o mais radical. Ninguém raspou mais fundo o tacho da crítica. Em um movimento teórico se encaminha desde a "Crítica (e da Introdução) da filosofia do direito de Hegel” (1843), ele afirmou a necessidade de o processo das revoluções seguir em frente, passar do conteúdo "político" do constitucionalismo burguês ao "social" da revolução proletária, seguir da "emancipação política à emancipação humana". Enfim, Marx realizou a "crítica da política" dos resultados dos processos de revolução burguesa, mas resta a pergunta do que fazer com a política. É possível superar a política, desfazer-se dela, jogá-la no relicário da história em