Postagens

Mostrando postagens de abril, 2008

Bossa Nova

De volta à bossa nova. Assisti coisa de 15 dias a entrevista de Carlinhos Lyra no "Roda Viva". Presentes, Sérgio Cabral, Tarik de Souza e Ruy Castro. Engraçado, os três mais o entrevistado pouco se entenderam sobre o batido assunto das origens da bossa nova. Achei Sérgio Cabral restrito, muito ligado ao samba, fazendo de conta que a galera pouco estava de olho no jazz. Aliás, mais que no jazz, o pessoal originário da bossa nova estava atento à canção americana e, principalmente Tom Jobim, no impressionismo francês. Para mim, a canção de Jobim sempre flertou com um realismo impressionista, mais plástico que propriamente musical, sei lá, um misto de Cézanne e o velho Debussy. O lado brasileiro veio pelo violão de Vila-Lobos, mais que qualquer outra influência estritamente popular. Resta dizer que embora Tom Jobim seja um bossanovista genial, ele não é o mais típico (tipicidade é mesmo com João Gilberto), inclusive por que percorreu muitas sendas em sua carreira, se aproximando,

Bossacucanova

Só prá desopilar: acho que o Bossacucanova cometeu uma pequena gafe no show do Fenart. Falaram, pela voz de Cris Delano (uma menina afinada), que veio acompanhando a banda do Rio de Janeiro, que a bossa nova nasceu no nordeste e a difusão se deu pelas praias da zona sul. Conforme Caetano Veloso, um grande conhecedor da bossa nova, a tese faz sentido: João Gilberto treinou a batida do violão nas margens do rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia, olhando a ponte que dá prá Petrolina, desiludido da primeira aventura musical no Rio de Janeiro. Pensei assim: os caras vão tocar "Bim-Bom" (o genial baião minimalista de João Gilberto, uma de suas poucas composições, embora tudo nele vire autoral, que foi lançado no mesmo compacto de "Desafinado", "bim bom bim bim bom bim bim/é só isso o meu baião/e não tem mais nada não/o meu coração pediu assim, só). Pastei. Tacaram na caixa "Passar uma tarde em Itapoã", uma parceria de Toquinho e Vinicius "anos 70&quo

Itaipu

Escrevo com os olhos voltados para a TV Senado (sou fã de televisão desde criancinha e mais ainda da TV Senado, adoro ler com o aparelho ligado sem som), no qual o Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), ocupando o espaço da liderança do PSDB, critica o Presidente eleito do Paraguai pela possível pretensão de rever os acordos de Itaipu. Os tucanos estão inteiramente perdidos, principalmente em termos de política internacional. O argumento do Senador é frágil, de tipo financista: em vez de perceber que a usina de Itaipu assenta-se em um bem de natureza localizado na fronteira, portanto compartilhado, o orador envereda pela revanche, sem necessidade aparente, pelo caminho de esfregar na cara dos vizinhos – como se eles não soubessem –, o volume bruto de capital investido pelo Brasil na construção da hidroelétrica. A união do capital brasileiro com os descapitalizados paraguaios, no argumento ufanista que, certamente, mais na frente, quando da negociação de fato dos contratos, apenas radicaliza po

Direitos do homem

O artigo a seguir, escrito por mim, compõe o terceiro capítulo do livro “Direitos Humanos: história, teoria e prática” (2005, Editora Universitária UFPB, esgotado), organizado pelo professor Giuseppe Tosi. Embora publicado em livro, não é texto acabado. Devo ampliá-lo em uma nova redação, bem como aparar algumas viagens teóricas laterais (como, de repente, sem necessidade clara, por no texto as polêmicas entre Herder e Goethe). Sou chato e prolixo: gosto às vezes de postar textos longos (cartas endereçadas a ninguém?). Também me perguntaram por que não uso ilustrações no blog. Serei um Taliban, um iconoclasta? Nem tanto, mas não uso “figuras” no blog meio de propósito. Letra branca em fundo preto em tempos saturados de imagem. Voltando ao fio da meada, o polêmico e polissêmico tema dos direitos humanos me voltou à carga em leituras e reflexões, e devo postar, em breve, alguma coisa (pena não ser “alguma poesia”, para lembrar o livro de estréia de Drummond, em 1930). No ano em que a dec

Maria, 68

Maria, a musa tatuada do Mestre, Uma combinação serpenteada Dos que juntam a rima à causa. Dançarina fardada de negro - ou de azul? – tem uma metafísica Além do bem e do mal, musa de todas As Madalenas extemporâneas. Quero que fique exposta ao sol Como um penduricalho, um brincante, Um babilaque tremendo ao vento, Um fetiche. Um parangolé pós-moderno. Quero você sozinha na multidão, Maria, A multidão é sua tribo, a sua política Sem partido tem exclusivamente lado. (Jaldes Reis de Meneses)

Trecho de um poema antigo

Jaguaribe Allen Ginsberg Carl Salomon, nossa geração de poetas sujos de vida sarjeta, viscosa, fedendo a caranguejo e cachaça, saibam vocês: Em João Pessoa os poetas precisam de ruas limpas E de madrugadas diáfanas Para a inspiração da poesia. Jaldes Reis de Meneses, madrugada de 25/03/06
Sara e Ana Jaldes Reis de Meneses Entre correntes, sobre pétalas de rosas Cabelos longos, alados negros. Pele branca da cor da madrugada Assina nua o nome de duas: Sara e Ana. Quero respirar boca a boca Duas carnes vermelhas, Minha cor mortiça misturada A duas outras cores mais vivas. Rosa negra, rosa branca, Duas tulipas, uma de couro E outra composta de neve. Samba e amor, minhas pétalas murchas Exalarão o último hálito perfumado Antes de o tempo apodrecer cada fio de saliva.

A Gaivota (Tchekhov)

O artigo a seguir, sobre a montagem teatral de A Gaivota de Tchekhov pelo grupo Piollin (que já nos havia dado no século passado Vau de Sarapalha), foi publicado no jornal Correio da Paraíba, em 07/10/2006. Há algum tempo, portanto. Embora escrito para jornal, procurei caprichar na escrita (algo que nem sempre acontece na resenha ligeira), como também não ficar estrito à letra do texto ou à encenação do Piollin. Voei como a gaivota, mas espero não ter sido abatido pelo tiro certeiro do caçador. Aproveitei a tela em branco do monitor (no passado, diríamos "folha de papel em branco") com idéias contíguas sobre o existencialismo e a função estética do realismo mágico nas formações capitalistas da periferia. Tenham uma leitura produtiva. A Gaivota (alguns rascunhos), o Tchekhov montado pelo Piollin Jaldes Reis de Meneses. Professor dos programas de pós-graduação em História e Serviço Social do CCHLA- UFPB. E-mail: jaldesm@uol.com.br Assistir à personalíssima montagem de A gaivota
Aos poucos, devagarinho, vou ao acaso compondo artigos, mais poéticos que conceituais (pouco entendo de tecnalidades musicais), sobre cantoras. Na oportunidade, posto a seguir um texto redigido ano passado, publicado no jornal Correio da Paraíba (04/02/08), sobre um show em praça pública da cantora Eleonora Falcone. Eleonora Falcone: falsa pequena voz, grande voz metálica Jaldes Reis de Meneses. Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e Serviço Social do CCHLA-UFPB. e-mail: jaldesm@uol.com.br A voz de Eleonora Falcone engana. Foi esta a impressão que nos causou a audição de seu show em praça pública sexta-feira (26/01/06), na seqüência das programações do Projeto Estação Nordeste, promovido pela Prefeitura de João Pessoa. À primeira entrega, a voz de Eleonora parece ser uma voz pequena, mesmo mignon, feito uma Nara Leão contemporânea, talhada para a bossa nova ou a balada romântica minimalista. Cantar bem bossa nova e balada não desmerece ninguém. Nara Leão cantou a bossa

Maria Bethânia e Omara Portuondo

Comecei desconfiando, desgostando. Parecia um encontro oportunista. Ademais, em primeira audição, no carro, indo e voltando da universidade (a universidade, essa máquina maluca, ao mesmo tempo, de beleza e de banalidade do mal, de floração e assassinato de jovens brilhantes, e de edição, em passeata, pois são tantos, de pequenos monstros morais, hitlers em miniatura), conversando, pensando em política (a eterna droga), preocupado com as filhas, comigo mesmo, com Gramsci ou Walter Benjamin (o herói antigo e a paixão nova), ouvia sem escutar. Como escutar com a cabeça no mundo? Audição é concentração. Gosto (o eterno Kant!) mais de Omara Portuondo que de Maria Bethânia, embora goste muito de ambas. Omara por memória de Ibrahim Ferrer e Rubén González, o cantor e o pianista, dois sábios. Amo os cubanos. Todos que me conhecem sabem que prefiro Gal Gosta (a do tropicalismo; depois, Gal e Bethânia compartilham da mesma estética) e Nara Leão a Maria Bethânia. Nara e Gal tocam mais ao meu cora

Soraia Bandeira, cantora do mundo

Fiz no post-cometário sobre o disco "Araçá Azul"(Caetano Veloso), que pode ser lido logo abaixo, uma menção ao desenvolvimento da música popular no Brasil, Estados Unidos e Cuba, postulando a abertura para o mundo, em vez do fechamento a uma "tradição". São idéias que preciso desenvolver mais, embora ache que esteja correto. Por exemplo, no caso do forró nordestisno, só a desinformação junta o ritmo do forró sem mais nem menos com uma suposta tradição atávica, ancestral. O forró, ao inverso, é a vocalização da modernidade nordestina, e só poderia ter vindo a lume na onda da "era Vargas" do rádio. Obviamente, já me tornando repetitivo, o forró está distante de significar um corte na tradição, mas desborda dela. Isso que é o bom. Cascaveando folhas do ano passado, encontrei um artigo sobre a cantora Soraia Bandeira (publicado no jornal "Correio da Paraíba", em 24/06/07), um começo do desenvolvimento dessas idéias. Boa leitura, inspirada na bela voz