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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Kant e Reginaldo Rossi

Jaldes Meneses Reginaldo Rossi é um homem de sorte: teve a ventura de morrer no século XXI, no último mês deste belo ano de 2013. Tivesse o infortúnio de morrer naquele acidente de automóvel ocorrido em 1995, por coincidência que felizmente não houve, teria ido embora da mesma maneira trágica de Chico Science – este indo numa madrugada do pré-carnaval de Olinda. Teria sido certamente enterrado numa vala comum, acompanhado da gente popular de Recife e do Nordeste, sem dúvida, mas jamais teria mais de trinta segundos de notícia em rede nacional. Muito distante, portanto, da comoção bonita e sincera que se vê hoje. Há verdade em todos os necrológios que li a respeito de Reginaldo Rossi. Mas também há algo de falso e dirigido, no sentido intentam-se a uma ascensão de novos ritmos, gostos e caminhos na música popular, no mesmo instante em que o bloco histórico da MPB definidamente se exauriu e, por outro lado, a música no Brasil continua sendo este inesgotável manancial de talento e so

O Fim de Fernanda Torres

Jaldes Meneses Li no fôlego de uma noite de verão, deitado na varanda do apartamento o romance-novela de estréia da atriz Fernanda Torres – “Fim” (Companhia das Letras, 2013). Já admirava a surpreendente cronista pela escrita elétrica, agora me aparece na brisa noturna uma escritora já antevista na crônica, de frases curtas depuradas de adversativas, em pleno domínio das técnicas narrativas, com destaque, como afirma corretamente o poeta Antonio Cicero na orelha do livro, para as magistrais instâncias de fluxo de consciência. Um estilo denso e enxuto, como se fosse um Marcel Proust lipoaspirado por Rubem Fonseca.    O romance narra as peripécias de cinco amigos – Álvaro, Sílvio, Ciro, Neto, Ribeiro – que se encontraram travestidos num carnaval carioca décadas atrás e ficaram, resumindo numa frase banal, amigos para sempre, uma camaradagem como só os homens formam, no estilo mafioso, neste caso, sem crime, de “Os bons companheiros” de Martin Scorsese . Menos que um clássico “romanc

Calendário 2014

Jaldes Meneses Parece que no mesmo ritmo em que a cidade se ilumina e as pessoas se confraternizam a política começa a sair de cena. Realmente, fecha-se o ciclo de acontecimentos relevantes deste formidável ano de 2013 e já é possível prever as perspectivas que se apresentam para o calendário do ano vindouro. Gramsci, um autor de minha predileção, já dizia que, embora sob o risco de errar, é fundamental prever em política, uma atividade fundamentalmente prática, por isso de conteúdo estratégico, que ele resumia na frase “só prevê quem opera”. Todos os que fazem política preveem em tempo integral. O grande evento de 2013 foram as revoltas de junho. Elas puseram a nu o caos urbano em que se transformou a vida nas cidades brasileiras, esclarecendo que de longe o problema-resumo nacional é a reforma urbana. O pano de fundo deste caos é o modelo de desenvolvimento, assentado no automóvel e na superexploração do trabalho dos mais pobres. O recente acidente que aconteceu nas obras do Es