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Mostrando postagens de setembro, 2013

Dom José/Dom Zumbi

Jaldes Meneses Dom José Maria Pires é um personagem de epopéia em carne e osso. Pensava nestes termos no instante em que participava da solenidade de entrega do Título de Professor Honoris Causa da UFPB, a minha Universidade, a Dom José Maria Pires, ex-Arcebispo da Paraíba entre 1966 e 1996. Porém, nada de uma epopéia remota ou distante – uma Ítaca cantada por Homero ou um mar oceano de Camões. Mas, isto sim, um personagem afirmativo de “nossa” epopéia, aquela que se desenrolou rente a nós, seus contemporâneos, jovens ou velhos, no preciso momento em que vivíamos as nossas atividades cotidianas, tantas vezes exercitávamos nossos rituais de acordar, trabalhar e estudar que nem prestávamos a devida atenção à verdadeira epopéia vivida na Paraíba nos tempos sombrios de resistência à ditadura militar. Embora Dom José também seja conhecido como “Dom Pelé”, nome digno de epopéia é Dom Zumbi. Dom Zumbi mantém-se rixo e forte como um Olmo aos 94 anos. Leu o seu belo discurso de agrade

Eduardo Campos

Jaldes Meneses             Para mim está claro como água límpida de riacho: Eduardo Campos será candidato à presidente da República em 2014 e tem na algibeira um projeto amadurecido de projeção por pelo menos oito anos. Ele sabe muito bem que haverá segundo turno. Ora, se houve segundo turno em 2010, e um surpreendente José Serra – menos por méritos pessoais e mais pela polarização ideológica brasileira – obteve inexplicáveis (entenda-se tanto voto diante de uma tão amadorística e dividida campanha!) e expressivos 44 milhões de votos, imaginem em 2014, quando, apesar de não se confirmarem as prédicas catastrofistas tucanas de falência econômica dos países emergentes, por outro lado, a economia estará longe de sorrir um ciclo virtuoso nos moldes de 2010. Viram o fiasco do leilão das estradas e do petróleo? Ainda pior, diante da promessa de mobilizações durante o período da Copa do Mundo, que mesmo que não repitam as mobilizações de junho – neste caso em 2014 –, deverão continuar

Flores Raras

Jaldes Reis de Meneses [1]               Através do intimista e elegante filme Flores Raras, o cinema irregular e repleto de altos e baixos de Bruno Barreto deu-nos à luz ao melhor filme de sua longa carreira. É verdade Barreto já foi um dia, ainda nos tempos da Embrafilme, um cineasta que provou do gosto popular, principalmente quando consorciado à literatura apimentada da segunda fase romanesca de Jorge Amado e ao corpo brasileiro de uma jovem Sonia Braga, no formidável Dona Flor e Seus Dois Maridos, atingindo píncaros de bilheteria. Por outro lado, quando inventou de enveredar pelo thriller político,brindou-nos com o sofrível Que é isso, Companheiro? Começo a constatar, examinando em retrospectiva o conjunto da obra, que o melhor cinema de Barreto se move por uma embocadura intimista, em vez do cinema popular ou o thriller político. Isto desde a sua estréia aos 18 anos, quando se lançou com ares de menino prodígio, filmando o também tocante Tati, a Garota (adaptação de um con

40 anos sem Salvador Allende

Jaldes Reis de Meneses             Completamos no mesmo dia do ataque às Torres Gêmeas, bem como da data mais prosaica do nascimento do filósofo marxista Theodor Adorno, 11 de setembro, a data do golpe militar no Chile, culminando com o suicídio, em segundo andar de Palácio, do presidente eleito constitucionalmente, Salvador Allende, que morreu como um touro que preferiu não ser fustigado pelos algozes. Mais que recapitular passo a passo o processo chileno da Unidade Popular (1970-73) – para o qual existe farta literatura a respeito –, gostaria de insistir que a experiência chilena está mais viva que nunca. Diz respeito direto e incidente aos nossos dias, no qual várias distintas experiências de governos de esquerda dominam a América Latina, que alguns dividem entre esquerda “soft” (Dilma no Brasil e Mujica no Uruguai) e “hard” (os bolivarianos Maduro na Venezuela, Correa no Equador e Evo Morales na Bolívia). Soft ou hard, as experiências mais conciliadoras ou radicais possuem u

Getúlio Vargas

Jaldes Meneses Passou quase em brancas nuvens os 59 anos do suicídio no dia 24 de agosto do ex-presidente Getúlio Vargas. Se não fosse o lançamento neste mês do segundo volume da extraordinária biografia de Lira Neto (Getúlio, volume II, Companhia das Letras, 2013), e afora uma nota ou outra quase desaparecida num pé de página de jornal ou canto escondido de portal de internet, o silêncio seria quase absoluto. É sabido que no próximo ano, quando será completa a data redonda dos 60 anos, com Tony Ramos interpretando o próprio Getúlio no cinema, a lembrança aumentará os decibéis de volume. No entanto, mais por operação de marketing do que por espontaneidade popular. Tanto ostracismo é incrível, isso por que, caramba, é impossível entender a história do Brasil no século passado – especialmente a política e a economia do capitalismo brasileiro – sem passar demoradamente pelo cotejo da saga contraditória do retrato do velho Gegê e seu charuto astuto. Pode-se considerar que o trauma do a