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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Já li de tudo

Artigo publicado hoje em colunas no jornal A UNIÃO e no Portal WSCOM Jaldes Meneses Escritor de origem árabe-palestina e cristã formado nos Estados Unidos na melhor escola de interpretação literária de um mundo erudito em extinção na cultura ocidental - a escola humanista alemã de interpretação de textos de Erich Auerbach, Leo Spitzer e Robert Curtius -, o crítico literário Edward Said, autor de “Orientalismo”, um livro clássico para entender nós e eles, faz um afirmação desconsolada no prefácio à edição de 2003 do livro (época da ocupação militar de George W. Bush no Iraque e por triste  coincidência ano de sua morte ). Vale lembrar que o livro foi originalmente publicado em 1978; portanto, bem antes daquela guerra.  Para Said, a ciência política e a história praticada pela maioria de autores do mainstream norte-americano especializados em oriente, como Bernard Lewis e Fouad Ajami - eu acrescentaria a estratégia geopolítica do “choque de civilizações" de Samuel Hunting

Podemos ser fundamentalistas

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Em entrevista concedida em 2002 ao professor britânico Glyn Daly (publicada no livro “Arriscar o impossível"), o filósofo popstar Slavoj Zizek - que escreve livros com a mesma facilidade que aflui multidões aos auditórios de suas conferências -, teceu um belo e improvável elogio da filosofia de Kant, aparentemente (somente na aparência) surpreendente para um marxista de ideias revolucionárias e radicais. Conforme Zizek, embora o vocabulário idealista transcendental de Kant seja insuficiente e esteja superado (por favor, não confundir as categorias idealistas kantianas com metafísica, mas enveredar por esse caminho seria papo obscuro de filósofo), vivemos uma época histórica extremamente interessante  porque “uma das principais consequências de avanços como a biogenética, a clonagem, a inteligência artificial (…) é que, talvez pela primeira vez na história da humanidade, temos uma situação em o que eram os problemas filosóficos [es

A civilização do Charlie Hebdo

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Existe uma modernidade islâmica? Ou os povos do oriente próximo (como se dizia no século XIX, nos tempos de vigência do colonialismo inglês), estão condenados, no máximo, a uma modalidade especial de modernização sem modernidade, uma importação da tecnologia ocidental sem tradução nos modos de cultura e urbanidade? A indagação sempre aparece quando uma desses terroristas de uma organização fundamentalista - especialmente a Al-Qaeda - explode uma embaixada (Quênia e Tanzânia), um shopping centrer (Quênia), uma estação do metrô (Londres e Madri) ou, o mais famoso de todos os atos criminosos, verdadeiro divisor de águas histórico - o atentado cometido no dia 11 de setembro por um avião sequestrado às torres gêmeas do World Trade Center, nas aprazíveis ruas de Battery Park, à beira do Rio Hudson, o melhor lugar para se viver e caminhar no mundo. A pergunta retornou com força a partir de ontem, quando três jovens invadiram a sede do jornal

A direita gramsciana brasileira

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Tanto provinciano como cosmopolita, Osvaldo Aranha, entre tantas peripécias, conspirador gaúcho do grupo castilhista de Getúlio Vargas - que de tanto conspirar fez a revolução de 1930 brasileira -, e presidente da sessão da ONU de criação do Estado de Israel em 1948, costumava dizer que “no Brasil as ideias costumam demorar a passar na alfândega”. Sempre me lembro dessa frase quando converso com pessoas ditas politizadas – até, em alguns casos, acadêmicos da área de política –, no entanto absolutamente ignorantes da existência de uma escola densa de pensamento conservador moderno, criada no século XVIII por autores distintos, em contestação ao processo da revolução francesa, mas no qual ressalto o pensamento estratégico de Edmund Burke. Pensa-se que direita significa apenas o pensamento caricatural e zoológico de Jair Bolsonaro, ou o conservadorismo cinge-se aos punhos de renda do neoliberalismo dilmista de Joaquim Levy. Quiséram