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Mostrando postagens de julho, 2014

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Jaldes Meneses A grande marca histórica do Brasil é que o nosso país jamais passou por um processo de revolução burguesa em termos clássicos, de ruptura com o antigo regime senhorial e patrimonialista. Nos termos de Florestan Fernandes, em "A revolução Burguesa no Brasil, o nosso país viveu um acelerado processo de transformação capitalista – principalmente depois de 1930 –, no qual a presença do espectro da revolução política se fez na forma contraditória das sombras da ausência. Embora esteja longe de abranger toda a realidade, nossos modelos de análise, portanto, não devem desprezar as categorias do período da República Velha – a vigência do coronelismo e das oligarquias. Ninguém vai passar pelo vexame do anacronismo. Subsiste uma parte de verdade na análise de resistência de uma parte deletéria do passado: em tempos de rede sociais, as práticas oligárquicas continuam vivas, especialmente nos períodos de campanha eleitoral. Mais além da distância de um século, há uma d

Carlos Lacerda (1914-2014)

Jaldes Meneses             O neto reconstrói a vida do avô, mas vai além, ou melhor, evoca do além a voz do avô defunto, alçado à condição de narrador reflexivo de sua própria vida em terra. Um morto narrando sua passagem na terra. A remissão literária evidente são as “Memórias póstumas de Brás Cubas” do bruxo Machado de Assis. Entretanto, o livro de Machado, embora narrasse irônica e corrosivamente as agruras de um tipo social da “elite branca” escravista dos oitocentos brasileiro, era pura ficção, realista que fosse, ao passo que o magnífico “A república das abelhas”, escrito por Rodrigo Lacerda sobre o avô, Carlos Lacerda – uma das personalidades políticas mais importantes do século XX, a completar 100 anos nestes 2014 –, poderia ser mais uma dessas biografias lastreadas em pesquisa documental, trata-se de um – conforme pode ser lido subtítulo da capa do livro –, “romance”. Há algum enigma a ser desvendado na arquitetura literária adotada por Rodrigo? Penso que sim. Carlos

O real e a farsa

                                                                                                                       Jaldes Meneses             Aos 20 anos de edição do Plano Real O Plano Real completa 20 anos. São, por incrível que pareça, 20 anos de incompreensão das molas mestras do conteúdo do plano. A versão mais difundida resume-se a uma edulcorada narrativa de epopéia: o plano fora concebido por economistas geniais (Pérsio Árida, André Lara Resende e Edmar Bacha) e um ministro-intelectual capaz de formar equipes (Fernando Henrique Cardoso). Melhor erigir mitos que entender a verdade. Até antes de morrer (qualquer um é canonizado no Brasil quando morre), o presidente Itamar Franco era considerado – não se sabe como, pois ele era o chefe do executivo –, mais um trapalhão que um estadista. A operação de propaganda de apagamento de Itamar – como Stalin apagou Trotsky da história da revolução russa – tinha o óbvio interesse em fazer sobressair o protagonismo dos tucanos e d