Antonioni/Bergman

Jaldes Reis de Meneses

Entre a assombração o e o alumbramento,
No momento do sétimo selo, chegou-me um homem fardado de negro.
Vinha do gelo. Parecia, sem sê-lo, um espectro hamletiano. Era o meu ego.
Encontrei-me face a face com ele:
Disse-lhe: joguemos xadrez. Pedras brancas ou pedras pretas, mestre?
- Fui um homem jovem atormentado, mas encontro-me pacificado na senectude.
Segui o mundo da aventura com Mônica Vitti e Liv Ullman.
Mônica se foi na derradeira estação e Liv ficou triste.
Já posso ir-me embora. Eu agora sou feliz, eu agora vivo em paz.
Tenho o sabor de morangos silvestres, que antes foram mofados,
Mas os fiz rejuvenescer em preto e branco.
Segui o encantamento do fotograma sem explicação,
Pois o cinema nada explica.
O cinema é para além da agonia,
Um objeto interior ou uma estrela. Uma imagem.
Um olho que nunca olha, apenas expõe.
Fiz certo, meu ego?
Presto contas dos meus fotogramas a você, não presto contas a Deus.
Deus não existe, mas seria condescendente comigo.

Nas pedras do tabuleiro,
O mistério se dissipa: nada explica.


Comentários

Anônimo disse…
querido Jaldes,
Já te disse adoro esse teu texto!!
abraços.

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