Tropa de Elite, Benjamin, Tarantino

A questão surgiu de um debate em sala de aula. Estou “armazenando” aqui no blog, visando desenvolvimento posterior, senão esqueço, quase inevitavelmente. Discutia com alunos um texto manjado, embora bastante legal, de Walter Benjamin (A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica), e surgiu a seguinte digressão, por mim lançada à reflexão dos alunos: tomemos o conceito de “valor sacral” em Benjamin. Para o crítico alemão, a obra de arte no passado tinha um valor sacral, vindo da “aura” imanente a ela, significando a propriedade advinda de seu caráter individual e irreprodutível. Dessa maneira, a “aura” era o último refúgio da religião em arte; nos tempos modernos em diante, porém, com as técnicas de reprodução (a Mona Lisa pode ser estampada em qualquer camisa), a arte foi se dessacralizando. Deixemos o otimismo de Benjamin de lado. O fato é que, de maneira diversa do passado, persistem elementos de culto, hoje, na fruição artística. Há, por exemplo, um “culto sacral” da violência no cinema, e apontei como exemplo o cinema de Quentin Tarantino. Um aluno perguntou sobre a violência em “Tropa de Elite”. Eis uma interessante questão: pensando a partir da cabeça de Benjamin, que opera, no mesmo texto, com uma clivagem entre “valor sacral” e “valor de exposição”, talvez a violência em Tarantino seja de tipo sacral/cultual (a estetização é provocante, inverossímil, virtual, autista, “técnica”), ao passo que em “Tropa de Elite” a representação da violência é mais realista (privilegia-se a verossimilhança, nos termos de Aristóteles). Por isso, apesar de todas as críticas (eu mesmo fiz uma crítica relativamente dura), “Tropa de Elite” dificilmente pode ser classificado como um filme “fascista”, a não ser como retórica de quinta categoria. E Tarantino? Dia desses, volto ao tema, incluindo “Assassinos por natureza” (Oliver Stone) e outros filmes... Estar em sala de aula é um privilegio por esses debates, ainda mais com alunos instigantes. (Jaldes Reis de Meneses).

Comentários

Anônimo disse…
Prezado Professor

Assisti o filme Tropa de Elite e o “classifiquei” como um filme “facista”.
Depois que assisti li algumas críticas, inclusive a sua que achei muito boa. Mas a que eu achei mais “próxima” da minha opinião foi a escrita por Ivan Pinheiro, que provavelmete o Sr. já leu, se não, está na http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=30050.
No que o Sr. se fundamenta para dizer, com certeza de, que o filme não pode ser enquadrado com um filme “facista” e quem o enquadra desta forma esta usando uma retórica de “quinta categoria”.
Obrigado, o seu blog é muito bom.

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