Lula
Deve parecer estranho a quem me conhece de anos e anos de ativismo político, e depois de análise política sistemática, só ver agora Lula freqüentando este blog. Vai aparecer mais, doravante, hehe. Vamos a uma rápida análise da pesquisa CNT/Sensus. Alguém pode explicar por que uma Federação de empresários faz pesquisas de opinião sobre o governo federal? Parafraseando Noel Rosa, coisas nossas.
Em primeiro lugar, surpresa zero em saber que o governo Lula teve neste começo de fevereiro o melhor desempenho desde o primeiro ano de mandato, em 2003. Afora a personalidade Lula - que só cresceu presidente da República -, deve-se levar em consideração o desastre político da oposição ao governo: semana passada, por exemplo, na questão da CPI dos cartões corporativos, o PSDB (o DEM e seu tipo de oposição sistemática – mimetizando o antigo PT pela direita – é outra conversa, escreverei qualquer dia, rs, só não aconselho ninguém a se filiar, um partido de futuro incerto) assumiu um enredo que mais parece um tiro no próprio pé, aceitando um acordo de deixar de investigar as despesas pessoais de Lula e FHC. Este é o tipo de acordo que só interessa ao governo atual, principalmente por trazer que volta a tese, exercitada à exaustão na crise do mensalão, de que o PT só repete o cotidiano dos governos anteriores. Mais ainda: o tema corrupção, por enquanto, se desgastou como forma de fazer oposição à figura do Presidente. A não ser que a denúncia de um superescândalo, difícil de ocorrer, venha à tona.
Claro, o pano de fundo das sucessivas crises de corrupção continua operante: aquilo que chamo, em debates e sala de aula, de crise permanente das instituições republicanas: Executivo, Legislativo, Judiciário, etc. Aliás, a pesquisa CNT/Sensus confirma minha tese, todas as instituições - afora a Igreja e o Exército - deitam na UTI de um hospital, principalmente o Congresso (o eterno campeão) e mesmo o Executivo, também pessimamente avaliado. Lula vai bem, mas a política vai mal.
De alguma maneira, a crise da política tem fortalecido o tipo de poder unipessoal. Se me permitem uma digressão, sequer este fato é novidade: sistematicamente, as crises das instituições políticas, na história contemporânea (pensemos na França de Luís Bonaparte e no Brasil de Getúlio Vargas, para ficar apenas em dois de muitos exemplos). Algum analista político pode polemizar nos seguintes termos: bom, mas Napoleão III e Vargas foram ditadores, ao passo que Lula respeita as regras do jogo democrático. De acordo. Porém, não esqueçamos que Luís Bonaparte foi eleito em 1850 (depois deu o golpe militar) e Vargas foi o político mais popular do Brasil no século passado, enquanto vivo, e se foi o ditador do Estado Novo, por outro lado, venceu as eleições de 1950, contando principalmente com o carisma popular, mais do que as forças tradicionais.
A política contemporânea trabalha invariavelmente com algum grau de bonapartismo, cuja maior evidência, hoje, é precisamente o papel insubstituível dos meios de comunicação de massas, na ligação direta entre o líder (uma conhecida expressão fascista) e a população. Sobre os parlamentos modernos, a outra face da ligação direta líder-eleitor permitida pela mídia, Gramsci prefere o termo cesarismo a bonapartismo, afirmando que em qualquer sistema parlamentar (eu aduziria: e também presidencialista), temos, nos momentos de crise, quase sempre, a emersão da figura de um César (mais ou menos nos termos das crises finais da República Romana). Ora, qual o significado do tipo de relação que Lula constrói com o parlamento mesmo comprado a peso de ouro (cargos nas estatais, emendas parlamentares, etc.), senão de um tipo cesarista? Quem garantia a força de Júlio César no Senado romano era o exército e a plebe, duas esferas de fora do jogo do Senado, as quais ele transava expectativas (prestígio e reforma agrária).
O combustível de Lula é o crescimento econômico, as altas margens de lucro e o bolsa-família, uma tríade que deu origem ao Lulismo, um populismo novo distinto de petismo. Não nos enganemos: a coalizão parlamentar tem como principal fiador um elemento estranho a ela: exatamente a boa avaliação do governo – concentrada no desempenho pessoal de Lula –, por isso ela não precisa ser ideológica nem programática.
Para mim, sobretudo, há uma pequena novidade nas simulações da eleição presidencial de 2010: Serra continua na frente e Ciro mantém o segundo lugar, seguido de Heloísa Helena, mas Dilma Roussef aparece com 4,5%. Pode parecer irrisório, mas somando os percentuais de Ciro, Heloísa e Dilma, parece que o quadro sucessório encaminhar-se-á, talvez, para um segundo turno, afetando o favoritismo de Serra. Miragem. Não, caso avaliarmos à sério a incapacidade da oposição em formular uma alternativa programática crível ao governo Lula, mesmo no item combate à corrupção. Aécio Neves? Faltou considerar o papel do governador de Minas. Não faltará oportunidade. Bem, Aécio não é candidato de oposição, mas de um grande acordo com o governo... (Jaldes Reis de Meneses).
Em primeiro lugar, surpresa zero em saber que o governo Lula teve neste começo de fevereiro o melhor desempenho desde o primeiro ano de mandato, em 2003. Afora a personalidade Lula - que só cresceu presidente da República -, deve-se levar em consideração o desastre político da oposição ao governo: semana passada, por exemplo, na questão da CPI dos cartões corporativos, o PSDB (o DEM e seu tipo de oposição sistemática – mimetizando o antigo PT pela direita – é outra conversa, escreverei qualquer dia, rs, só não aconselho ninguém a se filiar, um partido de futuro incerto) assumiu um enredo que mais parece um tiro no próprio pé, aceitando um acordo de deixar de investigar as despesas pessoais de Lula e FHC. Este é o tipo de acordo que só interessa ao governo atual, principalmente por trazer que volta a tese, exercitada à exaustão na crise do mensalão, de que o PT só repete o cotidiano dos governos anteriores. Mais ainda: o tema corrupção, por enquanto, se desgastou como forma de fazer oposição à figura do Presidente. A não ser que a denúncia de um superescândalo, difícil de ocorrer, venha à tona.
Claro, o pano de fundo das sucessivas crises de corrupção continua operante: aquilo que chamo, em debates e sala de aula, de crise permanente das instituições republicanas: Executivo, Legislativo, Judiciário, etc. Aliás, a pesquisa CNT/Sensus confirma minha tese, todas as instituições - afora a Igreja e o Exército - deitam na UTI de um hospital, principalmente o Congresso (o eterno campeão) e mesmo o Executivo, também pessimamente avaliado. Lula vai bem, mas a política vai mal.
De alguma maneira, a crise da política tem fortalecido o tipo de poder unipessoal. Se me permitem uma digressão, sequer este fato é novidade: sistematicamente, as crises das instituições políticas, na história contemporânea (pensemos na França de Luís Bonaparte e no Brasil de Getúlio Vargas, para ficar apenas em dois de muitos exemplos). Algum analista político pode polemizar nos seguintes termos: bom, mas Napoleão III e Vargas foram ditadores, ao passo que Lula respeita as regras do jogo democrático. De acordo. Porém, não esqueçamos que Luís Bonaparte foi eleito em 1850 (depois deu o golpe militar) e Vargas foi o político mais popular do Brasil no século passado, enquanto vivo, e se foi o ditador do Estado Novo, por outro lado, venceu as eleições de 1950, contando principalmente com o carisma popular, mais do que as forças tradicionais.
A política contemporânea trabalha invariavelmente com algum grau de bonapartismo, cuja maior evidência, hoje, é precisamente o papel insubstituível dos meios de comunicação de massas, na ligação direta entre o líder (uma conhecida expressão fascista) e a população. Sobre os parlamentos modernos, a outra face da ligação direta líder-eleitor permitida pela mídia, Gramsci prefere o termo cesarismo a bonapartismo, afirmando que em qualquer sistema parlamentar (eu aduziria: e também presidencialista), temos, nos momentos de crise, quase sempre, a emersão da figura de um César (mais ou menos nos termos das crises finais da República Romana). Ora, qual o significado do tipo de relação que Lula constrói com o parlamento mesmo comprado a peso de ouro (cargos nas estatais, emendas parlamentares, etc.), senão de um tipo cesarista? Quem garantia a força de Júlio César no Senado romano era o exército e a plebe, duas esferas de fora do jogo do Senado, as quais ele transava expectativas (prestígio e reforma agrária).
O combustível de Lula é o crescimento econômico, as altas margens de lucro e o bolsa-família, uma tríade que deu origem ao Lulismo, um populismo novo distinto de petismo. Não nos enganemos: a coalizão parlamentar tem como principal fiador um elemento estranho a ela: exatamente a boa avaliação do governo – concentrada no desempenho pessoal de Lula –, por isso ela não precisa ser ideológica nem programática.
Para mim, sobretudo, há uma pequena novidade nas simulações da eleição presidencial de 2010: Serra continua na frente e Ciro mantém o segundo lugar, seguido de Heloísa Helena, mas Dilma Roussef aparece com 4,5%. Pode parecer irrisório, mas somando os percentuais de Ciro, Heloísa e Dilma, parece que o quadro sucessório encaminhar-se-á, talvez, para um segundo turno, afetando o favoritismo de Serra. Miragem. Não, caso avaliarmos à sério a incapacidade da oposição em formular uma alternativa programática crível ao governo Lula, mesmo no item combate à corrupção. Aécio Neves? Faltou considerar o papel do governador de Minas. Não faltará oportunidade. Bem, Aécio não é candidato de oposição, mas de um grande acordo com o governo... (Jaldes Reis de Meneses).
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