Walter Benjamin e Chico de Oliveira

Ao analisar o filme "Tropa de Elite" (o artigo pode ser localizado aqui no blog), fiz menção, em tom de ironia, ao surgimento no Brasil de um "capitalismo de matriz colombiana", com ênfase nas políticas violentas de segurança, perfigurando, aliás, um monolito com as políticas sociais compensatórias (o bolsa-família é um sucesso brasileiro de exportação, começará em breve a ser aplicado no Egito e até em Nova Iorque). Pão e cacetete. Assim, garantimos o desenvolvimenot econômico, este bezerro de ouro das elites institucionais da esquerda brasileira. Faltou um elemento em minha análise, embora implícito: a permanência das práticas econômicas de acumulação, senão primitivas, pós-modernas. Quem tem uma página brilhante sobre as práticas de acumulação primitiva no Brasil de hoje, mas também do passsado, da época clássica do desenvolvimentismo capitalista (compreendido no período histórico 1930-1980), é o velho e sempre arguto Chico de Oliveira, um intelectual crítico desnutrido de preconceitos, sempre se renovando, sem medo de encarar pensadores distintos (e geniais) como Marx e Foucault. Pois bem, Chico se inspirou na persitência da acumulação primitiva (pós-moderna ou de modernidade tardia, no momento de um post é ocioso rigor conceitual absoluto) não em Celso Furtado (o pai do conceito de subdesenvolvimento, sempre um analista importante das estruturas da economia brasileira), mas em Walter Benjamin. Reparem:

Walter Benjamin - Item 8 das Teses sobre o Conceito de História: "A tradição dos oprimidos nos ensina que o 'estado de exceção' em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade".

Chico de Oliveira - O Ornitorrinco: "O subdesenvolvimento viria a ser, portanto, a forma de exceção permanente do sistema capitalista na sua periferia. Como disse W. Benjamin, os oprimidos sabem do que se trata. O subdesenvolvimento finalmente é a exceção sobre o oprimidos: o mutirão é a autoconstrução como exceção da cidade, o trabalho informal como exceção da mercadoria, o patrimonialismo como exceção da concorrência entre os capitais, a acumulação estatal como exceção da acumulação privada..."

(Jaldes Reis de Meneses)

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