Baudelaire: autonomia da poesia e diálogo com a filosofia e a ciência

Trecho para guardar e desenvolver mais tarde, meio como um diário. A seu modo, na breve passagem escrita em 1852, postado no final do presente texto, Baudelaire defende a autonomia do poético em face da filosofia e da ciência, porém recusando, no mesmo movimento de afirmação da arte (e da poesia) como "finalidade sem fins" (recordando a fecunda démarche da Kant, na 'Crítica do Juízo'), qualquer posição autista da poesia. Por que cito Baudelaire, quando poderia escolher outros autores? Mais evidente do simples motivo de ser um grande poeta da modernidade, cito o poeta francês porque determinada corrente de críticos recorrem, de maneira equívoca, a Baudelaire afim de interditar a possibilidade de um conhecimento da matéria e das categorias estéticas abrirem caminho à compreensão da obra de arte. Preconizam a possibilidade de escapar das categorias da estética através de uma "leitura imanente" (na verdade, descontado a retórica, menos: uma hermenêutica envergonhada auxiliada por textos de teoria da linguagem). Em tais críticos reducionistas, mirando o alvo em Kant e Hegel, principalmente, a estética seria, apesar dos mil disfarces, uma corrente classista, um campo passadista da filosofia, um sintoma da época da aurora burguesa, hoje decadente, devendo a arte virar-lhes as costas. Baudelaire não envereda pelas sendas de negar a estética, uma criação da modernidade do século XVIII - o tempo da aurora burguesa -, que transcendeu às vicissitudes do tempo em que foi criada: "Não está distante a época em que se compreenderá que toda a literatura que se recuse a caminhar fraternalmente entre a ciência e a filosofia é uma literatura homicida e suicida." (Jaldes Reis de Meneses).

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