Carnaval

Na passagem da semana santa, carnaval. Trata-se dos primeiros trechos de um poema que já tem trama, enredo, mas não tem ainda os versos nem a forma final definitiva. Publico no blog porque a internet é essencialmente um espaço de troca de tralhas, ao passo que talvez o livro configura um estágio mais acabado da obra (mesmo assim, qualquer obra de arte não tem fim, o ponto final é somente o momento em que nos liberamos formalmente da “coisa”. Talvez seja precisamente este momento de liberação parcial e formal da "coisa" aquilo que Aristóteles chama de catarse, donde a coisa nunca se completa e a catarse não tem fim, constituindo uma espécie de eterna repetição. Será?)

1)Invocamos numa oração:

Às flores do Cafuçu, feito
O Frevo escorregadio, maneiro,
Das notas altas de Vassourinha
Descendo as ladeiras de Olinda.

Às Flautas pagãs de uma Evocação:
Chama o teu deus da dança mágica,
Cava a direta claridade qual
O céu evanescente da montanha.

Às cores tortas de um Anjo Azul
Quase dançarino incandescente
Sem o sentimento de pecado.
Sorriso alegre de porte amargo.

Às Valsas e violões de Miramar,
Lá se a melhor parte da alma é levada,
Vou da meia-noite até a luz do sol,
Piso a areia trôpega do mar.

2) Estribilho do coro:

Carnaval, bacanal, Evoé Baco,
Som sem som a que nós escutamos
Quando o trio do esculamba se perdeu
Nas multicores das Muriçocas.
Desce, oh!, deus embriagado
Das nuvens brancas dos sem-castigo,
Dança ao ritmo de Frevo-mulher,
Saboreia Sodoma e Gomorra.
Testa da loucura acompanhada
Dos solitários, toma um gole
Quente de cachaça desdentada.
Volta ao Olimpo moribundo
Do uso dos prazeres da terra,
Entrega tua alma sem corpo
No corpo da Virgem de Tambaú.

(Jaldes Reis de Meneses)

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