Bossa Nova

De volta à bossa nova. Assisti coisa de 15 dias a entrevista de Carlinhos Lyra no "Roda Viva". Presentes, Sérgio Cabral, Tarik de Souza e Ruy Castro. Engraçado, os três mais o entrevistado pouco se entenderam sobre o batido assunto das origens da bossa nova. Achei Sérgio Cabral restrito, muito ligado ao samba, fazendo de conta que a galera pouco estava de olho no jazz. Aliás, mais que no jazz, o pessoal originário da bossa nova estava atento à canção americana e, principalmente Tom Jobim, no impressionismo francês. Para mim, a canção de Jobim sempre flertou com um realismo impressionista, mais plástico que propriamente musical, sei lá, um misto de Cézanne e o velho Debussy. O lado brasileiro veio pelo violão de Vila-Lobos, mais que qualquer outra influência estritamente popular. Resta dizer que embora Tom Jobim seja um bossanovista genial, ele não é o mais típico (tipicidade é mesmo com João Gilberto), inclusive por que percorreu muitas sendas em sua carreira, se aproximando, quando entrou em certo impasse criativo musical, aí pelos anos 70, do grupo mineiro (Milton e os demais). A natureza em Jobim é essencialmente uma tradução mineira, mata atlântica e cerrado com disfarce amazônico (Vital Farias tampouco é amazônico). Péra! Tou viajando demais. Retornando. Carlinhos Lyra se saiu muito bem, contudo, por outro lado, exagerou um pouco quando marcou em demasia o chavão da bossa nova como movimento de classe média. Neste ínterim, Ruy Castro, sempre o melhor historiador da bossa nova, em muitos momentos repôs as ênfases (ou exageros) de Carlinhos ao seu devido lugar. Estou abusando da memória, mas acho que Carlinhos acabava aquiescendo às observações de Ruy Castro. Só revendo a fita. Carlinhos foi um cara superimportante na bossa nova, além das belas canções, abriu o novo estilo ao morro e à política, fez o trajeto do CPC da Une ao Partido Comunista. A questão do endogenismo classe média se explica também por esse filão: novamente Caetano Veloso matou a charada: o Brasil ainda não fez por merecer a bossa nova. Tão perto, tão longe. Por enquanto, apenas por enquanto. (Jaldes Reis de Meneses)

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