Cida anti Sila

Jaldes Reis de Meneses

O mar só acode o marinheiro depois
De conhecer uma mulher em cada porto,
As viagens são as esmeraldas de Fausto no cabaré.
Faltou a Homero, ocupado com a narrativa da guerra,
Cantar o sonho hipnótico de um marujo e uma sereia
De pernas belas – uma maior que a outra –,
Olhos bonitos, boca carnuda e voz determinada
Á qual Ulisses cedeu afinal na alta madrugada.
O galo cantou os setes mares das cítaras
De Zeus. O poeta abandonou o soneto.
O chão da terra estremeceu. Penélope, coitada,
Torceu mais uma vez a trama em retalhos.


A fugacidade adorna o vício, cada
Porto tem um jogo. Apenas o canto
Da sereia exige fidelidade. As ondas
Do ciclone apagam, a maresia cheira
A orvalho. Cida apareceu numa nuvem branca feito
Beatriz angelical, depois de vencida a passagem
Marítima do círculo do inferno ao paraíso.
Ulisses deixou de recordar no espelho
O amor que um dia teve, terra longe
Nunca mais. Bastava-lhe o enlevo da
Eternidade com a Sereia, por isso jogou-se ao mar,
E nunca mais ancorou no porto perdido de Ítaca, nunca mais.

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