Poema do Adiamento

Jaldes Reis de Meneses

A poesia nasce mais da infelicidade que da felicidade,
Mas se acaso formos felizes deixarei de ser poeta?
Há uma página em branco, em frente, que desejo preencher:

Vejo as multidões se devorando e o dia da carnificina
Suspenso no ar para depois de amanhã. Enquanto isso
Vivemos – aturdidos, é bom que se diga –, eu, Cida
E minhas duas meninas. Eu, Cida, as meninas e todos nós.
Ninguém escapa a não ser o inseto rápido pela janela
Dentro da noite veloz. Quem é bom e quem é mal
Se o meu irmão do peito me abandonou e vai sangrar
Em praça pública até morrer? Não agüento
A contemplação do mundo, fujo dos lobos,
E na outra margem do rio somente encontro máscaras
Retilíneas à minha vocação ao disfarce. Adio
A hora da verdade o tempo inteiro: chamo o adiamento
De felicidade, mas quem duvida?

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