A quem interessar possa

Um comentário óbvio: Os poemas do blog estão em teste. Nenhum é definitivo. São imagens, algumas fortes, a serem trabalhadas, nenhumas ou algumas poucas procurando métrica e rima (para mim, a melhor poética da modernidade ainda é o verso livre). Prefiro ir a busca dos cistes do discurso e dos grafites urbanos que olho ligeiro a partir do banco traseiro do carro em vez da rima pobre ou da rima rica.

Entendo prosa de retórica e poética, todavia as pessoas com as quais compartilho minhas experiências estão soltas no mundo, indivíduos, e não entendem do assunto à maneira dos tempos de Camões. Em um livro de juventude, antes da consolidação da fase marxista, "A teoria do romance", Lukács, logo no começo do texto, faz remissão a sociedades de "totalidade fechada", dando o exemplo clássico da Grécia homérica. Nossa totalidade, ao contrário, é aberta e no mais das vezes fragmentária. Por isso, Walter Benjamin faz menção, com tanta ênfase, ao fenômeno da perda da experiência tradicional, comunitária, no mundo contemporâneo.

É assunto a pesquisar, mas tudo isso tem a ver com métrica e rima. Talvez o verso de métrica precisa combine melhor em sociedades comunitárias de totalidade fechada que em sociedades abertas. Nada disso elimina o uso das formas consagradas da poética e da retórica, mas o uso atua como reminiscência, um eco, um estudo sistemático do poeta inteligente. Pode-se perguntar: e por que a sextinha é popular entre os compositores de MPB? Reminiscência, meu caro: a última morada do "popular" na música universitária brasileira. O violeiro que respeita a métrica e a rima de alguma maneira é um dogmático (no bom sentido da palavra), seu mister é empático à sociedade do sertão nordestino, pré-industrial, em vários termos - em nem todos e a cada dia menos -, homérica e de totalidade fechada. Cultura ao mesmo tempo, aliás, conservadora e de resistência, como Glauber Rocha captou com maestria em "Deus e o diabo na terra do sol". Quando o Sertão (a totalidade fechada) se abre - seja lá ao que for -, a cantiga de viola e o repente passam a precisar da ajuda cultual externa tanto do folclorista romântico como do Estado, em operação casada; o primeiro, via de regra (nem sempre quanto às intenções), um aparvalhado bem intencionado; quanto ao segundo (o leviatã satânico de Hobbes, que veio a lume para por em ordem a maldade humana, que ameaçava a própria sobrevivência da espécie, e o mais frio e cruel dos monstros, nas palavras de Nietzsche), todos sabemos ao que veio.

Volto ao verso livre. Minha extemporaneidade não dura um segundo. Por isso, Cazuza é um grande poeta. Há muita repetição em meus poemas: anjos (alados, castrados ou barrocos), cigarros atados em muitas mãos (ou só na da mesma pessoa enigmática?). Nunca fumei nem vou estrear nos fumos depois de duas filhas crescidas. Todos os anjos tortos e fumos à deriva serão depurados ou jogados no devido tempo na lata do lixo. A poesia não tem a mínima importância, vide os poetas e os leitores de poesia. (Jaldes Reis de Meneses).

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