Benjamin e Baudelaire
Passei por uma experiência prazerosa recentemente: a feitura de um pequeno poema em cinco seções de oito versos longos – Baudelaire –, concebido de início quase ao acaso (os versos do poema estão publicados entre os cinco poemas do post abaixo). A chamada "inspiração" pelo senso comum veio a partir da pesquisa sobre materiais bibliográficos de um curso sobre modernidade na Universidade, precisamente o curso de Pós-Graduação em História da UFPB. É feito a trama um novelo: uma vez puxado, um mundo de questões aparecem e reaparecem. Tento, agora, com mais tranquilidade, depois da tempestade catártica, debater a algumas destas questões.
As questões que surgiram me levaram a uma decisão, embora ela nem seja tão firme assim (posso abandonar boas idéias sem remorso): continuar a desenvolver o poema inspirado em Charles Baudelaire, em nem sei quantas estrofes e versos que virão a lume, sem, contudo, querer transformá-lo em uma biografia versificada, oscilante entre o chato e o pretensioso, mas de todo modo um tipo de poesia que requer pesquisa histórica, a ser usada livremente e desenquadrada do cânon da narrativa histórica. Melhor que narrativa histórica, talvez - quem sabe? -, esteja intentando a uma despersonalização poética de Baudelaire. Só se pode despersonalizar personagens...
Não se trata, obviamente, de inventar um gênero, mas de ancorar o trabalho de composição do poema em informação histórica sistemática a ser diluída nas figuras de linguagem inerentes ao processo de confecção de um texto literário, neste caso, carregado de informação teórica sublimada. Sem abolir a intuição, meu desejo é potenciá-la, se for possível.
Há muito a dizer sobre Baudelaire e pode-se afirmar que há múltiplos baudelaires: além de vida pessoal aventurosa, ele é um desses personagens da literatura sujeitos a uma miríade de estereótipos, ao acaso revelador mais dos leitores do que do próprio poeta. Muitas vezes, ele é pintado como um “poeta maldito”, aproximado do esoterismo, dos vícios e do mal. Com efeito, Baudelaire aventurou-se nos paraísos artificiais do vinho, do haxixe e do ópio.
Decerto, residem na fama de maldito muitos dos elementos da notoriedade do poeta e do fascínio de sua recepção no século XX, e ainda hoje. Recordemos a admiração nutrida por Jim Morrison (The Doors), para ficar apenas em um exemplo da contracultura dos anos sessenta. Nesta apreciação, Baudelaire aparece como um romântico, uma espécie de sucessor geracional retardatário de William Blake (poeta romântico inglês), o que rigorosamente nunca foi.
O poeta francês afastou-se o mais que pôde do ethos romântico, dos mitos arquétipos de fundação da comunidade nacional (a pedra de toque do projeto político dos diversos romantismos), da cultura popular, e formulou por meio de uma linguagem emergente e obscura um projeto poético em processo de afastamento do romantismo: acolheu o homem comum moderno em sua poesia, como observou T. S. Eliot. Por outro lado, ao acolher o homem moderno, e isto é fundamental, ele não trouxe a linguagem das ruas à forma poética, mas procurou transfigurá-la em uma expressão íntima, para muitos até exageradamente rebuscada. (Brecht, por exemplo, detestava as firulas de linguagem de Baudelaire). Vale dizer: Baudelaire é totalmente avesso ao prosaísmo em poesia, tão em voga atualmente.
Em registro distinto do da contracultura, mais matizado, temos o Baudelaire de Walter Benjamin (Um lírico no auge do capitalismo), continuado na tradição marxista de Marshall Berman (Tudo que é sólido desmancha no ar) e Dolph Oehler (Quadros parisienses). Ora, se é verdadeiro que Benjamin foi o mais alternativo e místico dos marxistas, em seu prazer pelo ópio e sua relação com a cabala, no que guarda relação de vizinhança com a versão de Baudelaire como “poeta maldito”, o acento do (proto)frankfurtiano (e também dos sucessores no marco teórico) é outro: a trajetória de Baudelaire é descrita – ao menos em alguns momentos de sua trajetória (tanto como critico literário como poeta) –, como um cronista espontâneo da modernidade e da técnica capitalista; um poeta que compôs pastorais dialéticas, devidamente cifradas, à espera de um hermeneuta, das multidões que superlotam praças e avenidas de uma metrópole como Paris.
Tido por muito tempo como escritor apolítico – aliás, esta é a versão de Sartre –, a leitura benjaminiana de Baudelaire inverte os sinais do senso comum: aproxima a poética baudelaireana da crítica da economia política efetuada por Marx, no que a obra dos grandes artistas modernos, discrepantes da tradição do romance realista do século XIX (a exemplo de Baudelaire, Proust e Kafka) pôde inclusive ser resgatada em viés anticapitalista.
Vou tentar resumir, nos limites de um texto curto, a versão de Benjamin. O crítico alemão liga o estudo de Baudelaire à problemática das dificuldades da experiência e da memória na modernidade. Para ele, já não há possibilidade de transmissão orgânica da cultura pelas formas da narrativa tradicional, oral ou mesmo escrita, donde a própria impossibilidade de vivermos a contento, de maneira direita, a plenitude da experiência lírica. Pois bem, conforme Benjamin há em Baudelaire o exercício de uma estratégia de reviver a possibilidade da experiência lírica, embora indiretamente: através do processo de choque.
O que significa isto, que a tantos confunde? O “choque” vem a ser uma maneira de proteção da psique dos impulsos externos ao sujeito individual, ou seja, um mecanismo de defesa, a técnica de uma pessoa que submeteu o sistema sensorial a um treinamento de natureza complexa. Dessa maneira, a nova poética de Baudelaire seria a elaboração, sublimação, no campo da estrutura formal de um poema, da experiência do choque moderno, nas descargas incessantes de novidades (apelos materiais e imagéticos) a que somos submetidos pela experiência da modernidade.
Da noção freudiana de choque, extraída da análise de Baudelaire, Benjamin deriva uma particular noção de tempo. Com efeito, Benjamin postula a uma temporalidade que recusa a continuidade, ou mesmo a noção de processo; nesta, o passado encontra-se soterrado no presente, mas tem a propriedade de emergir de súbito. Uma pequena digressão de Benjamin sobre Em busca do tempo perdido (No caminho de Swann), primeiro livro do clássico romance de Proust, pode elucidar esta relação entre tempo, memória, experiência e choque: Proust conta que tinha dificuldades (um bloqueio) em recordar de sua infância, passada na cidade provinciana de Combray, mas em determinada ocasião ele sente o cheiro (um choque) de um bolo de chocolate similar ao de sua infância. Dimana daí o fio da memória do narrador, significando duas coisas: a materialidade, o presentismo e a atualidade da memória e do próprio passado, interveniente direto pela realidade do bolo e o simbolismo desatado pelo narrador- memorialista.
Admiro a inspiradora leitura de Walter Benjamin e seu possante núcleo duro – a idéia do estranhamento provocado pela alegoria como os deslocamentos da forma-mercadoria. Grande crítico literário, as idéias de Benjamin sobre Baudelaire são tão poderosas que pode ofuscar a própria apreciação do poeta francês a partir de sua própria obra (uma outra leitura válida).
Ademais, Benjamin, como Marx, é tanto um crítico como um poeta da mercadoria: muitas de suas passagens críticas são inspirados versos disfarçados em forma de prosa, tanto que Willi Bolle, na bela tese, depois transformada em livro, Fisiognomia da metrópole moderna (Edusp, 1994) adaptou como epígrafes versificadas vários trechos benjaminianos de boa crítica, assim como Caetano Veloso musicou a ensaística de Joaquim Nabuco. Lição: muitos momentos da crítica de Benjamin, assim como a ensaística de Nabuco são autênticos poemas.
Nem tudo são flores. Benjamin acabou virando, pela popularização em círculos letrados, cacoete de dissertação, acobertado sob o disfarce de "crítica imanente". Dessa maneira, corre-se o risco de percorrer outra vez, mais uma vez, e da mesma maneira, os poemas de Baudelaire comentados por Benjamin. Recita-se, sem charme, os mesmos exemplos. Dito ao molde da escrita benjaminiana: a imitação da criação produziu a mais um autômato, feito aquele jogador de xadrez da primeira das Teses sobre o conceito de história (o trunque dos cordéis embaixo da mesa, manipulando o boneco-jogador, que dura até ser apanhado pela surpresa). Se cinza é toda teoria, verde é a árvore da vida.
A recitação de alguns dos "críticos imanentes" ao menos segue, aparentemente, a letra de Benjamin. Há algo muito pior. No diapasão frívolo de certa historiografia contemporânea, uma constelação de pesquisadores cinzentos assimilaram a crítica cultural benjaminiana ao modo de produção capitalista como uma espécie de crítica vazia dos costumes, uma neutra antropologia icônica do capitalismo. Em suma, a crítica foi rebaixada à condição de metodologia de dissertação, adequado à narrativa de um “estilo” específico de época – a belle époque, dê-se em Recife ou Paris. O cotidiano pelo cotidiano, a descrição pela descrição dos modos de vida: fotografei você na minha Rolley-Flex. Tudo isso é perfumaria da incultura acadêmica, embora a burrice doutorada esteja com cotação em alta no Brasil.
Ainda há mais. A crítica imanente sob o pano de fundo da estrutura do capital não deve ser vista como exclusiva, única ou melhor porta de acesso explicativo do labor literário contemporâneo. Não creio poderem-se dissecar todos os problemas atinentes a literatura e artes pela remissão exclusiva à estrutura subjacente ou inconsciente do capital, não porque esta estrutura tenha deixado de ser interveniente, ao contrário, a cada dia é mais, mas porque outras são tão intervenientes quanto.
Por exemplo, a estrutura imanente do totalitarismo, ao menos nas formas que medrou no regime nazista e no stalinismo, dificilmente podem ser explicadas pela imanência do capital, pura e simplesmente. Será o totalitarismo uma regressão da modernidade em crise além, aquém, porém acontecido durante o capitalismo? Capital, capitalismo e barbárie compõem o mesmo diagrama trágico de perversões? Começo a me desviar do assunto, isso já é outro papo, fica para depois. Bom final de semana. (Jaldes Reis de Meneses).
As questões que surgiram me levaram a uma decisão, embora ela nem seja tão firme assim (posso abandonar boas idéias sem remorso): continuar a desenvolver o poema inspirado em Charles Baudelaire, em nem sei quantas estrofes e versos que virão a lume, sem, contudo, querer transformá-lo em uma biografia versificada, oscilante entre o chato e o pretensioso, mas de todo modo um tipo de poesia que requer pesquisa histórica, a ser usada livremente e desenquadrada do cânon da narrativa histórica. Melhor que narrativa histórica, talvez - quem sabe? -, esteja intentando a uma despersonalização poética de Baudelaire. Só se pode despersonalizar personagens...
Não se trata, obviamente, de inventar um gênero, mas de ancorar o trabalho de composição do poema em informação histórica sistemática a ser diluída nas figuras de linguagem inerentes ao processo de confecção de um texto literário, neste caso, carregado de informação teórica sublimada. Sem abolir a intuição, meu desejo é potenciá-la, se for possível.
Há muito a dizer sobre Baudelaire e pode-se afirmar que há múltiplos baudelaires: além de vida pessoal aventurosa, ele é um desses personagens da literatura sujeitos a uma miríade de estereótipos, ao acaso revelador mais dos leitores do que do próprio poeta. Muitas vezes, ele é pintado como um “poeta maldito”, aproximado do esoterismo, dos vícios e do mal. Com efeito, Baudelaire aventurou-se nos paraísos artificiais do vinho, do haxixe e do ópio.
Decerto, residem na fama de maldito muitos dos elementos da notoriedade do poeta e do fascínio de sua recepção no século XX, e ainda hoje. Recordemos a admiração nutrida por Jim Morrison (The Doors), para ficar apenas em um exemplo da contracultura dos anos sessenta. Nesta apreciação, Baudelaire aparece como um romântico, uma espécie de sucessor geracional retardatário de William Blake (poeta romântico inglês), o que rigorosamente nunca foi.
O poeta francês afastou-se o mais que pôde do ethos romântico, dos mitos arquétipos de fundação da comunidade nacional (a pedra de toque do projeto político dos diversos romantismos), da cultura popular, e formulou por meio de uma linguagem emergente e obscura um projeto poético em processo de afastamento do romantismo: acolheu o homem comum moderno em sua poesia, como observou T. S. Eliot. Por outro lado, ao acolher o homem moderno, e isto é fundamental, ele não trouxe a linguagem das ruas à forma poética, mas procurou transfigurá-la em uma expressão íntima, para muitos até exageradamente rebuscada. (Brecht, por exemplo, detestava as firulas de linguagem de Baudelaire). Vale dizer: Baudelaire é totalmente avesso ao prosaísmo em poesia, tão em voga atualmente.
Em registro distinto do da contracultura, mais matizado, temos o Baudelaire de Walter Benjamin (Um lírico no auge do capitalismo), continuado na tradição marxista de Marshall Berman (Tudo que é sólido desmancha no ar) e Dolph Oehler (Quadros parisienses). Ora, se é verdadeiro que Benjamin foi o mais alternativo e místico dos marxistas, em seu prazer pelo ópio e sua relação com a cabala, no que guarda relação de vizinhança com a versão de Baudelaire como “poeta maldito”, o acento do (proto)frankfurtiano (e também dos sucessores no marco teórico) é outro: a trajetória de Baudelaire é descrita – ao menos em alguns momentos de sua trajetória (tanto como critico literário como poeta) –, como um cronista espontâneo da modernidade e da técnica capitalista; um poeta que compôs pastorais dialéticas, devidamente cifradas, à espera de um hermeneuta, das multidões que superlotam praças e avenidas de uma metrópole como Paris.
Tido por muito tempo como escritor apolítico – aliás, esta é a versão de Sartre –, a leitura benjaminiana de Baudelaire inverte os sinais do senso comum: aproxima a poética baudelaireana da crítica da economia política efetuada por Marx, no que a obra dos grandes artistas modernos, discrepantes da tradição do romance realista do século XIX (a exemplo de Baudelaire, Proust e Kafka) pôde inclusive ser resgatada em viés anticapitalista.
Vou tentar resumir, nos limites de um texto curto, a versão de Benjamin. O crítico alemão liga o estudo de Baudelaire à problemática das dificuldades da experiência e da memória na modernidade. Para ele, já não há possibilidade de transmissão orgânica da cultura pelas formas da narrativa tradicional, oral ou mesmo escrita, donde a própria impossibilidade de vivermos a contento, de maneira direita, a plenitude da experiência lírica. Pois bem, conforme Benjamin há em Baudelaire o exercício de uma estratégia de reviver a possibilidade da experiência lírica, embora indiretamente: através do processo de choque.
O que significa isto, que a tantos confunde? O “choque” vem a ser uma maneira de proteção da psique dos impulsos externos ao sujeito individual, ou seja, um mecanismo de defesa, a técnica de uma pessoa que submeteu o sistema sensorial a um treinamento de natureza complexa. Dessa maneira, a nova poética de Baudelaire seria a elaboração, sublimação, no campo da estrutura formal de um poema, da experiência do choque moderno, nas descargas incessantes de novidades (apelos materiais e imagéticos) a que somos submetidos pela experiência da modernidade.
Da noção freudiana de choque, extraída da análise de Baudelaire, Benjamin deriva uma particular noção de tempo. Com efeito, Benjamin postula a uma temporalidade que recusa a continuidade, ou mesmo a noção de processo; nesta, o passado encontra-se soterrado no presente, mas tem a propriedade de emergir de súbito. Uma pequena digressão de Benjamin sobre Em busca do tempo perdido (No caminho de Swann), primeiro livro do clássico romance de Proust, pode elucidar esta relação entre tempo, memória, experiência e choque: Proust conta que tinha dificuldades (um bloqueio) em recordar de sua infância, passada na cidade provinciana de Combray, mas em determinada ocasião ele sente o cheiro (um choque) de um bolo de chocolate similar ao de sua infância. Dimana daí o fio da memória do narrador, significando duas coisas: a materialidade, o presentismo e a atualidade da memória e do próprio passado, interveniente direto pela realidade do bolo e o simbolismo desatado pelo narrador- memorialista.
Admiro a inspiradora leitura de Walter Benjamin e seu possante núcleo duro – a idéia do estranhamento provocado pela alegoria como os deslocamentos da forma-mercadoria. Grande crítico literário, as idéias de Benjamin sobre Baudelaire são tão poderosas que pode ofuscar a própria apreciação do poeta francês a partir de sua própria obra (uma outra leitura válida).
Ademais, Benjamin, como Marx, é tanto um crítico como um poeta da mercadoria: muitas de suas passagens críticas são inspirados versos disfarçados em forma de prosa, tanto que Willi Bolle, na bela tese, depois transformada em livro, Fisiognomia da metrópole moderna (Edusp, 1994) adaptou como epígrafes versificadas vários trechos benjaminianos de boa crítica, assim como Caetano Veloso musicou a ensaística de Joaquim Nabuco. Lição: muitos momentos da crítica de Benjamin, assim como a ensaística de Nabuco são autênticos poemas.
Nem tudo são flores. Benjamin acabou virando, pela popularização em círculos letrados, cacoete de dissertação, acobertado sob o disfarce de "crítica imanente". Dessa maneira, corre-se o risco de percorrer outra vez, mais uma vez, e da mesma maneira, os poemas de Baudelaire comentados por Benjamin. Recita-se, sem charme, os mesmos exemplos. Dito ao molde da escrita benjaminiana: a imitação da criação produziu a mais um autômato, feito aquele jogador de xadrez da primeira das Teses sobre o conceito de história (o trunque dos cordéis embaixo da mesa, manipulando o boneco-jogador, que dura até ser apanhado pela surpresa). Se cinza é toda teoria, verde é a árvore da vida.
A recitação de alguns dos "críticos imanentes" ao menos segue, aparentemente, a letra de Benjamin. Há algo muito pior. No diapasão frívolo de certa historiografia contemporânea, uma constelação de pesquisadores cinzentos assimilaram a crítica cultural benjaminiana ao modo de produção capitalista como uma espécie de crítica vazia dos costumes, uma neutra antropologia icônica do capitalismo. Em suma, a crítica foi rebaixada à condição de metodologia de dissertação, adequado à narrativa de um “estilo” específico de época – a belle époque, dê-se em Recife ou Paris. O cotidiano pelo cotidiano, a descrição pela descrição dos modos de vida: fotografei você na minha Rolley-Flex. Tudo isso é perfumaria da incultura acadêmica, embora a burrice doutorada esteja com cotação em alta no Brasil.
Ainda há mais. A crítica imanente sob o pano de fundo da estrutura do capital não deve ser vista como exclusiva, única ou melhor porta de acesso explicativo do labor literário contemporâneo. Não creio poderem-se dissecar todos os problemas atinentes a literatura e artes pela remissão exclusiva à estrutura subjacente ou inconsciente do capital, não porque esta estrutura tenha deixado de ser interveniente, ao contrário, a cada dia é mais, mas porque outras são tão intervenientes quanto.
Por exemplo, a estrutura imanente do totalitarismo, ao menos nas formas que medrou no regime nazista e no stalinismo, dificilmente podem ser explicadas pela imanência do capital, pura e simplesmente. Será o totalitarismo uma regressão da modernidade em crise além, aquém, porém acontecido durante o capitalismo? Capital, capitalismo e barbárie compõem o mesmo diagrama trágico de perversões? Começo a me desviar do assunto, isso já é outro papo, fica para depois. Bom final de semana. (Jaldes Reis de Meneses).
Comentários