Muda e João Cabral

Uma de minhas diversões neste mês de agosto em estado de muda, ou ao menos de drástica redução do ritmo de postagem no blog, tem sido uma leitura mais sistemática de João Cabral de Melo Neto, que li com muita atenção - é verdade, aos 15 anos. Depois, de maneira mais esporática. Isso de 15 anos nada tem a ver com charme. Querem uma prova? Vão a uma edição do Correio das Artes do remoto ano de 1978(acho que esta é a data correta, não sei bem), e leiam um poema relativamente longo, de duas páginas, chamado O rio e seus aflu/entes, meio um clone de "O cão sem plumas" de que não me envergonho. O poema continua de pé e é muito bem feito, apesar de cacoetes cabralinos bem asssimilados. Hoje, creio ter me livrado da influência cabralina, uma praga de época. Acho que Antonio Cicero matou a cobra e mostrou o pau quando demonstrou em Finalidades sem fim (um belo livro de ensaios) que as opinões poéticas de João Cabral devem ser tomadas com o devido cuidado, funcionam mais no entedimento da obra do grande poeta pernambucano do que como generalizações sobre o o ofício da poesia, como fizeram, erroneamente, alguns poetas da geração subsequente. As idéias de João Cabral devem ser lidas dentro de um contexto de humor muitas vezes idiossincrático, existencial e até polêmico.
Quisera me ocupar somente de João Cabral. Há as atribulações do dia a dia. Me meti, mais uma vez, em assuntos de sindicalismo e universidade, em números sobre orçamento e rememorações históricas sobre as relações entre Estado e sindicato no Brasil que tomam um tempo danado, além de nos fazer desandar o foco da poesia e da estética. A gente fica até escrevendo de modo mais quadrado!
Só como provocação de mesa de bar, que tal a opinião a seguir de João Cabral sobre Vinicius de Moraes?

"O poeta Vinicius de Moraes seria um grande poeta ou maior se não escrevesse musiquinha popular".

Ou sobre Fernando Pessoa, também barra pesada: "o mal que (Fernando Pessoa) fez à literatura é imenso. Aquela coisa 'inspirada', caudalosa, criou uma legião de poetastros que acreditam na inspiração metafísica. Até Drummond ficou assim no fim da vida."

Como explicar esse tipo de opinião (há outras, demais até), aparentemente disparatada, aparentemente brincalhona, em João Cabral? Fica para breve.

(Jaldes Reis de Meneses)

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