Schopenhauer

Neste dia de domingo de setembro pleno de ventos alísios no litoral paraibano, e sob o som de Vinícius ("um molejo de amor machucado"), um belo poema de Alberto da Cunha Melo sobre Schopenhauer. O "cão" a que alude o poema, é claro, trata-se do animal de estimação de Schopenhauer, que ele cuidou durante os longos anos de solidão quase absoluta em Frankfurt. Diferente de nós, humanos, há uma facilidade em cuidar de cães:eles não precisam dissimular a vontade pelas máscaras do pensamento, talvez somente a dos instintos. Por outro lado, treinar o cão farejador contra o encontro com o mundo "impuro" pode ser - quem sabe? -, atitude impossível, por isso índice de irracionalidade, embora a corda-bamba de todos os n(o)ós. Para mim, a atitude de treinar o cão para proteger o dono no casulo e na solidão, escolhidos como abrigo do eremita na caverna, estará sempre baldado ao fracasso. A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Este, o cerne da crítica de Nietzsche a Schopenhauer. A benção, Vinícius, a benção, amigo. Saravá! (Jaldes Reis de Meneses).

Schopenhauer

Alberto da Cunha Melo

Para cada sonho uma lápide
sóbria como o próprio cortejo,
depois disso, treinar seu cão
para morder qualquer desejo;
rasgada a farda da alegria
que, na batalha, o distraía,
agora a dor, em tempo célere,
pode estender, com dignidade,
sua cólera à flor da pele,
para sarjar com sua lança
tantos tumores da esperança.

In: Meditação sob os Lajedos. Natal/Recife: EDUFRN/Bagaço, 2002.

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