Águia Mendes

O poeta Águia Mendes criou um blog. Leitura que vale a pena, postei a seguinte mensagem:

Águia, fico feliz que tenha feito um blog e nele postado as suas poesias. Já as havia lido e gosto muito de todas. Fico ávido pela leitura das novas que virão. Preciso me dedicar um dia a escrever sobre sua poética, a maneira toda especial, densa e evocativa, a qual você consegue fundir lúdico e lirismo, uma intuição poética esmerilhada desde cedo, nos tempos idos de Jaguaribe. Ourivesaria em versos curtos, ouro puro de elevado quilate. Você é um daqueles poetas no qual o ser humano e a poesia se confundem, não há divisão, nem trauma, nem tormenta romântica, embora, é claro, é humano, deva haver dor e melancolia. Ouro puro, água límpida de riacho. O poeta liberto da alienação, um poeta alegre em sua discrição e principalmente fiel ao mundo que viveu e descreve sem preocupações estritas com realismo, embora totalmente imerso na realidade. Mais além de aparência de estilo, pois são diferentes à primeira leitura, poderia compará-lo em sua linhagem a Alberto Caiero, sua espontaneidade se parece com a dele, com a diferença de que, no fundo, o projeto, aparentemente natural (fingimento?), de Caiero, tem origem metafísica – trata-se na verdade de poetizar os fundamentos da filosofia empírica, sob o disfarce de um panteísmo espinosiano –, filtrada através das leituras eruditas do elaboradíssimo (alguém duvida?) projeto poético de Fernando Pessoa, ao passo que seu espanto desborda e vai além do ato natural e se dirige às pessoas e os objetos vividos na dura labuta de impureza medrada pela experiência social da modernidade. Você se me afigura um Caiero transpassando, ferindo desde as esferas da natureza orgânica até a contemporaneidade, contudo sendo um mesmo. Ao evocar Caiero, não se trata de urdir a uma relação convencional, tipo causa-efeito entre leituras e influências literárias. Nada disso, mas, talvez, de detectar a uma afinidade mais densa, até inconsciente, no que diz respeito à atitude de espontaneidade poética. Em Fernando Pessoa, a experiência da modernidade vem a ser outro heterônimo, como sabemos Álvaro de Campos, mas você, em vez de “outrar”, cruza as experiências continuando. Minha matéria, ao efetuar a comparação, destoa de tematizar, digamos assim, o "lado exterior da forma"; minha preocupação não é com o formato do verso, se a métrica ou o ritmo são perfeitos. O problema afasta-se da teoria literária, ao menos como ela é ensinada nas faculdades de letras, e busca a possibilidade de dissecar, nem sequer uma escridura, mas, na incerteza de um nome apropriado, uma filosofia do poema, caso seja possível. Abraços, Jaldes.

http://aguiamendes.blogspot.com/

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