Guardar

Gosto muito desse belo poema de Antonio Cicero. Como houve na semana que passa, um diálogo sobre temas como a posse de Barack Obama, Samuel Huntignton e o conceito de "sociedade aberta", resolvi, meio à toa e a esmo, postar o poema, também título de seu primeiro livro de poesias. "Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la". (Jaldes Reis de Meneses).

GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Comentários

Anônimo disse…
Num mundo onde a acumulação e o aprisionamento egoísticos de todas as coisas são de ordem patológica, este poema nos anuncia, com profundidade, o verdadeiro sentido do que é amar e compartilhar.

Valeu!

Postagens mais visitadas deste blog

Resenha

Vinícius de Moraes: meu tempo é quando

Colômbia: 100 anos de solidão política