O lado B da Bossa Nova

Em meu passado jaguaribense, havia a noção de B - segundo lado de um disco de vinil (com as pérolas que não tocavam no rádio), segundo caderno dos jornais (de cultura, ou nas pequenas cidades, o caderno dominical), plano B (em política ou na guerra, ação substitutiva quando a preferencial não deu certo). Pois há um lado "B" da bossa nova, tão boa quanto a batida de João Gilberto, os versos de Vinicius e as harmonias de Tom Jobim (gosto dos três e não vejo contradição irremediável entre o lado A e o lado B). O lado B talvez seja o lado mais democrático. O lado Carlos Lyra da bossa nova. O lado musical-instrumental, mais decibéis e mais metálico, do Sambajazz e do Sambalanço, de Silvio César e Wilson Simonal, de Lenny Andrade e Elza Soares, Sérgio Mendes e Pery Ribeiro, de Durval Ferreira e Maurício Einhorn. E João Donato, o ritmo latino da bossa nova! Roberto Menescal como mecanismo de passagem entre o lado A e do lado B. Caetano Veloso tem falado em Transamba. Ok, mas transamba já era uma das mil possibilidades em potência, guardadas na cartola do coelho, ou seja, no lado B da bossa nova. Mesmo a bossa tecno, bateria e baixo (drum and bass), de Bebel Gilberto deve ao lado B da bossa nova, que já era A, caso pensarmos em Johnny Alf, um autêntico Sérgio Buarque do piano (prestem atenção na inteligente letra de "Rapaz de Bem", a saga do "homem cordial" pelos corredores burocráticos do Rio de Janeiro de Juscelino, a capital do sul, do sol e do sal de Boscoli e do legal-(ir)racional do populismo). Tudo isso através das notas dissonantes da modernidade.(Jaldes Reis de Meneses).

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