Europa
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Jaldes Reis de Meneses
A evocação da imagem de uma hecatombe nuclear caso a União Européia mergulhe em uma crise monetária do Euro, distante de exagero alarmista, condiz com a mais pura verdade. É exatamente do que se trata: uma hecatombe nuclear, e nem só nas estruturas do capitalismo mundial, ainda buscando se recuperar à duras penas da crise de 2008 (uma crise de superprodução e realização de mercadorias com epicentro nos Estados Unidos), mas na difícil engenharia política que completa 60 anos de vida neste mês de maio da primavera: a União Européia.
Insisto na imagem da hecatombe por um motivo simples, com duas traduções, a primeira em economês e a segunda em teoria política: diferentemente de um país isolado, está vedada aos países da zona do Euro a hipótese de consumação de política monetária (já que há um único banco central europeu), contudo, os orçamentos fiscais são autônomos. Dessa maneira, comentem grave equívoco os que apregoam uma crise “grega” – ou mesmo crise dos “pigs” (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). De quebra-cabeça lingüístico e multirracial, amalgamado pelo cristianismo e a modernidade, a criação da União Européia transformou o continente no tabuleiro de um imenso dominó. Portanto, não existe o passe de mágica capaz de isolar num cordão sanitário qualquer um dos países em crise. O barco é um só.
Aos que desconhecem a fundo a história, é difícil aquilatar a inédita natureza “contratual” da União Européia – não é pleonasmo nem rebarbativo dizer –, em termos da própria história da Europa. Neste ínterim, é preciso recordar as duas tragédias coligadas que permitiram audiência à proposta de união de países até então refratários, com sede de potência, império e objetivos territoriais, interesses individuais que transformaram a história dos Estados Nacionais europeus num inferno: os escombros de uma guerra que custou 40 milhões de mortos e o martírio do Shoah (o Holocausto). O senso comum pseudo ilustrado, em geral, pensa em União Européia em termos de civilização, quando, na verdade, ela se ergueu sob os escombros de uma barbárie ainda à espreita, um recalque que pode retornar a qualquer momento.
Explico-me, invocando o melhor da filosofia contemporânea, desde os textos seminais de Theodor Adorno e Giorgio Agamben: a guerra e a solução final dos judeus são os dois interditos que permitem um limite civilizacional do contrato social celebrado entre os países antes inimigos, tais como, por exemplo, a Alemanha e a França, exatamente os vértices atuais do projeto da União Européia. Uma das bravatas mais conhecidas de Mao Tsé-Tung era chamar os Estados Unidos de um “tigre de papel”, pois bem para haver comunidade única na Europa foi preciso, antes de tudo, quebrar os dentes afiados de vários tigres.
Last but not least, efetuado o desmanche econômico da moeda comum (o Euro), a crise estará além de ser exclusivamente um episodio econômico da crise do capitalismo. Outro prato virá servido em acompanhamento: a conclusão de um período de paz conquistado a fórceps, em um continente ao mesmo tempo pequeno territorialmente (o menor de todos) e guerreiro. Oremos todos pelo destino da União Européia.
Jaldes Reis de Meneses
A evocação da imagem de uma hecatombe nuclear caso a União Européia mergulhe em uma crise monetária do Euro, distante de exagero alarmista, condiz com a mais pura verdade. É exatamente do que se trata: uma hecatombe nuclear, e nem só nas estruturas do capitalismo mundial, ainda buscando se recuperar à duras penas da crise de 2008 (uma crise de superprodução e realização de mercadorias com epicentro nos Estados Unidos), mas na difícil engenharia política que completa 60 anos de vida neste mês de maio da primavera: a União Européia.
Insisto na imagem da hecatombe por um motivo simples, com duas traduções, a primeira em economês e a segunda em teoria política: diferentemente de um país isolado, está vedada aos países da zona do Euro a hipótese de consumação de política monetária (já que há um único banco central europeu), contudo, os orçamentos fiscais são autônomos. Dessa maneira, comentem grave equívoco os que apregoam uma crise “grega” – ou mesmo crise dos “pigs” (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). De quebra-cabeça lingüístico e multirracial, amalgamado pelo cristianismo e a modernidade, a criação da União Européia transformou o continente no tabuleiro de um imenso dominó. Portanto, não existe o passe de mágica capaz de isolar num cordão sanitário qualquer um dos países em crise. O barco é um só.
Aos que desconhecem a fundo a história, é difícil aquilatar a inédita natureza “contratual” da União Européia – não é pleonasmo nem rebarbativo dizer –, em termos da própria história da Europa. Neste ínterim, é preciso recordar as duas tragédias coligadas que permitiram audiência à proposta de união de países até então refratários, com sede de potência, império e objetivos territoriais, interesses individuais que transformaram a história dos Estados Nacionais europeus num inferno: os escombros de uma guerra que custou 40 milhões de mortos e o martírio do Shoah (o Holocausto). O senso comum pseudo ilustrado, em geral, pensa em União Européia em termos de civilização, quando, na verdade, ela se ergueu sob os escombros de uma barbárie ainda à espreita, um recalque que pode retornar a qualquer momento.
Explico-me, invocando o melhor da filosofia contemporânea, desde os textos seminais de Theodor Adorno e Giorgio Agamben: a guerra e a solução final dos judeus são os dois interditos que permitem um limite civilizacional do contrato social celebrado entre os países antes inimigos, tais como, por exemplo, a Alemanha e a França, exatamente os vértices atuais do projeto da União Européia. Uma das bravatas mais conhecidas de Mao Tsé-Tung era chamar os Estados Unidos de um “tigre de papel”, pois bem para haver comunidade única na Europa foi preciso, antes de tudo, quebrar os dentes afiados de vários tigres.
Last but not least, efetuado o desmanche econômico da moeda comum (o Euro), a crise estará além de ser exclusivamente um episodio econômico da crise do capitalismo. Outro prato virá servido em acompanhamento: a conclusão de um período de paz conquistado a fórceps, em um continente ao mesmo tempo pequeno territorialmente (o menor de todos) e guerreiro. Oremos todos pelo destino da União Européia.
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