A nova Conferência de Teerã

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Jaldes Reis de Meneses

Em relações internacionais inexistem país e chefe de Estado “ingênuo” nem se improvisa em assunto sério: Lula jamais se deslocaria até o Irã de mãos abanando, caso o script não tivesse sido muito bem ensaiado anteriormente pela visita providencial do chanceler Celso Amorim e a equipe diplomática do Itamaraty.

Político experiente, Lula jamais arriscaria o prestígio internacional e principalmente interno (em tempos de eleição presidencial) desprovido do aceno (senão a certeza) da concertação de um acordo. Toda essa perfumaria é bobagem, a nuvem de fumaça que freqüentemente circula na imprensa e na internet com o objetivo de desviar o foco dos verdadeiros interesses em jogo.

Dessa maneira, tanto Barack Obama como Hillary Clinton evidentemente sabiam de antemão que algum tipo de acordo sairia dos Palácios atapetados de Teerã. O objetivo da desqualificação da posição de Lula e do Brasil sob o epiteto de “ingênuos” é por demais óbvia: salvaguardar a possibilidade de criticar duramente o acordo a posteriori, menos pelo conteúdo – já que outro parecido foi proposto no Conselho de Segurança da ONU, há oito meses passados, em Viena, na sede da AIEA, a agência nuclear das Nações Uniddas –, mais pela fábula de encenação logro do cordeiro (Lula) pela raposa (Ahmadinejad). Embora Mahmoud Ahmadinejad seja um raposa de alta periculosidade, Lula, nem de longe, é um cordeiro. Qual verdadeiro motivo escondido na ação adrede de desqualificar o acordo?

O senhor da guerra deve ser também o senhor da paz. Demais disso, é ano eleitoral nos EUA. Logo no começo do governo, o próprio Obama acenou explicitamente negociar com o regime iraniano; em seguida, recuou, face ao jogo de morde e assobra encenado pelo Irã (aceitação protocolar dos acordos de Viena e seguir tocando o projeto nuclear). Sejamos claros, qualquer que fosse o acordo, até mesmo, por absurdo, a rendição política do Irã, não interessa aos Estados Unidos (menos ainda a Israel) novos interlocutores diplomáticos no circuito geopolítico do Oriente Médio e da Ásia Menor, do mundo árabe e da nação persas, ambos de extração religiosa mulçumana.

Especificamente às relações entre os Estados Unidos e o Irã, há no passado remoto um divisor político emblemático não cicatrizado, ao contrário, exponenciado pela Revolução Xiita de 1979, comandada pelo Aiatolá Khomeini: foram os Estados Unidos que derrubaram o governo constitucional e nacionalista de Mohammed Mossadegh em 1953, tendo feito retornar a monarquia tirânica do Xá Reza Parlev. A operação do golpe de Estado de 1953 foi fundamental no sentido de acantonar os interesses de cobiça na principal região produtora mundial de petróleo do mundo, aliás, manifestos pelos Estados Unidos desde a Segunda Grande Guerra.

Neste ínterim, vale uma pequena digressão histórica: houve uma primeira Conferência de Teerã em 1943, no calor dos combates da Segunda Guerra Mundial, com as ilustres presenças de Stalin (URSS), Churchill (Império Inglês) e Roosevelt (EUA), ocasião em que foi decidido libertar a França pela região da Normadia. Durante a conferência, o Presidente Roosevelt mandou emissários à família Saud, na Arábia Saudita, propondo a criação, depois da guerra, de fontes permanentes de abastecimento de petróleo.

Das primeiras tratativas de negócios à ocupação militar preventiva. Um exame de relance no mapa fronteriço do Irã esclarece uma realidade insofimável, uma cruel circunstância espacial: as tropas americanas (250 mil soldados) ocupam dois territórios vizinhos, o Iraque e o Afeganistão. Há, portanto, uma presença norte-americana saturada, inclusive militar, na região. Em consequência, por isso, o alarido de novos interlocutores é desiteressante no jogo duro dos grandes do mundo. O monopólio de poder na região em que jorra o chamado ouro negro há de ser prevervado, na lei, na diplomacia - ou na marra.

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