João Pedro Teixeira

Jaldes Reis de Meneses

Cabra marcado para morrer, numa tarde crepuscular em Café do Vento, no dia 02 de abril de 1962, um líder camponês em viagem de volta ao lar, solitário caminhante na estrada, é emboscado por pistoleiros a mando do latifúndio (como se dizia na época) e morto sem apelação. O sacrifício visava servir de exemplo a quem ousasse levantar a cabeça do chão contra as relações sociais servis pré-capitalistas então vigentes no mundo rural nordestino. A história da morte de João Pedro Teixeira amanhã completará meio século. Se aristocracia na origem remota da palavra quer dizer exemplo na guerra, nossa aristocrata é dona Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, jamais um dos descendentes rentistas dos ex-coronéis do Grupo da Várzea.

A data do martírio do líder camponês não passará em branco. Amanhã, contando com o apoio da UEPB, UFPB e Governo do Estado, por iniciativa do professor Alder Júlio Calado, entre outros, deverá ocorrer a inauguração, na antiga casa de João Pedro, em Barra das Antas, do Memorial das Ligas Camponesas. Contudo, não pode ser esquecido nas comemorações que o crime continua impune. Quem mandou matar nunca foi condenado. É como se uma espécie bizarra de prescrição do tempo valesse, e por paradoxo um crime cometido às vésperas do golpe de 1964 tivesse sido preventivamente abrangido pela validade da lei de anistia de 1979. Parafraseando Sérgio Buarque, não há motivos de exercitar a “cordialidade” com o algoz no ato de fundação do Memorial das Ligas.

Mas há uma “nova cordialidade” em curso na realidade, que tem bases políticas e estruturais. Desde 1962 até hoje mudaram as relações entre a vida urbana e rural no nordeste. Antes, a subversividade da questão agrária brasileira – preocupação do governo americano como hoje é o Irã -, era instantânea. Qualquer manifestação das Ligas Camponesas repercutia imediatamente na relação de forças da grande política.

No começo da semana morreu um dirigente do MST em Pernambuco (Antônio Tiningo). Continua-se a exterminar no campo, mas a questão agrária deixou de assustar. O homicídio de uma liderança rural virou simples notícia policial. As formas de lutas no campo continuam radicais, mas desapareceu o perigo de uma “nova Cuba”. A penetração do capitalismo no campo, alterando as relações sociais, tratou de dissipá-lo. Decifrar o enigma é o desafio das novas lideranças rurais.

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