Industrializações tardias
Jaldes Reis de Meneses
Quem se der ao trabalho de pesquisar os arquivos dos artigos de vários dirigentes importantes do PT – por exemplo, de José Dirceu – entre 2010 até começo de 2011, vai perceber que, para ele, o problema da desindustrialização no máximo era um exagero de alguns empresários paulistas, estranhos tucanos que continuavam a dar um tiro no próprio boom econômico do qual eram um dos principais beneficiários. A ênfase do discurso econômico oficial residia em constatar feliz o aumento da demanda do consumo das classes pobres.
Desde meados do ano passado, acossado por guerras e tsunamis cambiais advindos da crise capitalista internacional, contudo, o diagnóstico começou a mudar. A preocupação com a “desindustrialização” passou a frequentar o discurso do governo. Começou com uma reunião em Brasília com os principais empresários do PIB brasileiro (e também dos “aventureiros” do desenvolvimento, tipo Eike Batista), seguido de uma viagem internacional à Índia, onde ocorreu mais uma reunião de cúpula dos chamados BRICS (mais a África do Sul), até culminar com o novo “pacote” de desonerações em folha salarial e isenções fiscais, anunciado hoje (03/04) pela presidente Dilma.
Uma estranha nota dissonante: desde há muito houve uma desindustrialização na Paraíba e em outros Estados nordestinos. O problema dos paulistas (e mesmo dos pernambucanos e baianos) aflige só de raspão o nosso Estado. Rigorosamente, nem em João Pessoa nem em Campina Grande (em que pese alguns investimentos industriais importantes), desde o começo dos anos oitenta, ainda não se conseguiu remontar os projetos de distritos industriais no patamar idealizado nos tempos da SUDENE (sugiro a algum historiador, se ainda existir, cotejar nos arquivos a dimensão original dos projetos com o rarefeito resultado). Ainda estamos trabalhando no vermelho. O mais é discurso de político desinformado (na Paraíba, existem às cambulhadas), iludido com o tal discurso da “involução relativa” dos tempos de apogeu dos coronéis do algodão (eram “áureos”?, que o digam os trabalhadores dos latifúndios), ou senão pela conversa fiada (do século XVIII) da subordinação da Paraíba a Pernambuco. Vou fechar o parêntesis, já longo: só se pode pensar seriamente a Paraíba no contexto das forças produtivas do nordeste, sem separatismos chauvinistas. Por isso, ao contrário da Bahia, Pernambuco e Ceará – que se viram politicamente em Brasília na ausência de um fórum como o antigo Conselho Deliberativo da SUDENE -, os demais Estados precisam de um espaço de poder dotado de força real, visando uma distribuição mais equilibrada dos recursos e investimentos.
Será que o resultado dos antigos esqueletos da Paraíba é o futuro do Brasil? No fundo, é o dilema que Dilma começa a procurar responder. Neste sentido, menos vale focar na letra no conteúdo parcial das medidas – como começam a diagnosticar equivocadamente alguns economistas tucanos – do que no sentido das políticas que começam a serem esboçadas. Se quiserem uma metáfora, Dilma revisitou os velhos manuais da Cepal e percebeu que o Brasil – assim como a China, a Índia e a Rússia (a África do Sul é uma estratégia diferenciada) – é um país de industrialização tardia (países que se industrializam pela via do ativismo de Estado). Desta maneira, o país requer no atual estágio de desenvolvimento de medidas cambiais e fiscais, aliadas a estímulos à produtividade cientifica e tecnológica. Não se trata de repetir o passado das industrializações tardias. Repetir seria um erro. Mas de aprender a jogar o jogo das relações no mercado internacional, que vem desde os alemães e os americanos na segunda metade do século XIX, nações que protegeram os seus mercados, ao mesmo tempo em que estimularam a produtividade e a competitividade.
Quando chegou à presidência, muitas pessoas comparavam Dilma ao Gal Dutra (definitivamente, um presidente desprovido de estratégia industrial). Tornar-se-á ela uma espécie de Vargas de saias? Interessante exagero. É cedo, realmente, as medidas ainda são insuficientes, mas inegavelmente têm um sentido.
Quem se der ao trabalho de pesquisar os arquivos dos artigos de vários dirigentes importantes do PT – por exemplo, de José Dirceu – entre 2010 até começo de 2011, vai perceber que, para ele, o problema da desindustrialização no máximo era um exagero de alguns empresários paulistas, estranhos tucanos que continuavam a dar um tiro no próprio boom econômico do qual eram um dos principais beneficiários. A ênfase do discurso econômico oficial residia em constatar feliz o aumento da demanda do consumo das classes pobres.
Desde meados do ano passado, acossado por guerras e tsunamis cambiais advindos da crise capitalista internacional, contudo, o diagnóstico começou a mudar. A preocupação com a “desindustrialização” passou a frequentar o discurso do governo. Começou com uma reunião em Brasília com os principais empresários do PIB brasileiro (e também dos “aventureiros” do desenvolvimento, tipo Eike Batista), seguido de uma viagem internacional à Índia, onde ocorreu mais uma reunião de cúpula dos chamados BRICS (mais a África do Sul), até culminar com o novo “pacote” de desonerações em folha salarial e isenções fiscais, anunciado hoje (03/04) pela presidente Dilma.
Uma estranha nota dissonante: desde há muito houve uma desindustrialização na Paraíba e em outros Estados nordestinos. O problema dos paulistas (e mesmo dos pernambucanos e baianos) aflige só de raspão o nosso Estado. Rigorosamente, nem em João Pessoa nem em Campina Grande (em que pese alguns investimentos industriais importantes), desde o começo dos anos oitenta, ainda não se conseguiu remontar os projetos de distritos industriais no patamar idealizado nos tempos da SUDENE (sugiro a algum historiador, se ainda existir, cotejar nos arquivos a dimensão original dos projetos com o rarefeito resultado). Ainda estamos trabalhando no vermelho. O mais é discurso de político desinformado (na Paraíba, existem às cambulhadas), iludido com o tal discurso da “involução relativa” dos tempos de apogeu dos coronéis do algodão (eram “áureos”?, que o digam os trabalhadores dos latifúndios), ou senão pela conversa fiada (do século XVIII) da subordinação da Paraíba a Pernambuco. Vou fechar o parêntesis, já longo: só se pode pensar seriamente a Paraíba no contexto das forças produtivas do nordeste, sem separatismos chauvinistas. Por isso, ao contrário da Bahia, Pernambuco e Ceará – que se viram politicamente em Brasília na ausência de um fórum como o antigo Conselho Deliberativo da SUDENE -, os demais Estados precisam de um espaço de poder dotado de força real, visando uma distribuição mais equilibrada dos recursos e investimentos.
Será que o resultado dos antigos esqueletos da Paraíba é o futuro do Brasil? No fundo, é o dilema que Dilma começa a procurar responder. Neste sentido, menos vale focar na letra no conteúdo parcial das medidas – como começam a diagnosticar equivocadamente alguns economistas tucanos – do que no sentido das políticas que começam a serem esboçadas. Se quiserem uma metáfora, Dilma revisitou os velhos manuais da Cepal e percebeu que o Brasil – assim como a China, a Índia e a Rússia (a África do Sul é uma estratégia diferenciada) – é um país de industrialização tardia (países que se industrializam pela via do ativismo de Estado). Desta maneira, o país requer no atual estágio de desenvolvimento de medidas cambiais e fiscais, aliadas a estímulos à produtividade cientifica e tecnológica. Não se trata de repetir o passado das industrializações tardias. Repetir seria um erro. Mas de aprender a jogar o jogo das relações no mercado internacional, que vem desde os alemães e os americanos na segunda metade do século XIX, nações que protegeram os seus mercados, ao mesmo tempo em que estimularam a produtividade e a competitividade.
Quando chegou à presidência, muitas pessoas comparavam Dilma ao Gal Dutra (definitivamente, um presidente desprovido de estratégia industrial). Tornar-se-á ela uma espécie de Vargas de saias? Interessante exagero. É cedo, realmente, as medidas ainda são insuficientes, mas inegavelmente têm um sentido.
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