José Américo de Almeida

Jaldes Reis de Meneses

No começo do novo século, em 2001, a Rede Paraíba de Televisão promoveu uma consulta popular para escolher o “paraibano do século XX”. A enquete mobilizou milhares de pessoas em escolas, praças e internet (começavam os primeiros prenúncios do ethos interativo das redes sociais) e o escolhido, em vez de um político, foi o nosso maior poeta, Augusto dos Anjos. O mesmo aconteceu em Pernambuco, onde Luiz Gonzaga derrubou Agamenon Magalhães. Duas grandes escolhas, sem dúvida. Contudo, a adesão à figura do artista apenas confirmava a desconfiança geral que envolve a política.
Apenas parcialmente. As placas tectônicas da memória se mexem. O tempo segue disparando. Sucede que tanto em Pernambuco como principalmente na Paraíba atuaram movimentos de opinião que repunham à luz do dia os traumas históricos aparentemente esquecidos de 1930, numa espécie de revanche dos vencidos. Entre nós, houve uma ferrenha campanha contra o voto em figuras como João Pessoa ou José Américo de Almeida, respectivamente o mártir e o vencedor do bloco no poder que governou a Paraíba por muito tempo, até exaurir-se na década de 1980. Aliás, a emersão abrupta da memória dos vencidos – que nunca se dissipou, mas estava submersa – é também um índice de que o domínio da coligação vitoriosa havia se encerrado.
Minha análise do domínio na política paraibana do que chamo de “bloco de 30” não se atém simplesmente ao jogo de governo e oposição e transcende às personalidades. Cinge-se ao fato de que a política, a economia e a cultura do período devem ser mais bem investigadas como partes de uma única direção hegemônica, no caso de viés modernizante. Se não foi o mais popular, sem dúvida o dirigente maior do “bloco de 30”, na Paraíba, foi José Américo de Almeida. Para além de adesões acríticas, trata-se de uma figura histórica extraordinária, daquelas que vale a pena escrever uma biografia literária.
Do mesmo modo que na obra de Antonio Gramsci sobre os intelectuais, o filósofo Benedetto Croce organizava os intelectuais da atrasada região sul na coligação com o norte industrializante italiano, aqui, José Américo organizou as elites intelectuais da pobre Paraíba. Croce era o próprio Estado. O mesmo vê-se em José Américo, principalmente após o “abandono” da política, em 1956, quando ele se recolheu viúvo à sua morada no Cabo Branco. Virou “oráculo”, “conselheiro”, outra maneira de continuar a ser homem de Estado.

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