A minha UFPB
Jaldes Reis de Meneses
Depois das experiências compartilhadas com a minha família, me considero uma pessoa socializada pela UFPB. Não cheguei a esta instituição que tanto amo na idade adulta, pela condição de professor universitário concursado ou mesmo pela de estudante e liderança estudantil, mas como criança alumbrando para o mundo, correndo nos azulejos da Faculdade de Medicina ainda no tempo no qual a sua sede era na Avenida Alberto de Brito, em Jaguaribe (idos anos 60), e minha mãe uma servidora do Laboratório de Fisiologia. A minha primeira lembrança da UFPB são as de uma estagiária na biblioteca da faculdade, estudante de medicina, chamada Mônica (não consigo esquecer este nome nem a voz fina e pausada que lhe pertencia), que sempre me dizia, quando lhe perguntava, que os Estados Unidos iriam perder a guerra do Vietnã. Veredicto confirmado, Mônica, que nunca mais vi, desapareceu e por onde você estará ou se foi? Corria o ano de 1968, ia completar oito anos.
A segunda lembrança, que associava de alguma maneira a uma guerra, era o cemitério sem cruzes, vala comum, de cadáveres de cachorros utilizados em experiências, enterrados próximos à capela, no qual um colega de minha mãe tinha prazer em me assustar. (Os estudantes de Medicina drogavam os cachorros e afinal, após os matar, deixavam os corpos para o coveiro os enterrar). Me dizia o coveiro, numa espécie talvez de vingança – Garoto, os cachorros têm alma, eles retornam à noite em nossos sonhos para nos assustar! Matam estes animais impunemente, mas não conseguirão se livrar deles. Os animais têm alma, retornam e se vingam. Não conte a sua mãe o nosso segredo. Tinha muito medo do cemitério dos cães, mas gostava de ver os cadáveres inertes do laboratório de Anatomia. Não tenho medo de cadáveres humanos. Para mim, a UFPB antecede o movimento estudantil, é minha própria infância.
A Faculdade de Medicina era como uma extensão do quintal de minha casa, mas ela mudou-se para o novo Campus Universitário, no Castelo Branco. Ficou um vazio, porém uma das antigas salas de aula foi ocupada por um cineclube de estudantes. Adolescente, antes da exibição creio de “O discreto charme da burguesia” de Buñuel, um dos estudantes tomou a palavra por alguns minutos e fez um discurso meio incompreensível para mim contra o capitalismo (anos mais tarde, vim a saber que este estudante era Anchieta “neguinho”, na época militante desgarrado de AP, sem contacto político e procurando uma brecha, com quem vim a me encontrar no PCdoB dos anos 80). Universidade é sempre um perigo...
Depois das experiências compartilhadas com a minha família, me considero uma pessoa socializada pela UFPB. Não cheguei a esta instituição que tanto amo na idade adulta, pela condição de professor universitário concursado ou mesmo pela de estudante e liderança estudantil, mas como criança alumbrando para o mundo, correndo nos azulejos da Faculdade de Medicina ainda no tempo no qual a sua sede era na Avenida Alberto de Brito, em Jaguaribe (idos anos 60), e minha mãe uma servidora do Laboratório de Fisiologia. A minha primeira lembrança da UFPB são as de uma estagiária na biblioteca da faculdade, estudante de medicina, chamada Mônica (não consigo esquecer este nome nem a voz fina e pausada que lhe pertencia), que sempre me dizia, quando lhe perguntava, que os Estados Unidos iriam perder a guerra do Vietnã. Veredicto confirmado, Mônica, que nunca mais vi, desapareceu e por onde você estará ou se foi? Corria o ano de 1968, ia completar oito anos.
A segunda lembrança, que associava de alguma maneira a uma guerra, era o cemitério sem cruzes, vala comum, de cadáveres de cachorros utilizados em experiências, enterrados próximos à capela, no qual um colega de minha mãe tinha prazer em me assustar. (Os estudantes de Medicina drogavam os cachorros e afinal, após os matar, deixavam os corpos para o coveiro os enterrar). Me dizia o coveiro, numa espécie talvez de vingança – Garoto, os cachorros têm alma, eles retornam à noite em nossos sonhos para nos assustar! Matam estes animais impunemente, mas não conseguirão se livrar deles. Os animais têm alma, retornam e se vingam. Não conte a sua mãe o nosso segredo. Tinha muito medo do cemitério dos cães, mas gostava de ver os cadáveres inertes do laboratório de Anatomia. Não tenho medo de cadáveres humanos. Para mim, a UFPB antecede o movimento estudantil, é minha própria infância.
A Faculdade de Medicina era como uma extensão do quintal de minha casa, mas ela mudou-se para o novo Campus Universitário, no Castelo Branco. Ficou um vazio, porém uma das antigas salas de aula foi ocupada por um cineclube de estudantes. Adolescente, antes da exibição creio de “O discreto charme da burguesia” de Buñuel, um dos estudantes tomou a palavra por alguns minutos e fez um discurso meio incompreensível para mim contra o capitalismo (anos mais tarde, vim a saber que este estudante era Anchieta “neguinho”, na época militante desgarrado de AP, sem contacto político e procurando uma brecha, com quem vim a me encontrar no PCdoB dos anos 80). Universidade é sempre um perigo...
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