Campina Grande: renovação na tradição

Jaldes Reis de Meneses

Existe um dado interessante pouco analisado na disputa eleitoral para a prefeitura de Campina Grande: todos os três principais candidatos (Romero Rodrigues, Daniela Ribeiro, Tatiana Medeiros) representam direta ou indiretamente a tradição atávica de alguma família envolvida há muitas décadas na luta política da cidade (Cunha Lima, Ribeiro, Rego). Mesmo um candidato do segundo pelotão (Guilherme Almeida) invoca explicitamente a condição de parentesco e continuador de um descendente ilustre, o ex-prefeito e médico Elpídio de Almeida (prefeito entre 1946-51). Até mesmo o PCdoB, ofereceu outro sobrenome (Araújo, evocação do poeta comunista Félix de Araújo) para vice de Guilherme, dessa maneira reunindo duas tradições.

Campina Grande procura renovar-se na tradição. Poderia citar a frase de Marx sobre Hegel, muito citada e pouco compreendida, de que a história se repete como farsa. A interpretação livre de Marx esconde o sentido que Hegel queria dar ao fenômeno da repetição na história. Na verdade, para Hegel todo verdadeiro acontecimento tinha que se repetir, senão não passava de evento fortuito e fadado ao esquecimento – a reforma protestante repetiu-se na revolução francesa, e assim por diante. Acontecimentos que se repetem são densos, formam tradição, de maneira que talvez Campina Grande esteja mais próxima do sentido histórico de Hegel (um autor dialeticamente reformista-conservador) do que Marx (um revolucionário).

As disputas na tradição – notavelmente narradas na série de livros de Josué Silvestre sobre a histórica política de Campina –, costumam ser renhidas. Estou em mãos com a pesquisa publicada no Jornal da Paraíba, em 17/06/02. O momento é de indeterminação, parecendo haver uma espécie, se me permitem o estrambólico neologismo, “tripolarização” entre Daniela Ribeiro (24%), Romero Rodrigues (22%) e Tatiana Medeiros (14%).

Todavia, logo, aí pelo mês de agosto, se não houver um grande fato novo desestabilizador da relação de forças, aposto que sobrevirá um novo quadro de polarização, creio entre Daniela Ribeiro e Romero Rodrigues (já prenunciado na pesquisa), com Tatiana estacionando e retroagindo para o segundo pelotão. Por quê? Embora contando com o apoio material da Prefeitura (gestão Veneziano), o que não pode ser subestimado, e embora seja menos conhecida (que poderia facilitar crescimento em novas faixas do eleitorado), no entanto, Tatiana apresenta taxas de rejeição (27%) bem mais elevadas do que Romero (18%) e Daniela (16%).

Quais os motivos da rejeição de Tatiana? Só haverá espaço para a novidade de uma mulher na polarização, eis o drama de Tatiana. Por artes insondáveis do destino, o eleitor parece projetar nela uma espécie de contraface de Daniela, cuja imagem tem aparecido mais suave ao eleitor. Na dança de espelhos entre as mulheres, obviamente não participa Romero Rodrigues, que a pesquisa revela um candidato competitivo, principalmente se levarmos em conta que Cássio Cunha Lima ainda não entrou com toda a força de seu carisma na contenda.

De tudo, restam duas certezas: haverá segundo turno nas eleições de Campina Grande e dele sairá vencedor(a) quem, por cima e por baixo, através do apoio das lideranças ou adesão espontânea do eleitor, conseguir transferir os votos dos órfãos da terceira postulação. Enfim, quem conseguir estabelecer mais alianças diretas e reservas indiretas no âmbito da tradição.

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