Lendo pesquisas: o quarteto eleitoral em João Pessoa

Jaldes Meneses

Enquanto os comitês dos candidatos a prefeito de João Pessoa começam as primeiras ações eleitorais de corpo a corpo com os eleitores, firmou-se um consenso de que as eleições até o momento estão absolutamente indeterminadas, ainda sem favorito ou polarizações claras de candidatos ao segundo turno. Desde o fim da ditadura, em 1985 – quando o candidato Carneiro Arnaud (PMDB) concertou um grande acórdão e derrotou a candidatura de protesto de Marcus Odilon (um político de base eleitoral em Santa Rita) –, as eleições em João Pessoa sempre partiram com um favorito. Quem largou na frente acabou vencendo, a exemplo de Wilson Braga (1988), Lúcia Braga/Chico Franca (1992), Cícero Lucena (1996/2000) e Ricardo Coutinho (2004/08).

As eleições atuais fogem ao padrão histórico das eleições mais recentes de prefeito de João Pessoa, mas é bom se acautelar em tirar conclusões definitivas. O quarteto parelho (Estela, Luciano, Maranhão e Cícero) – quando se bate o olho nos números da pesquisa espontânea, estimulada e o grau de conhecimento dos candidatos – trata-se evidentemente de uma situação conjuntural, pois logo as tendências decantarão e certamente até começos de setembro a indeterminação de quatro cederá lugar à polarização dois, quase como se tivéssemos uma só campanha de primeiro turno em duas fases. São dois grandes desafios postos aos candidatos: o primeiro, sair da vala comum dos quatro, e segundo se credenciar a vencer as eleições em segundo turno (uma das poucas determinações da campanha é que sem dúvida haverá segundo turno).

João Pessoa é uma grande cidade, com número de eleitores maior do que muitas capitais européias, o que torna as campanhas eleitorais majoritárias eventos complexos de múltiplas variáveis. Embora a política circule em tempo integral na imprensa, redes sociais e os profissionais de política, somente no período oficial de campanha o grosso do eleitorado faz as suas opções. Neste sentido, é previsível que políticos mais conhecidos – como Cícero e Maranhão – larguem na frente. Eles seriam legitimamente favoritos caso largassem distanciados, com mais de 50%, a exemplo do caso de Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro. Mas, aqui em João Pessoa, uma situação de larga vantagem (a bem da verdade, ajudado por uma coligação mastodôntica de partidos), feito a do prefeito carioca, não se repete, com o dado adicional que o grau de conhecimento de Cícero e Maranhão cobre quase todo o espectro de eleitores, e certamente haverá menor margem de crescimento durante a campanha.

No caso de Cícero e Maranhão, melhor que ocupar os primeiros postos, é comemorar o fato de que ambos têm diminuído as respectivas taxas de rejeição, realmente elevadas no começo do ano passado. Aliás, nenhum dos quatro candidatos, quando o quesito é rejeição, registra taxas inadministráveis. Outra falsa análise – verdadeiro mito desprovido de comprovação estatística – é a de que a administração Ricardo Coutinho encontra-se desgastada, quando todas as pesquisas publicadas evidenciam, ao contrário, que a avaliação do governo estadual em João Pessoa oscila positivamente, bem mais entre os conceitos de bom e regular do que de ruim e péssimo. Há sem dúvida uma oposição radical ao ricardismo em João Pessoa, mas ela precisa, para travar o bom combate, fantasiar menos e lidar mais com os fatos objetivos. Fantasias servem para destilar a bílis, contudo estão longe de construir táticas e estratégias eficientes.

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