A ética do mensalão

Jaldes Meneses

            Na onda de especulações na imprensa em torno do julgamento do mensalão, uma das prefigurações mais equivocadas é aquela que põe em confronto a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, tirando, não se sabe de onde, a ilação que Lula perde poder, caso o supremo puna o mensaleiros, enquanto, ao contrário Dilma perde caso os mensaleiros sejam absolvidos. Afora a possibilidade de que o desfecho do julgamento ser uma solução intermediária (nem punição total, nem absolvição ampla), qualquer que seja o resultado, o PT e os mensaleiros perdem por exposição negativa em período eleitoral (não é à toa que o advogado Thomaz Bastos declara que o julgamento em período eleitoral é inadequado), ao passo que Lula e Dilma já foram “blindados” na crise de 2005/06. Dilma e Lula, a não ser que surja um improvável depoimento bombástico e teatralizado de Marcos Valério ou Roberto Jefferson, só perdem por tabela, pois obviamente não lhes interessa um conjuntural enfraquecimento do PT.
            Os candidatos do PT país afora, invariavelmente, quando perguntados a respeito dos efeitos eleitorais deletérios do mensalão, disfarçam, repetindo o mantra amarelado de que nas eleições municipais o eleitor está interessado nas questões locais, dissociando-se das questões nacionais. Quando um político afasta peremptoriamente uma possibilidade, na verdade está preocupado. A leitura labial deve ser interpretada pelo reverso.
Julgamento é espetáculo. O arrastão da mídia, mais forte que a cobertura dos Jogos Olímpicos (afinal, somente um empresa detém os direitos de arena de imagem dos jogos), ficará no ar durante o mês de agosto, contaminando os primeiros dias de horário eleitoral gratuito. Evidentemente quase todos os principais grupos jornalísticos brasileiros estão apostando alto no espetáculo mensalão, numa overdose digna de Copa do Mundo. Apenas um neófito acreditaria na isenção da cobertura da mídia.
Afinal, os mensaleiros devem ou não ser condenados? Até a explosão do mensalão, o PT e as esquerdas eram vistos como imaculados em relação à corrupção. De fato, o mensalão revelou uma esquerda plenamente adaptada aos padrões políticos brasileiros. Os mensaleiros devem ser punidos, porém o julgamento do mês de agosto, qualquer que seja o resultado, ele está longe de regenerar a política brasileira, pois os cordéis de nascimento de novos corruptos ainda não foram estancados e continuam ativos. Não é isso, Carlinhos Cachoeira?     

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