O novo mapa eleitoral paraibano

Jaldes Meneses


Uma das novidades da presente campanha é a profusão de institutos que têm vasculhado o território das duas cidades grandes, João Pessoa e Campina Grande, e quase todas as médias (o meu critério de cidade média abarca os municípios acima de vinte mil eleitores), só para citar três, Patos, São Bento, Monteiro, etc., fazendo pesquisa eleitoral. O resultado desse trabalho é que dispomos à mesa de reflexões, hoje, às vésperas do pleito, em que pese denúncias da existência de um balcão sujo de compra e venda de pesquisas, de um material provisório sobre o qual projetar os resultados eleitorais, que estão sugerindo um realinhamento profundo do mapa político do Estado, de alguma maneira uma continuidade do processo iniciado na eleição de governador em 2010.

Indagar de maneira mais consistente a respeito das razões históricas, políticas e sociológicas do fenômeno do realinhamento serão motivação de um artigo mais alentado, passada a rinha eleitoral, mas há uma evidência fundamental que de pronto a cartografia realça: o realinhamento corre em direção do PSB e partidos coligados no governo estadual, que obviamente, como no passado, se beneficiam dos tentáculos do aparelho de Estado. Contudo, seria análise deficiente pensar que tudo se resume à ocupação de aparatos: no fundo da superfície, emerge a vontade do eleitorado paraibano, às vezes às cegas, em renovar a política. Tudo ainda é incerto: o eleitor faz as suas apostas, muitas vezes se decepciona, mas continua buscando, mais de olho na novidade do que no retorno. Nem só a partir do concurso farto de dinheiro ou da ocupação do aparato do Estado e prefeituras se ganha eleição, hoje, nas cidades grandes, médias e até pequenas na Paraíba. A cínica sentença de muitos maquiáveis de bastidores e fancaria – "cada um tem seu preço" –, apenas confirma o veredito paradoxal de que, em política, os mais ingênuos são os papagaios falantes, que se pretendem erroneamente os mais "espertos". É preciso também de mensagem e empatia, numa espécie de combinação virtuosa entre subjetividade (tanto racional como emotiva) e estrutura material de campanha.

Por isso, a tendência mais saliente do mapa eleitoral que se desenha é a perda de espaços do PMDB – um partido repleto de velhas raposas e jovens velhos. Em priscas eras de outrora, o partido da resistência democrática à ditadura, fase terrível da história passada brasileira, o PMDB sequer lançou candidato competitivo em Bayeux e encontra-se atrás em Guarabira, para citar dois de múltiplos exemplos. Outra, que já mencionamos, é o crescimento da coligação de partidos do governo Ricardo Coutinho (passou à dianteira em Sousa e vem liderando desde o início em Cajazeiras), principalmente o PSB, que lançou candidatos competitivos em 88 municípios, devendo abocanhar o poder na maioria. (Para além dos partidos, numa miscelânea de legendas, Ricardo e Cássio Cunha Lima, individualmente, devem formar as maiores bancadas numéricas de prefeito).

Até as vésperas das eleições municipais, as apostas mais recorrentes era a de uma disputa entre Ricardo e Veneziano Vital no governo estadual. Contudo, o anseio do prefeito de Campina Grande, a confiar nas tendências das pesquisas, sairá arranhado das urnas, em virtude da redução da base municipalista do PMDB. Sem contar o pior dos cenários: uma provável, a preço de hoje, derrota na Prefeitura de Campina Grande. Acaso não consiga a vitória na difícil eleição de Patos, no confronto tête-à-tête da candidata deputada Chica Mota (quadro histórico do PMDB) versus Dinaldinho (DEM), Cabedelo – quem diria? –, está iminência de se tornar a “jóia da Coroa” do PMDB. Muito pouco para um partido que já comandou a Paraíba de cabo a rabo.

Outra aposta pré-eleitoral que não se confirmou foi a de configuração de uma “terceira via” na Paraíba, para além de Ricardo, Cássio e Veneziano, encabeçada por PT e PP A terceira via dependia da conquista das prefeituras de João Pessoa e Campina Grande. Embora o candidato do PT em João Pessoa, Luciano Cartaxo – acossado por uma maré montante de denúncias –, esteja bem no páreo, em uma emocionante corrida ao segundo turno contra Estela Bezerra e Cícero Lucena, na qual qualquer das três combinações é factível, por outro lado, o desempenho de Daniela Ribeiro, robusta no começo, definhou na campanha. Quando acabar as apurações, constatar-se-á que a terceira via não passou de sonhos de inverno desmentidos em uma noite de verão. Na verdade, entre os aliados da “terceira via”, só o PT ganhou e os demais serviram de escada, na difusão e montagem dessa quimera, pois alargou a base de partidos, apoios e tempo de rádio e TV a sua coligação em João Pessoa. Posicionou-se, na dependência de vencer a difícil disputa contra Estela e Cícero, na obtenção do almejado passaporte de partido de primeiro time na Paraíba, documento exclusivo de agregação privativo dos partidos com perspectiva de poder, junto com PSB, PSDB e – ainda – o PMDB velho de guerra.

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