A marca RC

Jaldes Meneses

Artigo publicado em minha coluna quinzenal no Jornal da Paraíba, em 23/12/2012, em versão ligeiramente modificada e reduzida.

A Paraíba vive um bom momento desde 2004, no encalço do crescimento brasileiro, em que pese as dificuldades impostas aos estados mais pobres pelas políticas de desonerações fiscais anticíclicas do governo federal, adotadas desde 2008, somado agora à seca euclidiana de 2012 e os impasses da transposição sem fim das águas do rio São Francisco.

Entre outros, três simples indicadores econômicos recentes demonstram a assertiva do bom momento. 1) As avaliações mensais de aumento de postos de emprego formal feitas pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), no qual a Paraíba figura entre os cinco primeiros Estados da federação (em agosto, por exemplo, foram gerados 7.85 empregos formais). 2) A elevação da competitividade, a Paraíba é o 16º Estado do Brasil e quinto do nordeste, conforme dados de 2012 da consultoria britânica EIU (The Economist Intelligence Unit), braço de pesquisa da revista Economist. 3) Nesta semana pré-natalina, por último, vieram a público dados do anuário Multi Cidades, demonstrando que, em 2011, João Pessoa registrou um crescimento dos investimentos na ordem de 24,1%, relativo ao ano anterior, tem o maior investimento per capita do nordeste, ocupando o quarto lugar entre as capitais da região em números absolutos.

Poderia multiplicar índices econômicos à mancheia, mas meu interesse é outro: embora partamos de uma base atrasada, de pobreza e desigualdade, e conste o problema grave da concentração do desenvolvimento na conurbação da grande João Pessoa (dos cinco municípios paraibanos que mais crescem, quatro são da grande João Pessoa), cruzando vários indicadores, a Paraíba figura entre um dos Estados que mais crescem no nordeste (oscilando entre a terceira e a quarta posição), a região que mais cresce no Brasil.

Aproveitamo-nos sem dúvida da proximidade das cadeias produtivas de Pernambuco (o Estado que mais cresce no Brasil). Contudo, há que se reconhecer um esforço, da parte do governo Ricardo Coutinho, em fomento do desenvolvimento, entre outras iniciativas estruturantes, a ativação das obras públicas de construção do programa de estradas. Pergunte-se no interior qual a “marca” do governo, e logo vem à mente das pessoas a construção de estradas, junto com as obras públicas de recursos hídricos, prefigurando um dos tripés do desenvolvimento (a infraestrutura). O outro componente do tripé, que mencionei indiretamente no parágrafo anterior, é o fomento da atividade econômica de investimento privado.

Desenvolvimento social não surge espontaneamente da elevação dos índices econômicos. É preciso dar um tratamento à parte, realizar transformações moleculares na base da pirâmide da estratificação social. Embora muita coisa estivesse sendo feito nessa área, em parceria com as ONGs e os movimentos sociais, além da ampliação dos programas específicos de idosos, crianças e adolescentes, etc., faltava ao governo RC complementar a ação e o discurso do desenvolvimento com medidas novas na esfera do desenvolvimento social. O ato de criar o Abono Natalino (conhecido como 13º do Bolsa-Família), abrangendo 503 mil famílias, inclui a Paraíba entre os Estados brasileiros que têm, em consonância com as políticas federais, uma política social de transferência de renda. Adota-se uma medida que mexe na base da pirâmide, os mais pobres. Completa-se o tripé gerando uma identidade (ou uma “marca” virtuosa), uma síntese de força estratégica e programática: investimentos privados, infraestrutura pública e combate à pobreza.

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