Antecipação de campanhas
Jaldes Reis de Meneses
Um dos dogmas mais repetidos do manual do colunismo político desprovido de criatividade, repetindo o discurso de políticos que se fingem de santos na esfera pública e são verdadeiros satãs no gabinete privado, é de que as “antecipações de campanha” prejudicam os governos e beneficiam as oposições. Falam como jogador de futebol que estão “focados” na gestão (entretanto, só pensam “naquilo”). Ao príncipe, as batatas machadianas de Brás Cubas.
Nitidamente, ao inverso do dogma, a antecipação da campanha presidencial de 2014, beneficia o PT, que já escolheu no gabinete de seus estrategistas o campo e o adversário que pretende enfrentar em 2013: de preferência, uma eleição de poucos candidatos (admite-se no máximo PSOL, PSTU.) e polarizada com o PSDB de Aécio Neves, reiterando a clivagem política brasileira presente desde 1994. Novamente, vai se tentar por em julgamento a malfadada “herança maldita” de FHC. Ao PT, portanto, interessa implodir tanto as iniciativas de criação do novo partido de Marina Silva (Rede Sustentabilidade) como a hipótese de o PSB lançar Eduardo Campos. Faz bem o PT em antecipar estrategicamente a campanha, ausente a candidatura de Marina e Eduardo no palanque de Dilma, não é difícil vislumbrar de antemão que a fatura está praticamente liquidada.
A única chance de haver segundo turno em 2014 consiste na armação de um quadro de três candidatos competitivos. Numa estratégia, devem-se observar quais são os pontos frágeis (sempre os há) do adversário. O PT, sem dúvida, cresceu no poder. Nem se trata do número de governos e prefeituras, mas do número imenso de alianças formais e informais, tanto políticas como ideológicas, que logrou consolidar.
O passar do tempo produz fissuras em qualquer fortaleza. A roda da política nunca deixa de girar, o paradoxo do conceito de hegemonia é que ele conduz a novas hegemonias. Embora incipientes, os projetos de candidatura tanto de Marina como Eduardo podem vir a significar possíveis fissuras no bloco de poder governante. Ambos podem significar, no começo, baixas discursivas, mas podem, a depender da conjuntura, adensar.
No caso de Eduardo Campos, embora ele pontue modestamente nas pesquisas, foi precisamente a votação no nordeste que garantiu a vitória a Lula em 2006 e Dilma em 2010. Um candidato de perspectiva competitiva no nordeste é tudo que o Palácio do Planalto abomina, ainda mais se 2013 for um ano de seca e a transposição do São Francisco for adiada para as calendas gregas.
Por outro lado, conforme demonstrado na eleição passada, o corte de Marina é de tipo genérico, mais classista que regional. Trata-se de imensas massas urbanas das capitais e grandes cidades insatisfeitas com a política institucional, dado mais relevante na Europa que no Brasil, contudo aqui também operante. A desvantagem estratégica de Marina é que na outra eleição ao menos ela tinha uma legenda estruturada e agora está partido com atraso do zero para construir alguma forma organizativa legal. Mas quem haverá de subestimar?
Comentários
Foi traído pelo teclado ou talvez pela riqueza do nosso idioma.
Excelente matéria, deixo meu abraço.
Foi traído pelo teclado ou quem sabe pela riqueza do nosso idioma.
Excelente artigo, deixo meu abraço.