As classes de Chauí

Jaldes Meneses

Circula no Youtube um vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=H1nZeCncZps)  no qual a filósofa petista Marilena Chauí desanca, entre apoplética e histérica, a chamada “classe média brasileira”, taxada por ela de “reacionária”, “preconceituosa” e “direitista”. A cena de ópera bufa ocorreu durante o debate de lançamento em São Paulo do livro “Lula e Dilma: 10 anos de governos pós-liberais no Brasil” (Ed. Boitempo, organização de Emir Sader), uma publicação de legítima propaganda petista com alguns artigos sofríveis e outros muitos bons.

 O inusitado é que logo após a encenação de Chauí (para todas as credenciais, uma professora de classe média), que grita para delírio da platéia a palavra de ordem “EU ODEIO A CLASSE MÉDIA”, um macunaímico Lula, dispõe do microfone e desautoriza o argumento de Chauí, falando que “eu passei a vida inteira querendo ser de classe média e me vem essa mulher [exatamente assim que ela foi tratada] e acaba com a classe média...” Lula tratou logo de desmoralizar a nova tentativa linha política estabanada. Ele quis dizer que o PT também disputa com outros agrupamentos políticos (o PSBB, Marina Silva, o PSOL, etc.) a classe média exorcizada pela filósofa. Para confirmar, basta examinar e estratificar os mapas eleitorais desde quando o PT disputa eleições no Brasil, o que significa dizer que uma boa parcela do eleitorado de Fernando Haddad em São Paulo, ou Luciano Cartaxo, em João Pessoa, é de classe média.

   Quando Chauí diz classe média – muito informada por uma disputa política que mais tem a ver com a realidade de São Paulo que do Brasil –, na verdade quer dizer PSDB, como se esse partido tivesse o monopólio de representação da classe. Pior ainda, a classe média descrita por Chauí mais parece a antiga pequena burguesia que compôs a base social do fascismo na Itália e do nazismo Alemanha. Erro elementar de análise sociológica, pois sabemos historicamente que a pequena burguesia do fascismo – e mesmo do integralismo brasileiro – era uma classe ligada à propriedade camponesa e o trabalho artesanal, formas sociais fadadas ao desaparecimento ou à irrelevância no capitalismo, enquanto as classes médias às qual Chauí destila o seu ódio são crias do trabalho assalariado qualificado, das carreiras públicas do Estado e das profissões liberais. Nos anos 50, o grande sociólogo norte-americano Wright Mills estudou a formação de novas classes médias urbanas nos EUA, detectando a formação dos “colarinhos brancos”, assalariados qualificados que trabalham em escritório. Antes de reacionária, esta classe foi fundamental na formação de uma sociedade civil ativa no Brasil, que entre outras proezas ajudou a derrotar a ditadura militar.   
  

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