Júlio Rafael
Jaldes
Reis de Meneses
Recebo com pesar a notícia da morte cerebral
em São Paulo de Júlio Rafael. Foi-se embora um amigo. Escrever, combinar
catarse e análise, sempre é bom para aliviar a emoção.
Vi
Júlio pela primeira vez em 1987 numa reunião do “Comitê contra os cinco anos de
Sarney” na OAB, recém-chegado da mesma São Paulo em que morreu, quase como um
enviado especial do diretório nacional do PT à Paraíba, a terra natal da qual
se ausentou por muitos anos. Desde então, sempre nos cruzamos em vitoriosas ou
malogradas jornadas políticas.
Na época, o PT da Paraíba, repleto
de sindicalistas e estudantes, muitas vezes sectários e despreparados, se
ressentia de quadros políticos que tivessem uma visão mais realista da
correlação de forças, uma compreensão mais abrangente e universal do país e da
Paraíba que superasse o corporativismo – a visão de que o partido era um aglomerado
de categorias profissionais e seu programa uma colagem de reivindicações
econômicas.
É
um engano dizer que foi um pragmático. Ao contrário, o papel de Júlio na
Paraíba assemelha-se ao dos profetas, aquele que fala antes, que anuncia
caminhos sem medir as adversidades. Um profeta da democracia, conceito de que
nunca abriu mão e era o ponto arquimédico, aquele ponto que movia o mundo, de suas
formulações generosas.
Assim
como um profeta, ele foi fundamental na superação do PT pré-histórico, heroico,
mas paradoxalmente incapaz de construir um caminho consistente de poder, porque
atado a preconceitos políticos que inviabilizavam uma política de hegemonia que
possibilitasse a formação de blocos e de alianças. Neste sentido, Júlio é um
vitorioso pelas ideias nas eleições de Lula, Dilma e Ricardo Coutinho, e mesmo
pelo avesso, na eleição de Luciano Cartaxo à Prefeitura de João Pessoa.
Pagou
caro pelo combate profético de reformismo prático contra os adversários retóricos de uma revolução que faltou ao encontro. Muitas vezes foi caluniado e discriminado. Depois
de serenadas as contendas, no entanto, os adversários assumiam as propostas do
velho profeta.
Sempre
lutou sem perder a ternura. Era um desses imprescindíveis do poema de Brecht.
Vai fazer muita falta à Paraíba.
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