Eduardo e Marina
Jaldes
Meneses
Não se fala em outra coisa no
arraial da política. O ex-presidente Lula disse que levou um murro no estomago.
O governador Tarso Genro, por sua vez, formulou a melhor síntese. Para o
governador gaúcho, caso aconteça nas eleições presidenciais do próximo ano uma
polarização inédita entre o candidato do PSB – que tanto pode ser Eduardo ou
Marina, isso ainda será decidido de fato no devido tempo no primeiro semestre
de 2014 – e a presidente Dilma, do PT, em vez do debate de campanha girar em
torno do legado da “era” Lula ou da “herança maldita” de FHC, necessariamente
será sobre o futuro do Brasil. Afinal, tanto Marina como Eduardo vieram da
costela do PT e do lulismo histórico, e sobre eles dificilmente cairão as acusações rotineiras
assacados contra o PSDB, de ser um partido que entregou o Brasil na bacia das
almas das privatizações das estatais.
No Brasil posterior às jornadas de
junho tudo pode acontecer. Dou um doce de coco a quem prever precisamente qual
o cenário das eleições presidenciais do próximo ano. Embora a tarefa da qual se
imbuíram Eduardo e Marina, de quebrar a polarização PT-PSDB, que vai completar
vinte anos, seja de difícil execução, ela se tornará mais exitosa tanto mais a
coligação encare o seguinte desafio programático:
Se almejar realmente a glória, a
coligação deverá exibir um discurso claro de insatisfação e mobilização popular
contra o atual sistema político brasileiro, que o cientista político Marcos
Nobre tem chamado de “peemedebismo”. Ou seja, o sistema promíscuo de trocas
entre os parlamentares e o executivo, privatizando o Estado através do
loteamento de cargos e regalias altamente corruptas.
Quem se der à pachorra de examinar
a história do Brasil deve se lembrar de que pelo menostrês campanhas
presidenciais adquiriram este viés de mobilização da sociedade civil contra o
Estado, em torno de um programa de reformas políticas vinda de baixo para cima:
a campanha civilista de Ruy Barbosa (1910, ainda na República Velha), a aliança
liberal de Getúlio Vargas (1929) e a Frente Brasil Popular de Lula (1989).
No plano da teoria social, a
literatura de clássicos sobre a formação do Brasil, a exemplo de “Raízes do
Brasil”, de Sérgio Buarque, e “Os donos do poder” de Raymundo Faoro, traduzem
intelectualmente este mesmo espírito de insatisfação da sociedade civil contra
o patrimonialismo, tanto o antigo das velhas oligarquias, quanto o novo,
oriundo das estruturas corruptas do capitalismo de Estado brasileiro. Aos que
procuram confrontar este programa a um programa classista, de extração
marxista, nada mais enganoso, pois ambos se complementam. Se houver
contradição, não é com o marxismo, mas com o peemedebismo.
Quando Lula chegou ao poder em
2002, motivou esperanças de que o peemedebismo seria varrido do poder, mas nada
aconteceu, de maneira que o discurso civilista mantém-se mais vivo que nunca.
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