Calendário 2014

Jaldes Meneses

Parece que no mesmo ritmo em que a cidade se ilumina e as pessoas se confraternizam a política começa a sair de cena. Realmente, fecha-se o ciclo de acontecimentos relevantes deste formidável ano de 2013 e já é possível prever as perspectivas que se apresentam para o calendário do ano vindouro. Gramsci, um autor de minha predileção, já dizia que, embora sob o risco de errar, é fundamental prever em política, uma atividade fundamentalmente prática, por isso de conteúdo estratégico, que ele resumia na frase “só prevê quem opera”. Todos os que fazem política preveem em tempo integral.

O grande evento de 2013 foram as revoltas de junho. Elas puseram a nu o caos urbano em que se transformou a vida nas cidades brasileiras, esclarecendo que de longe o problema-resumo nacional é a reforma urbana. O pano de fundo deste caos é o modelo de desenvolvimento, assentado no automóvel e na superexploração do trabalho dos mais pobres. O recente acidente que aconteceu nas obras do Estádio do Corinthians, vitimando dois operários, que tanto chamou a atenção da imprensa internacional, funciona como um emblema: esses canteiros de obras em estádios e aeroportos empregam muita gente, porém em trabalho sazonal de boias-frias urbanos, corriqueiros na construção civil.

A partir da investigação deste pano de fundo estrutural pode-se prever tempo quente em 2014, ainda mais em se tratando em ano de eleições gerais. Será um ano marcado pela política.

As pesquisas de final de ano indicam uma relativa tranquilidade na postulação de reeleição da presidente Dilma Rousseff, com cenários de eleição em até em primeiro turno, caso mantidos Aécio e Eduardo e persistindo Marina e Serra no banco de reservas.. Após a surpresa de junho – que o mundo da política institucional não esperava –, o executivo federal foi recuperando posições, revelando méritos do governo em conseguir pilotar o leme da política em momentos de crise, a despeito de barbeiragens na condução da política macroeconômica por Guido Mantega e do insucesso de algumas administrações municipais (Haddad, São Paulo) e estaduais (Tarso Genro, Rio Grande do Sul).

Até chegar à data fatídica das eleições de outubro, há que se atravessar uma perigosa zona de turbulências, após o carnaval e certamente invadindo o calendário eleitoral. O grande dado contraditório das pesquisas, que corroboram o que se verifica empiricamente nas ruas – o favoritismo de Dilma –, é que os eleitores aspiram uma mudança. Parece votar-se com o governo à falta de uma melhor opção, significando que há um espaço vazio a ser ocupado não se sabe por quem. Ou por ninguém.

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