Ricardo e Cássio


Jaldes Meneses

Indo direto ao ponto: inexistem motivações programáticas ou mesmo de cálculo pragmático racional de perdas e ganhos imediatos que justifiquem o rompimento de uma aliança eleitoral que deu certo entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima.
Do ponto de vista programático, a movimentação do PSB ao lançar a candidatura presidencial de Eduardo Campos, empurrou definitivamente este partido para o campo da oposição ao governo Dilma. Se quiser alguma competitividade no objetivo de levar a eleição presidencial a um segundo turno, PSB e PSDB estão praticamente condenados a compor, deste já, além de um discurso político mais orgânico e convincente às massas, palanques unitários das duas candidaturas presidenciais (Eduardo e Aécio) na maioria dos estados, principalmente em São Paulo, Minas, Pernambuco e também Paraíba. A fragmentação dos palanques estaduais somente facilita o jogo desigual do poderoso bloco lulista no poder, posto que dificulte ou inviabiliza a necessária aliança de segundo turno.
Ao concertar uma aliança incerta em 2010, Cássio e Ricardo cresceram politicamente. Tornaram-se indiscutivelmente as duas principais lideranças políticas do Estado, revertendo, por um lado, o cenário anterior de cassação e tentativa de isolamento do senador, da parte do PMDB e PT, e de outro lado, compensava a falta de bases interioranas, à época, do governador. Por isso, é uma especulação bizantina se Cássio ou Ricardo ganharam mais ou menos com a aliança: o fato concreto é que a aliança produziu potência e sinergia, que desta feita pode se espraiar, ao contrário de 2010, quando a potência ficou restrita à chapa majoritária (Ricardo e Cássio), pela eleição de poderosas bancadas governistas de deputados estaduais e federais, com efeitos espraiados até as eleições de 2018.
 Exatamente por isso, por ocuparem atualmente um segundo pelotão eleitoral bem circunscrito (falo baseado na leitura de pesquisas e não simplesmente em desejos subjetivos), as forças de oposição na Paraíba (PMDB e Blocão) sabem que a chance de se tornarem mais competitivas é apostando na divisão do primeiro pelotão Cássio-Ricardo. Embora tenha feito durante três anos uma oposição sem tréguas ao governo do Estado e faça muita zoada, no fundo, a oposição se fragilizou, principalmente o maior partido, o PMDB. Basta ver as saídas contínuas de prefeitos, Wilson Santiago e Benjamin Maranhão, assumindo uma posição de apoio ao governo ou independência.
À maneira de Vladimir e Estragon, os dois personagens chaplinianos da peça de teatro, antes vanguardista e hoje clássica, de Samuel Beckett, os oposicionistas estão “Esperando Godot”, numa estratégia totalmente defensiva. Mas, pensando bem, diante da potência eleitoral do primeiro pelotão, poderia haver outra estratégia senão dividir as fileiras do adversário?
Na peça, Godot não apareceu. Mas vai que Godot apareça na Paraíba, o que isto significaria? Sem dúvida, um cenário de segundo turno. Acaso haja um rompimento da aliança e o eventual lançamento de Cássio a governador, o que antes era uma fatura praticamente liquidada adquire um grau elevado de indeterminação, com tendência a uma multiplicidade de candidaturas competitivas – conquanto Ricardo e Cássio continuem os mais fortes –, à diferença que Ricardo tem as vantagens comparativas de domínio da máquina estatal de um governo bem avaliado.


[1] Professor Associado do Departamento de História da UFPB. e-mail: jaldesm@uol.com.br.

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