Às vésperas do golpe

Jaldes Meneses

No dia 30 de março de 1964, a mente atribulada do Presidente João Goulart encontrou um suave momento de pacificação ao saber de uma pesquisa do Ibope que dava uma apertada margem de favoritismo nas eleições presidenciais de 1965, contra candidatos fortíssimos como Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e o azarão Adhemar de Barros.
O PTB estava crescendo eleitoralmente, já sendo isoladamente a primeira bancada no congresso nacional, ultrapassando levemente o PSD. O problema que se apresentava ao projeto da reeleição era o interdito da constituição, se não bastasse a campanha do cunhado Brizola, outro impedido e também candidato, para ser ele, o candidato do PTB. Realmente, era necessário mudar a constituição, através de mais um prebliscito, a exemplo daquele que em janeiro do ano passado consagrou, com o apoio de todo mundo, desde Juscelino até Lacerda, a vitória do presidencialismo.
Muito difícil, mas havia um alento, além da pesquisa: Prestes e Giocondo, estiveram a poucos dias nas Laranjeiras, e mesmo um tanto contrafeitos, disseram que ficavam com o Presidende. O importante era fazer as reformas de base. As chuvas das águas de março chegavam junto com a semana santa, tanto que o General Assis Brasil, incumbido de acionar o esquema militar acaso houvesse alguma tentativa de golpe da direita, imediatamente, depois de aconselhar a ida do presidente à Assembleia de sargentos sublevados no Automóvel Clube, arrumou as malas, indo passar alguns dias  de férias no interior, pescando no sul, que ninguém é de ferro.   
 Nas ruas, a tensão social era inautida, mesmo em termos de padrões brasileiros, que desde o suicídio de Getúlio, dez anos passados, passou a conviver com um estado de radicalizacão política permanente. Imediatamente após o comício pelas reformas da Central do Brasil, que reuniu 200 mil pessoas, não tardou resposta: os apartamentos de luxo da zona sul acenderam velas, andar a andar, em repúdio. No apartamento da poeta Elizabeth Bishop, entre milhares, erguia-se um vela acesa silenciosa e flamenjante luz, a Deus ou Diabo. Estava dada a senha. No dia 19, 500 mil pessoas foram à Praça da Sé, apoiados pela CNBB e OAB. Nos confins de Minas, o General Mourão Filho antecipou-se ao planejamento do golpe e pôs seus recrutas a marchar. O Brasil nunca mais seria o mesmo.     

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