AINDA 1964


Jaldes Meneses

Detesto ser monotemático. Esta é a terceira coluna seguida que dedico ao golpe de 1964. Abunda motivos, isto porque o balanço sobre a tragédia de 1964 não acabou, este acontecimento continua significando uma “ferida” ainda não estancada que arde em céu aberto. Exatamente por isso, depois de 50 anos, o tema desperta paixões.
Exumo esses acontecimentos por que continuam vivos. Mergulhei no mês de março na leitura obsessiva de praticamente tudo que foi publicado na imprensa e no mercado editorial a respeito do golpe de 1964. Há um pouco de tudo, desde o extraordinário e polêmico livro de Daniel Aarão Reis, “Ditadura e democracia no Brasil” ao sofrível caça-níquel “Ditadura à brasileira”, de Marco Antonio Villa.
Com o passar inexorável do tempo vão mudando as percepções, e nestes 2014 parece que finalmente as vozes ainda recalcitrantes nos quartéis silenciaram. À exceção dos gatos pingados da paródica tentativa de reviver as “Marchas da Família”, a narrativa de direita foi derrotada. Relativo à memória, a narrativa que vem se tornando majoritária sem dúvida é a dos derrotados em 64.  Finalmente, deixamos de escutar as comemorações da caserna, através das infames ordens do dia de louvação, pronunciada pelos comandantes militares.
Por outro lado mais além da memória, não se pode perder de vista o debate estratégico sobre 1964. A esquerda brasileira errou muito naquele tempo. E quando se fala em esquerda em 64, necessariamente tem-se de se falar em PCB.
O acerto estratégico da linha política do PCB, foi o de ter proposto e ido à campo na  campanha das “reformas de base”. É muito, principalmente em se constatando que o PCdoB, por exemplo, era contra as reformas, e já antes de 1964, flertava a luta armada. Os documentos estão em arquivo a quem se dispor a ler.
No encaminhamento da linha em defesa das reformas, se formaram dois grupos no PCB, que vão resultar nos rachas do partido depois de 64, o de Luiz Carlos Prestes e o de Carlos Marighella, ambos equivocados. Prestes se aproximava da pretensão aventureira de Jango em ser candidato à reeleição ao arrepio da constituição e Marighella se aproximava de Brizola, pensando que a esquerda estava surfando numa onda ofensiva, quando, ao contrário, a defesa da legalidade e da constituição de 1946 deveria ter sido, naquele momento, o eixo da atuação da esquerda. O falecido professor José Chasin, quando na UFPB, costumava dizer que de oportunidades perdidas é feita a história da esquerda brasileira.
1964, a maior de nossas oportunidades perdidas e espectro renitente da sociedade brasileira.

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