Sinal Amarelo
Jaldes
Meneses
Passados 12 anos de comando no
executivo federal começa a ficar claro uma fadiga do PT no poder. Antes de ser
um mero problema eleitoral, trata-se de uma questão programática. O partido das
lutas sociais e da reinvenção democrática do orçamento participativo
exauriu-se. Parece que as esperanças emancipacionistas do passado se dissiparam
e só restou ao partido a gerência do corrupto sistema de presidencialismo de coalizão
brasileiro, de cujo condomínio de trocas com o PMDB, bem como o poder real
adquirido pelo séquito caseiro de “operadores” ao estilo dos Andrés Vargas e
doleiros generosos, é emblemático.
Deixo um pouco de lado os aspectos
programáticos da fadiga do PT e, doravante, vou-me ater aos aspectos da
correlação de forças eleitoral. A popularidade de Dilma caiu nas mais recentes
pesquisas. A princípio, a queda poderia ser encarada como simples marola, pois
tanto Fernando Henrique em 1998, como Lula em 2006, ambos em campanha de
reeleição, também amargaram, cada um a seu modo (FHC, crise econômica
internacional russa e nos países asiáticos; Lula, mensalão), uma queda nos
meses de entressafra – entre março e junho –, quando aumentam as greves e
questionamentos, mas logo recuperaram a popularidade no período de campanha e
venceram as eleições presidenciais. Se fato idêntico acontecerá com Dilma, não
se sabe. Porém, ela terá de passar pela prova de fogo imponderável da Copa do
Mundo, ironicamente trazido por Lula na esperança de se tornar uma consagração
do ciclo petista de poder.
Além do imponderável da Copa, outro
elemento interveniente – este pouco comentado pelos analistas –, os governos
municipais e estaduais do PT amargam um momento de falta de credibilidade. Pergunte
ao leitor de São Paulo o que ele acha de Fernando Haddad; o de Brasília, de
Agnelo Queiroz; o da Bahia de Jaques Wagner... e assim por diante. Embora a
intenção de voto do eleitor esteja longe de ser casada, por outro lado,
governos bem avaliados nos estados e maiores municípios ajudam a criam, em
função das dobradinhas, uma onda ascensional de baixo para cima, tanto quando,
no sentido inverso, a crescer feito rabo de cavalo.
Outro fato inconteste, os votos
perdidos de Dilma não migraram diretamente para os dois candidatos de oposição,
Aécio e Eduardo, que não se credenciaram, até o momento, como alternativa
eleitoral. Talvez consigam crescer durante o período da campanha eleitoral
propriamente dita.
Imediatamente
à posse de Dilma, escrevi um primeiro artigo de balanço de ministério no qual
afirmei que ela corria o perigo de se transformar em um general Dutra de saias,
que saiu da presidência e se recolheu ao ostracismo político, embora tenha
conspirado, em lance grotesco, para ser presidente militar no lugar de Castello
Branco. No final do ano, após haver trocado alguns ministros acusados de
corrupção, pensei haver me enganado. Hoje, a minha analogia pode começar a
estar se confirmando. A propósito, para falar a linguagem instrumental dos marqueteiros:
qual foi mesmo o aporte original de Dilma, em ternos de conceito, marca e
imagem, fixado na população, em relação aos dois governos Lula, que sem dúvida
– deixando de lado análises valorativas e ideológicas – conseguiu combinar
esses três atributos?
Por
enquanto, o eleitor virou expectador. Acompanha a evolução do processo e
somente mais adiante vai definir o voto. O perigo quando se oferece mais do
mesmo, é possibilitar a passagem a novas alternativas eleitorais, em vez de retornar
a antigas fidelidades.
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