Jaldes Meneses
No dia 25
de junho de 1984, há 30 anos passados, morria em Paris, de um mal recente
inusitado chamado AIDS, Michael Foucault.
Trata-se de
um dos maiores filósofos do século XX, que soube interpretar o seu tempo,
especialmente o espírito libertário dos anos 60, porém foi mais além, projetou
tendências de futuro, exatamente porque seus escritos de linguagem áspera e
nervosa, afiado como o estilete de um marginal, descortinou uma nova senda
tanto ao conhecimento como ao comportamento. Paradoxalmente, Foucault, o
filósofo que decretou a morte do autor e a falência da biografia como gênero
literário, nunca é exorbitante lembrar, foi também um grande escritor,
proprietário de um estilo inconfundível.
Depois dele
e outros seletos pensadores (cito Marx, Nietzsche e Gramsci, que lhe antecederam
na crítica aos canones do conhecimento científico estabelecido), a
relação da filosofia com as ciências sociais jamais seria a mesma. Igualmente,
muitas das causas da nova sexualidade, os movimentos gay, antimanicomial
e antiprisional, que passaram a postular uma noção descentrada do poder,
renovando as teorias políticas anarquistas e autonomistas. Por trás de cada uma
dessas marchas das vadias de hoje pode-se enxergar a sombra da camisa de gola
olímpica e a cabeça careca de Foucault, consolidando uma maneira de abordar a
política que não realmente havia até meados do século, circunscrita que era,
até então, a pequenos grupos vanguardistas.
Tenho nele
um de meus contraditores favoritos. Gramsci costumava dizer que na luta
política devemos ir direto ao ponto frágil do antagonista, enquanto na luta
ideológica devemos atravessar por dentro o pensamento dos melhores adversários.
Tenho sérias reticências a seu conceito relativista e aristocrático de verdade
e jamais concordei com a sua crítica, aliás, imprecisa factualmente, ao
iluminismo, mas lhe reconheço na destreza do pensamento a maestria dos sofistas
gregos, aos quais nunca negou simpatia.
Às vezes, nos debates universitários de temas atuais, me vejo pensando – “como Foucault pensaria esse tema?” Como abordaria a “primavera árabe” e os “acontecimentos de junho” brasileiro? Faria autocrítica da evolução do regime teocrático iraniano, que apoiou no começo? Haverá maior elogio à presença de uma ausência? Enfim, Foucault já é um clássico, caso concordarmos que os Beatles, Bob Dylan e os Rolling Stones também já são clássicos e até compõem um cânone.
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