Os erros do Vox Populi


Jaldes Meneses

Fraquinho, o artigo de Marcos Coimbra (“Os adversários de Dilma”), publicado na revista CartaCapital de hoje (10/05). Coimbra ver a ser o dono do instituto de pesquisas Vox Populi, contratado oficial do PT em encomenda de pesquisas de opinião. Se Dilma estiver na dependência desses conselheiros mixurucas do príncipe para sair de seu inferno astral, ela está frita. Tampouco resolve mais ao PT o recurso mágico de comparação entre as gestões de Lula e FHC, ou a ameaça terrorista e paranóica da invasão bárbara da “direita”.
Melhor que se jactar de uma vitória cada vez mais duvidosa seria fazer política de verdade e debulhar em detalhe o programa neoliberal de Aécio Neves, traduzindo para a população as propostas de arrocho salarial gestadas nos laboratórios da assessoria econômica tucana. Lembrar, enfim, que se o eleitorado vem revelando insistentemente desejo de mudanças, as ideias de aumento nos investimentos em saúde e educação não combinam com o aperto fiscal tucano. Não sei quem soprou no ouvido do PT que corrupção não interessa ao povão. Neste momento, exatamente por não responder, de maneira convincente, às denúncias de “malfeitos” (a expressão é de Dilma) de 12 anos de poder federal – as diatribes contra Joaquim Barbosa apenas revelam um sinal indisfarçável de impotência –, põe-se o PT na maior defensiva política de sua história. Reconheço que nunca é fácil corrigir rumos e táticas, remover a poeira do coro do contentes.
O articulista recorda que “é sempre bom lembrar que, com números de popularidade e intenção semelhante aos de Dilma hoje, FHC reelegeu-se em 1998”. Meia verdade, portanto mentira por inteiro, a memória seletiva de Coimbra se esquece que a dianteira de FHC em 96 deu-se em virtude da crise econômica russa e asiática, da exploração do medo que Lula e o PT desertavam no senso comum do eleitorado. Não houvesse a crise providencial, talvez Lula tivesse emparedado FHC. No mesmo parágrafo, Coimbra afirma que, naquela época, “o candidato “era Lula e não algum candidato pouco conhecido e com imagem problemática”. Outra meia verdade. O primo de Collor, neste caso, projeta a imagem construída por Lula depois que exerceu a presidência para 1998, finais do século, momento áureo dos índices de rejeição de Lula. Ou não é fato que FHC ganhou duas eleições de Lula em primeiro turno?
Last but not least, certamente escrito antes da pesquisa do DataFolha publicada ontem (sexta-feira, 10 de maio), Coimbra deixa de detectar a tendência de crescimento dos candidatos de oposicão, pela primeira superando (39 versus 38%) os índices de votos de sua contratante. No trabalho de um marqueteiro (não sou marqueiteiro), errar na prospecção de tendências trata-se de erro grave, muitas vezes sinal de incompetência. Sempre sobra a outra alternativa – a cínica – alerta-se para dentro, e escreve diferente para fora, como deve ter sido. O problema é que a credibilidade pode esborar-se junto às opiniões estabanadas.       

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vinícius de Moraes: meu tempo é quando

Colômbia: 100 anos de solidão política

Gramsci: A Filosofia Política do Conceito de Relações de Força (trechos)